Saúde: Estudo avalia saúde bucal do idoso

Cirurgião-dentista de Botucatu aponta problemas no atendimento

ter, 13/06/2006 - 18h06 | Do Portal do Governo

A saúde bucal do idoso brasileiro não anda nada bem. Na população acima de 60 anos, o número médio de dentes cariados, perdidos e obturados varia de 25 a 31, de acordo com o índice CPO-D, que mede a saúde da boca pela ausência de dentes e pelos que apresentam problemas. O dado consta na revisão do quadro epidemiológico e de acesso aos serviços odontológicos deste grupo populacional, realizado pelo cirurgião-dentista Rafael da Silveira Moreira, da Faculdade de Medicina (FM), campus de Botucatu.

Segundo Moreira, o índice demonstra que os indivíduos desse grupo etário possuem, em média, de 1 a 7 dentes livres de cárie e de suas conseqüências. “O mais grave, relatado na maioria dos estudos, é que mais de 60% deles não possuem dentes”, destaca.

O estudo de Moreira, que reúne em um só trabalho a análise de 18 artigos sobre o assunto publicados em periódicos nacionais, além de apontar as condições precárias, também contribui para ampliar a discussão a partir de uma situação concreta. “Esse contingente de desdentados reflete o descaso com que as autoridades tratam os que dependem do setor público”, diz o cirurgião-dentista do Departamento de Saúde Pública da FM.

Além das cáries, as doenças periodontais, como a gengivite e a periodontite, também são importantes problemas nessa população. Essas doenças são inflamações provocadas por acúmulo de bactérias na região oral, que, sem tratamento, comprometem gengivas e ossos, ou seja, as estruturas que envolvem e sustentem os dentes. Ao longo do tempo essas doenças evoluem para a perda.

Para Moreira, a situação não poderia ser diferente, tendo em vista que, segundo o estudo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 1998), do IBGE, 19% dos brasileiros nunca foram ao dentista. Dos atendimentos registrados, 69% ocorreram em consultórios particulares, sendo 47% das consultas pagas pelo cliente.

No estudo, o cirurgião-dentista também discute o modelo de atenção odontológica empregado no passado. “Em muitos casos, dentes que poderiam ser salvos são retirados, método que contribui para o aumento de desdentados”, comenta.

Problema cultural 

Dados do trabalho apontam que a assistência odontológica à população nunca foi uma prioridade do Estado. “Na realidade, existe no País uma cultura, segundo a qual o cuidado odontológico é restrito à elite que pode arcar com elevados gastos”, diz.

No contexto deste estudo, dois fatores determinam a precariedade em que se encontra a boca do idoso. De um lado, a ausência de escolaridade, a baixa renda e a pouca oferta de serviços públicos. Com exceção dos escolares, que, historicamente, têm prioridade nas consultas, a revisão aponta que os adultos, quando buscam atendimento, permanecem longas horas em filas até serem atendidos.

Na outra ponta, a escassez das fontes de financiamento para pesquisas na área de odontologia social, quando se levam em conta os apoios prioritários dos estudos de materiais, de equipamentos odontológicos ou de técnicas de procedimentos.

Para Moreira, esta visão mercantilista da odontologia impede que haja uma prática mais efetiva de atenção coletiva, que proporciona ganho em escala se comparada com as ações individuais. “A fluoretação das águas de abastecimento público como forma de prevenir a cárie é um procedimento bem mais barato que o custo de uma restauração”, compara.

Para a elaboração deste trabalho de revisão, Moreira contou com a colaboração da médica Tânia Ruiz e da cirurgiã-dentista Lucélia Silva Nico, ambas do Departamento de Saúde Pública da FM, que desenvolvem estudos na linha de pesquisa Epidemiologia da Terceira Idade; e da cirurgiã-dentista Nilce Emy Tomita, da Faculdade de Odontologia, da USP, campus de Bauru.

  Genira Chagas

da Unesp