Saúde: Esteróide anabolizante prejudica o coração

Pesquisa foi realizada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp

ter, 20/06/2006 - 19h07 | Do Portal do Governo

Já é conhecido que o uso indiscriminado e em doses altas de esteróides anabólicos com a finalidade de aumento da massa muscular pode causar vários efeitos colaterais, como por exemplo, tumor de fígado, de próstata, alterações no comportamento, coagulação sanguínea e problemas cardiovasculares. Entretanto, ainda não está esclarecido como os anabolizantes causam alterações cardíacas. Pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp mostrou que a utilização de anabolizantes em altas doses acentua o aumento do coração (hipertrofia causada pelo treinamento físico), e, que esta hipertrofia está associada a um menor débito cardíaco – o coração bombeia menos sangue em cada contração. Isso porque o indivíduo apresenta uma diminuição das cavidades cardíacas (ventrículo), o que os pesquisadores chamam de hipertrofia concêntrica. Diferente do que a maioria das pessoas pensa, o anabolizante não causa somente aumento do músculo, mas também de fibras de colágeno, tecido conjuntivo. Essas alterações podem estar relacionadas a casos de parada cardíaca e morte súbita em atletas usuários de anabolizantes, explica a professora Fernanda Klein Marcondes, do Departamento de Ciências Fisiológicas e coordenadora do projeto.

O estudo foi desenvolvido em ratos num período de quatro anos, teve apoio da Fapesp, e contou com participação de vários profissionais da área biomédica, entre elas biólogos, fisioterapeutas, médicos e farmacêuticos de diferentes instituições. Esse resultado é a soma de uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado e duas iniciações científicas. Essa pesquisa surgiu, revela Fernanda, com o objetivo de tentar entender melhor como os esteróides atuam no tecido cardíaco fazendo com que haja problemas que levam eventualmente à morte do indivíduo, além de complementar o que já se sabe sobre o assunto. “Geralmente, em estudos realizados com essa finalidade em seres humanos não há controle real sobre o tipo e as doses de esteróides consumidos. Já com o animal de laboratório temos um rígido controle das variáveis”, esclarece.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados ratos com 2 meses de idade, que foram submetidos a treinamento físico de alta intensidade, e tratados com doses 100 vezes maiores do que doses terapêuticas de esteróides anabolizante nandrolona – está dose equivale ao utilizado por atletas e freqüentadores de academias. Para o treinamento, os animais foram expostos individualmente a sessões de saltos em um cilindro de PVC, contendo água à 30ºC a uma profundidade de 38 centímetros. Após um período inicial de adaptação, os animais foram submetidos a 30 sessões de saltos na água com sobrecarga de peso, 5 dias por semana. Este treinamento visa “simular” os protocolos de treinamento de força e alta intensidade, geralmente praticados por usuários de anabolizantes.

A fisioterapeuta Tatiana de Sousa da Cunha e a farmacêutica Ana Paula Tanno, que desenvolveram dissertação de mestrado e tese de doutorado, respectivamente, relataram que o esteróide em altas doses promove prejuízo da função vascular, o que está relacionado à diminuição do nível do colesterol de alta densidade o (HDL “colesterol bom”) e aumento do colesterol de baixa densidade (LDL “colesterol ruim”). Este último se acumula nos vasos sanguíneos favorecendo a formação de placas de gordura e o desenvolvimento de aterosclerose e hipertensão, avaliam.

Parte desta pesquisa foi apresentada no Congresso de Biologia Experimental em São Francisco, Estados Unidos, em maio de 2006 e outra parte será apresentada durante o 4.º Congresso Latino Americano de Educação Física em junho. Alguns destes resultados também já foram publicados no periódico Hypertension, uma revista de alto impacto na área de pesquisa de sistema cardiovascular. A professora Fernanda revela que dará continuidade aos estudos para saber se a interrupção no uso de anabolizante cancela estes efeitos.

Participaram da pesquisa Gerson Jonathan Rodrigues e Fernanda Cristina Linarelo Giordano e os pesquisadores colaboradores: Profa. Maria José Costa Sampaio Moura, PUC-Campinas; Profa. Celene Fernandes Bernardes, PUC-Campinas; Profa. Maria Claudia Irigoyen, USP, São Paulo – SP; Doutorando Kaleizu Teodoro Rosa, USP, São Paulo – SP; Prof. Pedro Duarte Novaes, FOP/UNICAMP.

César Maia

Da Unicamp