Projeto da USP atrai alunas para a divulgação das Ciências Exatas

Iniciativa voltada para as jovens estudantes da rede pública do Estado é desenvolvida na Escola de Engenharia de São Carlos

qua, 29/01/2020 - 12h33 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Henrique Fontes/SEL-USP

Nos cursos de engenharia, em geral, os homens são maioria entre os alunos. Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, no primeiro semestre de 2019, a Escola Politécnica (Poli) registrou 4.044 estudantes homens e 946 mulheres. No segundo semestre do mesmo ano, a Escola de Engenharia de Lorena (EEL) contava com 1.156 estudantes homens e 817 mulheres. Com o objetivo de equilibrar essa proporção desigual, o projeto Elas na Engenharia estimula jovens a conhecer esse campo de atuação.

A iniciativa é promovida pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), unidade com proporção de alunos de 2.318 homens para 551 mulheres no ano passado. Com uma aula por semana, meninas da rede pública aprendem computação por meio do desenvolvimento de aplicativos; mecânica, com foco na elaboração de objetos em três dimensões; e eletrônica, área em que as participantes recebem orientações sobre como criar um circuito eletrônico.

Pesquisadora do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, Raquel Urano é idealizadora do projeto e explica que a ideia surgiu de conversas com alunas do ensino médio. “A maioria tem dificuldade e outras falavam que não sabiam se gostavam. Talvez não tenha sido apresentado para a realidade delas, sobre como poderiam aplicar no cotidiano”, explica ao Jornal da USP.

Aprendizado

Na primeira turma do Elas na Engenharia, foram selecionadas 30 alunas do primeiro e do segundo ano do ensino médio das escolas estaduais Dr. Álvaro Guião e Prof. José Juliano Neto, ambas de São Carlos. Letícia de Oliveira foi uma delas. “O que eu mais gostei até agora foi da aula de eletrônica, que estamos vendo sobre os íons, todos os tipos de energia, como conseguir fazer uma transferência com as baterias”, revela ao Jornal da USP.

A importância do projeto, para ela, está especialmente no combate à desigualdade de gênero. “O Brasil é um país que tem muito preconceito. Em algumas áreas, falam que as mulheres não podem trabalhar e, geralmente, nessa área de engenharia, nunca víamos muitas mulheres. Acho bem importante as mulheres se aproximando cada vez mais”, completa.

Para a estudante Isabela Guedes, as engenharias devem ser apresentadas às mulheres já na infância, tal como é para muitos meninos. “Sempre é um fogãozinho, uma panelinha, e os meninos sempre ganham um carrinho. Tem aqueles de montar, que vêm até com uma ‘ferramentinha’. E quando a menina fala: ‘que que é isso?’, muitas vezes, os pais afastam isso delas, como se fosse uma coisa de menino”, avalia ao Jornal da USP.

Após aprender sobre conceitos das três dimensões e o que é um circuito, Ester de Souza, outra participante da iniciativa, ressalta estar gostando da experiência. “É um projeto que eu nunca fiz, que nunca achei que iria fazer e acho que agora estou me interessando”, revela ao Jornal da USP.

Integração

Além da engenharia, a ação estimula as alunas a integrar a universidade. Por meio das aulas, elas podem explorar a infraestrutura e o ambiente da USP, utilizando laboratórios, participando de atividades extracurriculares, conversando com mulheres que atuam e estudam na área das Exatas.

“Com o projeto, buscamos divulgar a universidade e o uso do espaço público. Explicamos que elas podem, por exemplo, usar a biblioteca, ler os livros disponíveis, ter esse acesso”, ressalta Raquel Urano.

A previsão é que a segunda edição do projeto comece em agosto. Segundo a pesquisadora, o sucesso entre as alunas foi tanto que nas atuais escolas participantes há uma lista de espera para a próxima seleção.

O Elas na Engenharia é uma parceria entre professoras, funcionárias e pesquisadoras da EESC. O projeto foi contemplado no 4º edital Santander/USP/Fusp de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP. A atividade conta com o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC).