Programa do Governo garante diploma superior a professores da rede pública

Mais de 2 mil educadores do ensino infantil e fundamental se formam pela USP E PUC em 2008

seg, 21/05/2007 - 10h31 | Do Portal do Governo

Retomar os estudos e obter diploma de nível superior, em dois anos, é um sonho que poderá se tornar realidade para 2,1 mil professores de 22 municípios da rede pública de ensino do Estado de São Paulo. Esses professores participam do Programa de Educação Continuada (PEC), iniciativa da Secretaria Estadual da Educação em parceria com a USP e com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. O curso teve início em abril de 2006 e deve terminar em abril do ano que vem. “Sempre quis estudar, mas não tinha condições. “Trabalho com crianças desde os 16 anos e só terminei o ensino médio em 1994. Agora, posso conseguir um diploma da Universidade de São Paulo, o que é um sonho para mim. O curso é difícil e puxado, mas está abrindo minha mente e estou vendo a realidade com outros olhos. Estou maravilhada!”, diz Maria das Dores da Silva Marcondes, professora de Centro de Educação Infantil (CEI) de Itapecerica da Serra, uma das beneficiadas com o programa.

Na USP, estudam 1,1 mil professores que lecionam nas instituições de ensino das prefeituras de São Paulo, Itapecerica da Serra, Taboão da Serra, Mogi Mirim, Cabreúva e Catanduva. Quem faz o curso na USP não paga nada. No caso dos que estudam na PUC, os municípios custeiam, mas, como nem todos têm recursos para cobrir integralmente os gastos, os professores podem desembolsar uma parte.

De todo modo, o valor da mensalidade do PEC é bem inferior ao cobrado nas instituições privadas. O PEC foi criado em 2001 para atender à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que prevê a formação em nível superior (licenciatura plena) para que os professores da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental possam exercer o magistério.

Maria das Dores é aluna do PEC-USP do Pólo do Butantã. Ao todo são 12 pólos, com 27 turmas. Em cada uma delas há um tutor (universitário com experiência em formação de professor) e um orientador (acadêmico com título de doutorado, sendo boa parte da USP). Há ainda 12 assistentes que ajudam nos trabalhos on-line (Learning Space). Caroline Raquel de Souza, auxiliar administrativa do PEC, é uma das integrantes que ajudam os professores nas tarefas eletrônicas. Diz que as dúvidas são variadas e a qualidade do material é bem diversificada.

Melhoria no desempenho

Participam do programa professores do ensino infantil e das séries iniciais do ensino fundamental (1a a 4a séries) que estejam no exercício da profissão. O PEC concede diploma em Licenciatura Plena em Educação Infantil e Licenciatura Plena para as séries iniciais do ensino fundamental. Entretanto, conseguir um diploma emitido pela USP ou pela PUC em dois anos exige esforço e dedicação. Os professores estudam de segunda a sexta-feira, das 19 às 23 horas, e aos sábados, das 9 às 13 horas. Um sábado por mês, o horário se estende até às 18 horas. A jornada do curso é de 3,3 mil horas/aulas.

“E isso tudo depois de um dia inteiro lecionando, porque uma das exigências é que o professor esteja atuando”, esclarece a coordenadora do PEC da USP, Marieta Machado Nicolau, professora da Faculdade de Educação. “Nossos professores-alunos são muito valorosos. Apesar de todas as dificuldades, chegam motivados e interessados em aprender”, diz Marieta, empolgada.

O diferencial do programa, segundo a coordenadora, é a possibilidade de trabalhar a teoria e a prática. O curso oferece material didático específico e gratuito, professores capacitados e infra-estrutura adequada. O resultado é que, ao concluir o aprendizado, o professor “muda a auto-imagem, passa a entender melhor o porquê do que fazia antes em sala de aula e melhora o desempenho”, ressalta Marieta.

Poucas vagas

Além das aulas presenciais, o PEC tem trabalhos via computador, atividades como vivência educadora – uma espécie de avaliação e observação das práticas educacionais em diferentes escolas, videoconferências, oficinas culturais (no campus da USP e em visitas aos museus e feiras) e memórias (relatos sobre a participação no PEC, dificuldades e alegrias). Ao término, os alunos elaboram o Trabalho de Conclusão de Curso (monografia orientada por um professor-doutor).

Professora do ensino infantil e fundamental, Luciana Carelli da Silva destaca que estudar com outros professores faz toda a diferença: “As discussões se aprofundam e trocamos informações sobre a nossa prática, porque todo mundo está atuando enquanto faz o curso”. Luciana estudava pedagogia em uma universidade particular, numa classe com 120 alunos, e desistiu assim que conseguiu a vaga no PEC. “Além de ser gratuito, estudo com 20 colegas. Lá o ensino era dividido em disciplinas, aqui são módulos que dão continuidade aos assuntos. Agradeço todos os dias por essa oportunidade e vou aproveitar mesmo.”

Luciana acrescenta que o PEC tem ainda a vantagem da interatividade com os trabalhos on-line e as videoconferências. Proferidas por especialistas na temática tratada, as videoconferências permitem ao aluno fazer perguntas e obter respostas em tempo real. Ana Eliza Melo Amorim diz que foi muito difícil conseguir uma vaga no PEC porque as inscrições são feitas via eletrônica e o interessado tem de digitar rapidamente seus dados. Se demorar, acabam as vagas. “Fiz três tentativas antes de conseguir. São muitas pessoas interessadas e poucas vagas disponíveis”, comenta.

Conscientes e esforçados

Ana é professora de um centro de educação infantil, e já lecionou para alunos do ensino fundamental. Dá aulas desde os 16 anos. “Tenho conhecimentos porque sempre gostei de ler, escrever e estudar e fiz muitos cursos gratuitos oferecidos pelas escolas. Faltava o diploma. Estou muito feliz, porque esse curso valoriza a pesquisa, estrutura o pensamento crítico para mudar o contexto educacional e o material pedagógico é atual e bem elaborado”, elogia.

O material pedagógico foi elaborado por especialistas do PEC em 2001, e passou por alterações e adaptações de acadêmicos da PUC e da USP. A tutora do PEC, Lúcia Helena Aparecida Rosa, bacharel em Licenciatura em Matemática e professora de magistério, diz que o curso exige muito, mas traz a recompensa de se obter um “diploma da USP, incentivo salarial e aprendizado gratuito”. Lúcia descreve os participantes como “conscientes, esforçados, com muita vontade de aprender, e que produzem textos muito ricos”.

O curso, de acordo com a tutora, além de trabalhar a teoria e a experiência dos alunos, mostra como deve ser o professor: “Reflexivo, dinâmico, competente e coerente com o seu trabalho”. Segundo a avaliação de Lúcia, a repetência não é alta porque aqueles que têm dificuldades recebem acompanhamento paralelo e reforço de aprendizado. Ela acrescenta que a própria dinâmica do curso, de aplicar provas regulares, evita esse tipo de problema.

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Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial