Produtos de assentados e quilombolas do Itesp fazem sucesso em Agudos

Cidade sediou maior feira de agronegócio familiar do Brasil; produtores venderam doces de leite e cocadas, mel, pães, queijos

sáb, 11/08/2007 - 11h37 | Do Portal do Governo

Durante a Agrifam 2007, maior feira de agronegócio familiar do Brasil, o estande do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) foi o mais freqüentado da ala de comercialização. Os dez produtores, entre assentados e quilombolas, representantes do boxe do Itesp, apresentaram de tudo um pouco: cachaça artesanal, rapadura, doces de leite e cocadas, mel, pães, queijos, vassouras e buchas; artesanatos de madeira, de conchas e de folhas de coco; roupas confeccionadas e tecidos tingidos. O evento ocorreu no início de agosto em Agudos, cidade a 300 quilômetros da capital, na região de Botucatu.

Os produtores representaram os 10 mil agricultores assentados em todo o Estado, que recebem assistência técnica do Itesp. Seu diretor, Gustavo Ungaro, comemora o êxito da participação do Itesp e destaca o peso da feira: “O sucesso da Agrifam revela a importância da agricultura familiar paulista, responsável pela geração de renda e trabalho digno para milhares de produtores rurais, dentre os quais cabe ressaltar os assentados, beneficiários da política pública estadual gerida pela Fundação Itesp”.

De acordo com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a agricultura familiar é responsável por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e por seis de cada dez alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Cerca de 210 mil famílias de agricultores familiares e 800 mil assalariados rurais vivem no Estado de São Paulo.

Pão e gorro – Produtor de mel há mais de 10 anos, Gilberto Helmut Knopp, do assentamento Lagoinha, em Presidente Epitácio, vendeu na feira 30 litros de mel e mais 20 bisnagas de 270 e de 470 gramas. E ainda saiu com encomenda de mais de 50 quilos do produto. Gilberto também vendeu biscoitos de nata, pães, cachecóis e gorros, feitos por sua mulher.

Roupas são o forte do grupo de oito mulheres que formam a Oficina de Costura do quilombo Jaó, de Itapeva. Aparecida de Campos Oliveira, representante da equipe, levou peças de confecção própria e tecidos em batik, tingimento de influência africana, e ainda toalhas bordadas. “Já vendi um jogo de toalhas”, se alegrou Aparecida no primeiro dia. “É uma boa oportunidade de expor os trabalhos e vender”, constatou.

Outra comunidade de quilombolas representada na Agrifam, Ivaporunduva (Eldorado), exibiu muito artesanato de fibras de bananeira e cestarias das Comunidades André Lopes e Pedro Cubas, também de Eldorado. “Tem saído um pouquinho de cada coisa. De pouquinho em pouquinho deve sair tudo”, disse a responsável, Rosemeire de Paula Moraes Silva, no segundo dia.

Pertinho da cidade de Agudos existe o maior assentamento do Estado: Reunidas, com 629 lotes, localizado em Promissão. E Presidente Alves, também próximo de Agudos, fica o assentamento Palmares. Dali veio a assentada Maria da Glória da Silva, que exibiu as bijuterias que faz com sementes naturais.

Cachaça e rapadura – Mara Lúcia Galvão, do assentamento Nova Esperança, em São José dos Campos, região sudeste do Estado, levou mel, própolis, sabonete artesanal e concentrado de maracujá. Havia também vassoura de cipó, artesanato de folha de coco e cestarias que vieram da comunidade quilombola de Caçandoca, de Ubatuba. Os produtos acabaram logo no primeiro dia do evento. “Vendeu tudo rápido! O forte do assentamento são produtos in natura e orgânicos, mas não deu pra trazer por causa da distância”, observa Mara Lúcia.

João Soares de Oliveira, assentado no Reage Brasil, em Bebedouro, nunca vendeu tanta rapadura. Nos dois primeiros dias, comercializou os 144 “tijolos” que levou à Agrifam. Só um visitante de Tupi Paulista adquiriu 40 unidades para revender. Ele voltou a Bebedouro e retornou à feira com mais 90 peças e 82 litros da cachaça artesanal que produz. Em menos de um dia de exposição, conseguiu vender todas as rapaduras novamente.

Sua cachaça também fez sucesso. Os 57 litros que expôs no início da feira acabaram logo. João estava muito satisfeito: “Quase acabou toda a minha produção. Estou muito feliz!” Essa é a segunda vez que ele participa da Agrifam no estande do Itesp.

R$ 20 milhões – Não é de hoje que as buchas transformadas em arte, pelas mãos do produtor Valentim Degasperi, do assentamento Che Guevara, em Teodoro Sampaio, chamam a atenção. Valentim criou uma técnica de tingimento natural das fibras que, após manipuladas e amaciadas, dão lugar a bichos como macaquinhos, onça-pintada, tartaruga, sapo, e frutas como moranguinhos: “As eco-buchas (nome que registrou) me trazem retorno muito bom”, garante.

A cada ano, a Natura Cosméticos faz um pedido grande de buchas coloridas, que são levadas para a França, conta Valentim. Com a mesma matéria-prima, ele faz tapetes antiderrapantes. Nos primeiros dias de feira, todos os tapetes foram vendidos: só restou um para exposição. 

Os visitantes se encantaram com a qualidade do artesanato em fibra de banana produzido pelos quilombos do Vale do Ribeira. Tanto que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) quer contratar os artesãos para cursos de capacitação nas dezenas de unidades que a instituição mantém no Estado. A Agrifam é realizada há cinco anos em Agudos. Seus 160 expositores acreditam ter negociado R$ 20 milhões nos quatro dias do evento.

Mais créditos para agricultores –  O governador José Serra visitou a feira e falou da necessidade de diversificação da agricultura familiar: “Temos que estimular o aumento da sua eficiência e qualidade, pois tem papel importantíssimo na geração de empregos”. Ele também comentou que não há contradição entre a presença da agricultura familiar na economia e a grande exportação: “As duas podem muito bem ser combinadas”.

Serra comemorou a ampliação do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), pois os juros de empréstimos dos agricultores reduziram-se (de 4% ao ano para 3%). Com isso aumentam as possibilidades de financiamento.

A partir de agora, o Feap beneficia produtores com renda bruta anual de até R$ 400 mil. Até então, os recursos eram destinados a quem tinha renda de até R$ 215 mil.

Os R$ 5 milhões à disposição para crédito dos produtores na Agrifam esgotaram-se em 2 dias. Quase todos (95%) os recursos solicitados foram para compra de máquinas.

Da Agência Imprensa Oficial

(J.H.)