Premiado estudo da Unesp com células-tronco de tecido dentário

Trabalho recria células de vasos sanguíneos lesionados

qua, 08/10/2008 - 17h14 | Do Portal do Governo

Pesquisa inédita na área de Odontologia, realizada com células-tronco de tecido dentário, defendida no câmpus de Araraquara, venceu o Prêmio Hatton no Encontro Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO), divisão brasileira da International Association for Dental Research (IADR). A cirurgiã-dentista Andreza Maria Fábio Aranha recebeu o troféu durante a 25º Reunião da Sociedade, ocorrida em Águas de Lindóia (SP), de 30 de agosto a 2 de setembro.

A vencedora concorreu com sua tese de doutorado em Odontopediatria, realizada na Faculdade de Odontologia (FO), sob orientação geral do docente Carlos Alberto de Souza Costa. Intitulada Potencial angiogênico de células pulpares humanas em hipóxia, parte da sua pesquisa foi realizada na Faculdade de Odontologia da Universidade de Michigan (EUA), com a supervisão do professor Jacques E. Nör, especialista da área.

Em laboratório da faculdade americana, durante estágio de doutorado, Andreza cultivou células do tecido interno do dente em condição de baixa concentração de oxigênio (hipóxia). Responsável pela formação da estrutura dentária, esse tecido é composto por vasos sangüíneos e linfáticos, feixes nervosos, entre outros. Em tal ambiente, ela avaliou a capacidade de essas células produzirem proteínas com potencial de estimular outras células a se diferenciarem em vasos sangüíneos. “Trabalhei com células-tronco isoladas do tecido da polpa do dente, que podem dar origem a diversos outros tipos de células, como as endoteliais, que recobre o interior dos vasos sangüíneos”.

Andreza explica que as células-tronco do tecido interno têm capacidade limitada. São diferentes das células-tronco isoladas de embriões e de cordão umbilical, consideradas pluripotentes, pois podem se diferenciar em qualquer célula humana, com exceção da placenta e anexos.

Segundo a cirurgiã-dentista, essas células-tronco derivadas de dentes permanentes humanos foram isoladas em 2000, pelo médico especialista em bioengenharia Stan Gronthos, no Instituto Hanson da Universidade de Adelaide (Austrália). Por intermédio do pesquisador Songtao Shi, da Universidade do Sudoeste da Califórnia (EUA), parceiro de Gronthos em pesquisas odontológicas, elas foram cedidas para o estudo de Andreza. “É uma linhagem celular de fácil acesso que não envolve problema ético”, diz.

Aplicação – Traumas dentários ocorrerem com freqüência, principalmente em crianças e adolescentes. De acordo com a pesquisadora, com o deslocamento do dente para fora de sua estrutura protetora, ocorre o rompimento dos vasos sangüíneos, responsáveis pelo transporte de oxigênio para o local. O orientador Costa, do Departamento de Fisiologia e Patologia da FO, assinala que os danos causados pelo trauma podem ocasionar a necrose da polpa dentária e dificultar uma tentativa de implante. “A possibilidade de revascularização recria as condições originais da região afetada, evitando maiores danos”, destaca Andreza.

Nesta pesquisa, ressalta a pesquisadora, foi possível observar que as células-tronco derivadas de dentes humanos têm papel importante na formação de novos vasos sangüíneos. Elas são capazes de expressar proteínas, como a denominada fator de crescimento endotelial vascular, responsável pela formação e proliferação de vasos sangüíneos de estruturas dentárias. “Este estudo dá início a uma nova linha de pesquisa envolvendo mecanismo de biologia molecular”, destaca. “É uma iniciativa importante para melhorar o prognóstico de traumas dentários pela revascularização da área afetada”. Na opinião do orientador, no futuro será possível evitar a perda de dentes, principalmente em jovens.

Em abril de 2009 Andreza irá representar o Brasil na competição mundial da IADR, que ocorrerá durante a 87th General Session & Exhibition, em Miami (EUA). Na oportunidade, sua pesquisa concorrerá ao Prêmio Hatton Internacional, junto com outras selecionadas nos principais países que contribuem para estudos na área. “Outros trabalhos ainda são necessários para verificar a produção de diferentes proteínas de diversos tipos celulares e dos mecanismos envolvidos no processo de revascularização de dentes traumatizados”, conclui.

Da Unesp