Por meio da fonoterapia intensiva, USP de Bauru recupera pacientes

Alunos do Programa do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da universidade realizam atendimentos desde 2012

sex, 03/08/2018 - 20h26 | Do Portal do Governo

O Programa de Fonoterapia Intensiva (PFI) do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho), da Universidade de São Paulo (USP), no campus de Bauru, oferece serviços que promovem mais qualidade de vida aos cidadãos atendidos. Um dos exemplos é o sentimento expresso por Aline Aparecida Sgrignoli, de 24 anos, que deixou a filha de três anos aos cuidados do pai e da avó em Maringá, no Paraná, por três semanas.

Nascida com fissura palatina, foi a primeira vez que a paciente participou de uma atividade no local. “Eu não conseguia falar direito algumas palavras, como ‘grata’, ‘obrigada’. Converso com todo mundo, mas essa dificuldade era um incômodo. E esse trabalho foi importante para eu aprender a falar melhor, mais devagar, e pensar antes de falar”, explica. “Foi muito melhor do que eu imaginava. Para o meu dia a dia será muito bom. O incômodo melhorou, mas eu quero melhorar ainda mais”, acrescenta Aline Aparecida Sgrignoli.

Vale destacar que, ao todo, doze pacientes entre 5 e 33 anos foram atendidos em mais um módulo do PFI, realizado durante três semanas, entre os dias 10 e 27 de julho. Os atendidos eram provenientes das cinco regiões do Brasil, dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo (Sudeste), Paraná (Sul), Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste), Rio Grande do Norte (Nordeste) e Amazonas (Norte).

Reabilitação

O segundo módulo do Programa de Fonoterapia Intensiva no ano foi organizado pela equipe de Prótese de Palato, para correção dos distúrbios de fala de pacientes que utilizam a prótese como alternativa na reabilitação.

“O objetivo é propiciar um enfoque direto e intensivo nos distúrbios da comunicação apresentados, para uma melhora na inteligibilidade de fala, e, assim, possibilitar melhores chances de integração na comunidade, com a facilitação de suas relações interpessoais e inserção escolar e no mercado de trabalho”, afirma a fonoaudióloga Melina Evangelista Whitaker Siécola, uma das coordenadoras do módulo do PFI.

“A iniciativa tem se mostrado uma alternativa eficaz e viável nesses casos, uma vez que todos os pacientes participantes desse tratamento, até o momento, tiveram evolução satisfatória”, completa.

“A fonoterapia intensiva para pacientes com anomalias craniofaciais pode ser a única oportunidade para a melhora de fala, uma vez que em vários municípios do Brasil ainda não há profissionais habilitados para tratar tais distúrbios”, diz a fonoaudióloga Maria Daniela Borro Pinto, que também coordenou o módulo. “Além disso, os alunos de graduação e pós-graduação passam por um processo de ensino-aprendizagem, de forma interativa por meio de observações, atuações e discussões das práticas clínicas, com auxílio de preceptores com alta qualificação e experiência”, avalia.

Evolução

Sarah Vidotti Saad da Rocha, mãe da paciente Pietra Vidotti da Rocha, de 5 anos, de Americana, no interior paulista, também participou do Programa pela primeira vez e destaca que encerra as atividades com muita felicidade. Pietra nasceu com fissura labiopalatina e usa prótese de palato, um aparelho bucal removível utilizado quando o palato não apresenta tecido suficiente para a realização do fechamento velofaríngeo para a fala.

“De todas as letras e palavras que foram trabalhadas, percebi melhora em todas. O ‘T’, o ‘Pã’, o ‘Bã’, o ‘Dã’. Nos fins de semana, voltávamos para nossa cidade. Meu marido e as pessoas que a ouviram nesse tempo também perceberam melhora na fala dela”, relata Sarah Vidotti Saad da Rocha.

“O objetivo de vir um dia acompanhar essa equipe toda focada em uma terapia específica para paciente com prótese de palato é poder aprender e aplicar as técnicas na continuidade da terapia em nossa cidade”, enfatiza a fonoaudióloga de Pietra em Americana, Amanda Molina Moura, que esteve presente no último dia das atividades em Bauru.

“A evolução dos pacientes é muito boa e o aprendizado também é intensivo”, avalia a fonoaudióloga Franciele Fumagali, aluna do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde – Síndromes e Anomalias Craniofaciais do HRAC-USP, que atua no sexto módulo do PFI.

“Na graduação, fazemos uma terapia apenas, uma ou duas vezes por semana. Aqui, vemos o paciente quatro vezes por dia, todos os dias, durante três semanas, fora os exercícios em casa. O que seria trabalhado em um ano, conseguimos ganhos em um período curto. Trabalhamos desde o som isolado que o paciente tem dificuldade até a fala espontânea. É muito gratificante”, completa.

Parceria

Desde 2012, dois módulos do PFI são organizados, em parceria com o curso de Fonoaudiologia da USP no campus, por meio da disciplina Clínica de Anomalias Craniofaciais – Estágio Supervisionado, sob a coordenação das professoras Maria Inês Pegoraro-Krook e Jeniffer de Cássia Rillo Dutka, do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade.

É importante frisar que a ação tem participação de alunos de graduação, pós-graduação e residência multiprofissional, além do envolvimento de vários setores do HRAC-USP, incluindo a Divisão de Odontologia e Seção de Fonoaudiologia. Para os estudantes da área de Fonoaudiologia da Residência Multiprofissional em Saúde – Síndromes e Anomalias Craniofaciais, o programa integra a disciplina Fonoterapia Intensiva, sendo que, no primeiro módulo do ano, eles atuam como supervisor de casos da graduação e, no segundo módulo do ano, como terapeutas.

O módulo também contou com a atuação dos cirurgiões-dentistas Homero Carneiro Aferri e Mônica Moraes Waldemarin Lopes, da equipe de Prótese de Palato, nas manutenções e modificações das próteses, além da participação de seis residentes de Fonoaudiologia do HRAC e graduandos do curso de Fonoaudiologia da USP, na observação.