Plano para recuperar nascentes reúne pesquisadores de universidades de SP

Estudantes e docentes de USP e Unesp pensaram em tecnologias sustentáveis para recuperação de córrego em São Carlos

dom, 01/12/2019 - 14h37 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/IAU/USP

As três nascentes do Córrego Mineirinho, situadas em São Carlos, no interior de São Paulo, sofrem com problemas que podem prejudicar não só os moradores, mas também o meio ambiente. Em busca de alternativas para o cenário, alunos da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) criaram um plano de ações para a intervenção no local afetado.

A ação integra uma disciplina de pós-graduação chamada Águas Urbanas: Estudos interdisciplinares para resiliência e sustentabilidade, oferecida conjuntamente pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e UFSCar.

“A ideia foi transformar as três nascentes em um estudo de caso experimental no qual pudéssemos pensar em tecnologias sustentáveis para a resolução dos problemas, propondo ações numa escala alcançável”, salienta ao Jornal da USP Renato Anelli, professor do IAU e um dos idealizadores da disciplina.

DownloadDivulgação/IAU/USP
Estudantes e docentes pensaram em tecnologias sustentáveis para recuperação de córrego em São Carlos

Caráter multidisciplinar

A atividade, que une visitas a campo e aulas teóricas, foi marcada pelo caráter multidisciplinar, uma vez que participaram profissionais de diversas áreas, como direito, geografia, publicidade, arquitetura, biologia e engenharia.

“O mais interessante é que, devido à diversidade de formações dos alunos, é possível enxergar o mesmo problema de ângulos diferentes”, enfatiza Jeferson Tavares, professor do IAU que também ministrou a disciplina, ao Jornal da USP.

Durante a iniciativa, que durou uma semana, foram trabalhadas questões relacionadas a planejamento, infraestrutura, espaços verdes, resiliência, gestão ambiental, técnicas de drenagem de baixo impacto, controle de enchentes e qualidade da água.

Um dos desafios era propor mudanças nos locais das nascentes que permitissem a reutilização da água para fins como, por exemplo, lavar a calçada ou irrigar uma horta comunitária.

Experiência

A engenheira ambiental Carolina Barbosa, uma das participantes da disciplina, contou como foi a experiência no projeto. “Cada pessoa conseguiu contribuir dentro de sua área de atuação e nós sentimos essas complementaridades. Quando pensamos que todo esse conhecimento foi voltado para a temática ambiental, tudo fica ainda mais enriquecedor”, revela ao Jornal da USP.

Doutoranda do Departamento de Engenharia Hidráulica e Saneamento da EESC, Carolina Barbosa explica que se interessou em participar da disciplina por ser uma oportunidade de trabalhar em um ambiente interdisciplinar no meio acadêmico. “Aqui, nós temos mais oportunidades de explorar, pensar no futuro, projetar o que pode ser feito e visar melhorias para a comunidade”, acrescenta.

Segundo o professor Davi Cunha, da EESC, também ministrante da disciplina, a área da cidade escolhida para receber um plano de intervenção foi selecionada de forma oportuna, já que se trata de uma região que contribui para as enchentes que ocorrem nas redondezas do Cristo, um antigo problema que afeta os moradores de São Carlos.

O docente afirma que, para propor ações de melhoria no local, é preciso estabelecer estratégias que não afetem o meio ambiente e sejam pensadas de maneira mais ampla. “Não podemos olhar para a drenagem sustentável, por exemplo, apenas como uma tubulação embaixo da terra que irá coletar água da chuva para despejar em algum lugar. Precisamos ir além, pensar na qualidade da água, na paisagem e na biodiversidade”, diz ao Jornal da USP.

Expansão

Quem também atuou como docente da disciplina foi a professora Renata Peres, da UFSCar. Ela conta que outro motivo que levou à escolha do Córrego Mineirinho para estudo de caso foi a localização de suas nascentes: uma delas se encontra dentro da área 2 do campus da USP e as outras duas, nos arredores da Universidade, facilitando a atuação dos estudantes e contribuindo para a implementação de atividades pelos programas de pós-graduação.

Além disso, a área afetada está em expansão, permitindo que novos projetos sejam idealizados. Problemas encontrados nas nascentes podem acarretar sérias consequências ao município caso não sejam solucionados. Entre elas estão a ocorrência de cheias, a ocupação inadequada dos arredores das nascentes, drenagem ineficiente, rompimento de tubulações, levando esgotos ao encontro de água limpa por meio de infiltrações e até mesmo estresse hídrico, cenário em que determinado local deixa de ter água quando, na verdade, deveria tê-la em abundância.

A publicitária Fernanda Siebert, que também cursou a disciplina, utilizou a formação para pensar em uma linguagem mais adequada para a divulgação do plano de ações, de forma que pudesse ajudar a população a ter uma leitura mais crítica do cenário, levando conhecimento e estimulando o questionamento entre as pessoas.

“Eu me apaixono por tudo que envolve meio ambiente, acho que por isso a disciplina me atraiu. É muito importante abrirmos os olhos para questões que, às vezes, não estamos enxergando do nosso lugar”, pontua ao Jornal da USP.

Todas as propostas de ação elaboradas ao longo da disciplina pelos estudantes poderão ser apresentadas às autoridades de São Carlos. Segundo os coordenadores da atividade, que foi finalizada na última semana de outubro, a ideia é que ela seja mantida para os próximos anos.

Também integraram a lista de docentes da disciplina o professor da EESC Eduardo Mario Mendiondo e a professora Maryam Imani, da Anglia Ruskin University, do Reino Unido.