Pesquisadores de SP analisam cenários do agronegócio no Brasil

Para especialistas, alguns setores têm boas projeções de safra, mas câmbio e fatores climáticos podem mudar perspectivas

qua, 20/03/2019 - 19h33 | Do Portal do Governo

Em fevereiro deste ano, a nova projeção de safra feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 234 milhões de toneladas de grãos, apresentou um crescimento de 2,8% em volume, e 1,3% em produtividade em relação à safra 2017/18.

Mas a estimativa já reflete um pouco os problemas climáticos, pois caiu 1,3% em relação à projeção anterior. O total de área cultivada com grãos é de 62,63 milhões de hectares (1,5% acima da anterior). A soja, que sofreu mais com o clima de janeiro, caiu de quase 120 milhões para 115 milhões (3,4%), porém o algodão surpreendeu positivamente.

A AgRural já estima, segundo especialistas do setor, a safra de soja em apenas 112,5 milhões de toneladas, 5,7% menor que 2018/17. Alinhada com essa expectativa, a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) crê que as exportações de soja caiam 12% neste ano, ficando em 73 milhões de toneladas, contra as quase 83 milhões da safra anterior, vindas de uma safra de 116 milhões de toneladas.

“Teremos, com isso, perda grande de renda que entraria no Brasil”, explica Marcos Fava Neves, professor titular (em tempo parcial) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

Na soja, diz o especialista, devem produzir 113,6 milhões de toneladas, queda de 8% em relação as 123,6 milhões desta safra, derrubando os estoques em 2 milhões de toneladas. No milho a produção esperada é de 378 milhões de toneladas, bem acima das 366 milhões deste ano.

Índices

Como os estoques estão confortáveis, caminha-se para uma situação de preços internacionais estáveis. O índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) subiu 1,8% em janeiro e está 3,7% abaixo de janeiro de 2018, puxado principalmente pelos lácteos.

Ainda segundo Marcos Fava Neves, a recém-criada Associação Brasileira da Internet das Coisas (Abinc) estima que, apenas na safra 2018/19, os investimentos nas inovações tecnológicas devem passar de R$ 100 milhões. Isso traz impactos positivos na produtividade, com o maior uso de sensores, equipamentos e outros serviços que medem as atividades e condições de clima, solo, plantas e desempenho de máquinas.

Para março, o docente aponta algumas variáveis importantes. “Se sair um acordo entre China e Estados Unidos no setor, a expectativa de plantio de soja e milho pelos americanos, o comportamento do câmbio e o clima incidente sobre a safrinha de milho no Brasil. Mas creio em estabilidade nos preços”, conclui.

Produção animal

Já a produção pecuária do Estado de São Paulo não apresentou grandes alterações nos últimos anos, de acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio do Instituto de Economia Agrícola (IEA).

A área total de pastagem apresentou queda de 2,8%, atingindo 6,7 milhões de hectares, provavelmente em função da perda de área para a produção vegetal. Os dados são do segundo levantamento das previsões de produção animal realizado entre 1º e 20 de novembro de 2018.

“De acordo com o levantamento, o número total de bovinos é de 10,4 milhões de cabeças, praticamente o mesmo registrado em 2017”, diz Carlos Nabil Ghobril, pesquisador do IEA. Os dados desagregados mostram que o número de bovinos de corte apresentou aumento de 2,6%, totalizando 6,4 milhões de cabeças; enquanto os bovinos destinados à produção de leite foram reduzidos em 6,6%, resultando em 1,1 milhão de cabeças.

A categoria gado misto também apresentou queda (-6,2%), atingindo 2,8 milhões de cabeças. “Nos últimos anos, o rebanho paulista de bovinos vem oscilando na casa dos 10 milhões de cabeças. Contudo, a demanda do setor de beneficiamento (laticínios e frigoríficos) e o volume oferecido pelos produtores têm apresentado dificuldades de se ajustar”, revela.

“A queda no número de animais da categoria misto, sem a especialização no ganho de peso ou na produção de leite, parece refletir a dificuldade de lidar com margens de retorno menores; da mesma forma, o segmento leiteiro também reduziu seu plantel. Os custos fixos e variáveis crescentes e a concorrência com o leite importado de outros estados são os principais obstáculos à permanência na atividade dos pequenos e médios produtores”, aponta Ghobril.

Itens

Em 2018, foi estimado que 3,7 milhões de cabeças estavam prontas para o abate, representando potencialmente uma oferta de 945,5 mil toneladas de carne bovina, praticamente o mesmo estimado em 2017. No mesmo período, a produção leiteira foi de aproximadamente 1,7 bilhão de litros, aumento de 7% em relação ao ano anterior.

“O produtor de leite paulista está mais especializado e conseguiu aumentar o rendimento de litros por animal por meio da melhoria dos índices de produtividade ligados à genética, nutrição animal e também pela melhor gestão da atividade”, diz Carlos Roberto Ferreira Bueno, também pesquisador do IEA.

A produção de aves para postura está estimada em cerca 51,9 milhões de cabeças e a produção de ovos totalizou 1,2 bilhão de dúzias, volume 8,8% maior que o apresentado em 2017; enquanto as aves para corte totalizaram 591 milhões de cabeças, equivalendo a uma oferta de 1,3 milhão de toneladas de frango, em peso vivo, que representa um decréscimo de 11,1% sobre o volume do ano anterior.

Suínos

A previsão do efetivo de suínos é da ordem de 894,2 mil cabeças. Os animais previstos para o abate totalizaram 1,3 milhão de cabeças, resultando em produção de 103,9 mil toneladas de carne, aumento da ordem de 8,4 %, recuperando a queda na produção de carne suína verificada em 2017.

“A crescente necessidade de melhora nos índices de produção e econômicos para cada cadeia (bovinos, aves e suínos) pode estar retirando da base de produção unidades produtivas que não conseguem acompanhar as exigências de cada segmento. A produção de outros estados que complementa a demanda paulista é outro fator que pode atuar de forma indireta na estabilidade dos números da pecuária paulista, aliada a uma demanda altamente dependente da renda em se tratando do complexo de proteínas animais”, conclui Bueno.

Marisa Zeferino, também pesquisadora do IEA, alerta para as questões climáticas e outros fatores externos podem influenciar estes números e expectativas. “O câmbio está entre as razões que contribuíram. A intenção de plantio, declarada no levantamento anterior, se efetivou, superando as expectativas”, ressalta.

“No entanto, as condições climáticas, fundamentais para o desenvolvimento da cultura de muitos produtos, incluindo o algodão, por exemplo, determinarão, nos próximos meses, os resultados. O mercado interno, outra importante peça do sistema, ainda é uma incógnita pois o cenário para 2019 não está definido”, completa.