Pesquisadores da USP analisam queima de combustíveis pelos automóveis

Estudo calculou que veículos a diesel respondem por cerca de 50% da concentração de compostos tóxicos na atmosfera

qua, 18/07/2018 - 8h32 | Do Portal do Governo

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) conduziram um estudo, publicado nesta segunda-feira (16) na revista Scientific Reports, do grupo Nature, que revela dados sobre a relação entre a queima de combustíveis pelos automóveis e o meio ambiente. A pesquisa calculou que veículos movidos a diesel, como caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e material particulado.

Os pesquisadores destacam que se trata de um valor muito elevado, pois ônibus e caminhões abrangem apenas 5% da frota veicular. Vale destacar que a Região Metropolitana de São Paulo tem mais de 7 milhões de veículos.

“A estimativa da emissão de poluentes de cada tipo de veículo é feita geralmente baseada em valores medidos em laboratório e multiplicados pelo número de veículos nas ruas”, explica o professor do Instituto de Física da USP e um dos autores do estudo, Paulo Artaxo.

De acordo com o docente, uma limitação da metodologia é não levar em conta necessariamente condições reais de condução e manutenção dos veículos, fatores essenciais para a emissão de poluentes. O estudo publicado agora foi realizado em condições reais.

“Um dos aspectos inovadores desse estudo foi utilizar o etanol na atmosfera, que é emitido somente por carros e motos. Com isso, pudemos separar a contribuição real de veículos leves, que emitem etanol, dos pesados, movidos a diesel e que não emitem etanol”, completa o professor, que é membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Consumo

É importante frisar que, na Região Metropolitana de São Paulo, há 100 veículos de passageiros para cada ônibus e 30 para cada caminhão. Em 2013, ano em que forma feitas as medidas usadas no estudo, o consumo médio por veículos de passageiros era de 55% de gasolina para 45% de etanol.

A mistura de gasolina e etanol é usada basicamente por veículos leves, sejam do tipo “flex” ou que usem um dos dois combustíveis. Outras pesquisas ao redor do mundo têm focado no papel do uso de biocombustíveis, como o etanol, na redução de emissão de poluentes.

“O grande diferencial da nova análise foi o foco não no efeito do etanol em si, mas no seu uso como um traçador de poluentes, permitindo separar pela primeira vez fontes veiculares distintas”, ressalta o líder do estudo, Joel Ferreira de Brito. O pós-doutorado do pesquisador no Instituto de Física da USP, com Bolsa da Fapesp, levou a esses resultados.

Esses resultados foram obtidos durante três meses de medida no centro de São Paulo, na primavera, um período relativamente chuvoso e de pouca poluição. “Pelos resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão da linha de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na cidade. Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, acrescenta.

O pesquisador afirma que existem filtros que eliminam 95% das emissões de ônibus e destaca a importância de que novas tecnologias, disponíveis e baratas, sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras.

“Outras análises mais extensas, inclusive no inverno, com acúmulo de poluentes na atmosfera, devem ampliar nossa compreensão do impacto dos veículos na atmosfera de São Paulo e na sua população”, completa Joel Ferreira de Brito.