Pesquisadores brasileiros escrevem livro para editora norte-americana

Obra aborda a questão da restauração de florestas tropicais e os métodos e experiências desenvolvidos pelo Brasil

dom, 27/05/2007 - 10h01 | Do Portal do Governo

Inteiramente escrito por brasileiros, o livro High diversity forest restoration:methods and projects in Brazil apresenta conceitos, métodos, experimentos, resultados científicos e casos práticos sobre a restauração de florestas tropicais. Os pesquisadores escreveram a obra a pedido da editora norte-americana Nova Science, que conhecia trabalhos anteriores dos cientistas e porque o Brasil é reconhecido mundialmente como referência nessa questão, afirmam os organizadores da publicação. Por enquanto, só terá versão em inglês e publicação nos EUA. O interesse de outros países deve-se ao fato de que a floresta tropical oferece grande biodiversidade e complexidade. Isso amplia o leque de estudo e a necessidade de novos métodos de recuperação, explica Sergius Gandolfi, um dos organizadores do livro e professor de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

Seu colega Ricardo Ribeiro Rodrigues e o professor de Engenharia Florestal Sebastião Venâncio Martins, da Universidade de Viçosa (de Minas Gerais), são os dois outros organizadores. Martins diz que a floresta tropical tem alta biodiversidade e é bem complexa, o que exige interações inovadoras e diferenciadas e, por isso, “tem forte apelo ecológico”. Já as temperadas se caracterizam por ter poucas espécies, simplicidade florística e por “saber-se de tudo a respeito delas e de como recuperá-las”.

Experiência e métodos – Para se ter uma idéia da diversidade, “a floresta tropical de São Paulo tem 250 espécies de árvores e arbustos. Se levarmos em consideração outras plantas chega a 750”, exemplifica Gandolfi. Na média, esse tipo de vegetação tem entre 80 e 100 espécies. Nos países de clima temperado, a variedade fica entre cinco e dez”, acrescenta. Martins diz que a publicação, além de apresentar as novas descobertas sobre a florestas tropicais (como seu duplo papel: produtora de oxigênio e consumidora de gás carbônico), mostra os três princípios básicos na recuperação das florestas: aproveitamento da capacidade de auto-recuperação dos ecossistemas florestais, utilização de elevada diversidade de espécies nativas e a sustentabilidade dos ecossistemas restaurados.

Outro motivo de interesse é que o Brasil vem desenvolvendo técnicas de recuperação há mais de 20 anos. “Temos um conjunto de áreas degradadas que requer a criação de novos métodos de recuperação. Hoje temos 16 métodos que estão discriminados no livro e foram utilizados na prática, diz Gandolfi. Diz que as pesquisas que tinham escala experimental (há seis anos) foram ampliadas com um programa de extensão universitária.

Cada caso, um remédio – “Temos capacidade de encontrar solução para agriculturas de 3 mil hectares até plantações de 2 milhões de área agrícola (como usinas de cana) e desenvolvemos técnicas sofisticadas”, informa Gandolfi. “A primeira providência para recuperar uma área degradada é identificar a causa do estrago e a forma que isso ocorreu, e depois avaliar a capacidade de recuperação e a diversidade ambiental. Em áreas de pastagem (quando há apenas o corte da floresta), as sementes ficam no solo. Então, é só isolar a área, retirar o gado e parar de roçar que a floresta renasce com todo o seu potencial”, explica. Para recuperar a área de plantação de cana, o método é outro e bem mais complicado. “Quem planta cana-de-açúcar, aplica herbicida que mata as sementes da floresta presentes no solo para garantir a sobrevivência do canavial. Depois põe fogo uma vez por ano para queimar a cana e preparar a nova colheita. Então, o processo exige ações como semeadura e plantio de espécie”, relata Gandolfi.

Para o caso de rios como o Tietê e Paraná, o cientista diz que o estudo deve ser feito em cada trecho de área degradada porque a realidade de cada um é diferente e muitas vezes exigem uma combinação de métodos. O mesmo raciocínio serve para locais de mineração, margem de rodovia, proximidades de hidrelétricas. Gandolfi compara o trabalho de restauração de floresta com o de um médico: “É como uma prescrição médica. Não há uma única prescrição para todos os doentes e nem para todas as doenças. Para cada caso há um remédio que traz a melhor cura do ponto de vista ecológico e econômico. Tem de fazer as adequações necessárias.”

Experiências, resultados e projetos

Martins conta que o livro traz experiências, resultados e projetos de vários locais (inclusive com fotos e esquemas). É útil para pós-graduandos, pesquisadores e professores. Gandolfi acrescenta que serve inclusive para os técnicos ligados aos setores de meio ambiente e de empresas que precisam fazer recuperação ambiental. A publicação tem a participação do Instituto Florestal de São Paulo, Universidade Rural de Pernambuco, Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), Petrobras, Ministério do Meio Ambiente, Instituto Natura do Tocantins, Ibama e Cimento e Participações. A Nova Science publica mais de 20 períodos científicos da área médica e nos últimos cinco anos voltou sua atenção para a área ambiental. Mais informações no site www.novapublishers.com.

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial

(R.A.)