Pesquisa do IAC deverá estimular exploração econômica da falsa-cidreira

Instituto Agronômico dedica-se ao melhoramento genético da Lippia alba, como forma de otimizar suas condições de cultivo

sáb, 13/10/2007 - 19h25 | Do Portal do Governo

As propriedades medicinais da falsa-cidreira – um dos nomes pelo qual a Lippia alba é popularmente denominada – são bastante conhecidas por quem faz uso da fitoterapia caseira. Utilizada para tratar problemas gastrointestinais, respiratórios, hepáticos e de tantas outras doenças, pesquisas recentes também identificaram nessa planta medicinal propriedades fungitóxicas, importante para o controle de doenças fitopatogênicas.

Mesmo com tantas potencialidades que a tornam atrativa economicamente, as indústrias farmacêuticas de aroma e perfumaria ainda não usufruem dessa espécie. Com o intuito de viabilizar a exploração comercial dessa cultura, o Instituto Agronômico (IAC) dedica-se ao melhoramento genético da Lippia alba, como forma de otimizar suas condições de cultivo. E o resultado de um estudo realizado no curso de Pós-Graduação do IAC pode tornar a Lippia mais atraente: as análises revelaram uma informação inédita, que a Lippia não sofre variação qualitativa na composição química dos óleos essenciais. Em seis experimentos realizados não houve sequer um composto do perfil fitoquímico que desaparecesse num determinado ambiente e surgisse em outro. De acordo com o pesquisador do IAC e orientador desse estudo, Walter José Siqueira, foram encontradas somente variações de proporções entre eles no óleo total.

Os primeiros frutos desse trabalho foram obtidos, por meio da tese de mestrado da então aluna de Pós-Graduação IAC, Paula Yuri Yamamoto, defendida em 2006. “Ela trabalhou com 20 plantas selecionadas de um Banco de Germoplasma instalado no Instituto. Esse material foi clonado por estacas e colocado em seis ensaios – em Campinas, Monte Alegre e Pindorama”, diz Siqueira. Segundo ele, com esse trabalho, foram identificados clones superiores que poderão ser lançados futuramente, caso haja interesse de empresas do setor de cosméticos, perfumes e fármacos na utilização dessas matérias-primas. “São clones superiores em termos de produção de biomassa de folhas, de rendimento de óleos totais e de majoritários”, explica.

De acordo com o pesquisador do IAC, no Brasil, a carência de estudos nesse segmento é que acaba dificultando a utilização econômica dessa espécie. Só com o desenvolvimento de materiais mais produtivos – tanto em biomassa como em rendimento de óleos essenciais –, e com informações básicas de cultivo, os produtores poderão fornecer matérias-primas em quantidade e qualidade para a indústria, sem risco de oscilações de oferta no ano. Na França, a Lippia alba já é bastante explorada comercialmente. “Tem um lançamento de água de colônia da L%/%Occitane onde são encontrados óleos essenciais extraídos de Lippia, como o limoneno, citral, geraniol e linalol”, informa Siqueira.

Avaliação de rendimentos

Dentre os materiais estudados, os clones de Lippia alba que apresentaram melhor rendimento de óleos essenciais totais foram: o IAC 8, com 33% a mais de teor de linalol, o IAC 10, que apresentou ganho de 26% de limoneno/carvona, e o IAC 17, com rendimento de 65% de citral. Com relação à produção de massa seca, o clone IAC 18 foi o que apresentou maior superioridade. Nessa pesquisa ainda foram selecionados materiais superiores de mirceno/cânfora, geraniol, cineol e alfa-fecheno, todas substâncias com potencial para serem exploradas economicamente.

Siqueira e seus colaboradores buscam com esses trabalhos de melhoramento e pré-melhoramento formar uma coleção de plantas com diferentes genes, selecionar alguns genótipos para estudos genéticos – herdabilidade e ganho genético – e testá-los por meio de experimentos em várias condições de ambiente. A partir de então, analisar a estabilidade e adaptabilidade fenotípica dos genótipos nessas diferentes situações.

Na área de pré-melhoramento, essas pesquisas buscam a consolidação de todas as fases dessa etapa, ou seja, a germinação de sementes, avaliação da viabilidade de pólens, contagens cromossômicas, descrições da parte aérea de vários quimiotipos, determinação e confirmação do sistema reprodutivo, e o uso de biologia molecular na escolha de parentais divergentes para escolha em cruzamentos.

Em 2007, a tese de mestrado defendida pela aluna de pós-graduação do IAC, Natalie R. L. Schocken, orientada pelo pesquisador do IAC Carlos Colombo, contribuiu com esses objetivos. Esse trabalho confirmou a forma reprodutiva predominante dessa espécie, as condições para otimizar a germinação de sementes, como fazer cruzamentos entre plantas e os problemas de formação de grãos de pólen, por meio do uso da biologia molecular na identificação de genitores e de descendentes.

Usos da Lippia alcançam a agricultura

Entre as propriedades mais conhecidas, estão a sua utilização para fins analgésicos, anti-inflamatórios, anticonvulsantes, antivirótico, além de sua forte propriedade calmante. Mas os benefícios não se restringem aos seres humanos. Estudos revelam também sua ação sobre o fungo de solo Rhizoctonia solani, que atinge diversas culturas, como feijão e soja. “O efeito fungitóxico da Lippia alba foi promissor para diversas outras culturas, com ação eficiente sobre o causador da antracnose foliar, e da podridão seca – o que estenderia o seu interesse para indústrias de defensivos”, acrescenta Siqueira.

Das 200 espécies, 111 estão no Brasil

Bastante presente na região de Mata Atlântica, assim como na borda de riachos, existem 200 espécies de Lippia alba – sendo que a maior parte delas, 111, estão concentradas no Brasil. Espécie bastante rústica, com hábitos de planta selvagem, seus ramos enraízam com facilidade, ao tocar o solo, ampliando a sua propagação. Além disso, produz sementes o ano todo, adapta-se à praticamente todos os tipos de solo e clima, quase não está sujeita a pragas e doenças e mostra-se apenas vulnerável à geada. É exatamente por apresentar esse perfil e crescimento vigoroso – com a produção de muita biomassa de folhas, matéria-prima de onde serão extraídos os óleos essenciais de interesse das indústrias – que se torna interessante a comercialização da espécie e exploração na agricultura familiar, como mais uma opção de renda.

De acordo com Siqueira, só mesmo com os avanços das pesquisas com Lippia alba que a indústria poderá sinalizar interesse para óleos e princípios ativos existentes na planta para a geração de produtos comerciais. “Após o diagnóstico ou prospecção de uso, parcerias devem ser feitas para delinear as pesquisas de cunho teórico-prático para atingir tais objetivos”, afirma. A partir da pesquisa de mestrado da Paula Yamamoto, foram identificados cinco clones superiores e que poderão ser lançados futuramente, quando existir demanda para esse tipo de material.

Igor Carvalho

Do IAC

(L.M.)