Pesquisa da USP prevê uso das sobras de sisal na construção civil

Método de obtenção de fibras a partir da sobra rejeitada da planta pode gerar renda e aprimorar a cadeia do sisal

ter, 05/01/2010 - 19h00 | Do Portal do Governo

As sobras da bucha de sisal, que normalmente são descartadas nos processos de fabricação de cordas, podem constituir importante matéria-prima para a indústria de materiais de construção, segundo pesquisa. A equipe do professor Holmer Savastano Júnior, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP), no câmpus de Pirassununga (SP), desenvolveu um método de obtenção de fibras a partir da sobra rejeitada da planta, que pode gerar renda e aprimorar a cadeia do sisal. Essa cadeia envolve mais de 700 mil pessoas em atividades diretas e indiretas em todo o País.

Chamado de polpação organossolve, o processo consiste em dissolver a massa do sisal por meio da aplicação de pressão, alta temperatura e de um reagente, no caso o etanol. O objetivo é quebrar a lignina que mantém as fibras unidas. Os processos convencionais para a obtenção de fibras ou celulose utilizam o método kraft, que, além de exigir um processo químico mais agressivo, só é viável em larga escala. “Uma grande vantagem do organossolve é ser adaptável a plantas pequenas, o que o torna adequado a pequenos produtores”, contou Savastano.

Outro ponto importante da nova técnica é o fato de ela aproveitar um rejeito da indústria do sisal. Com isso, a fibra para reforçar cimento não precisa ser retirada da indústria da cordoaria, ramo que mais utiliza o sisal como matéria-prima.

Fibras sintéticas 

O fibrocimento pode ser mais um ramo da cadeia produtiva do sisal, planta que tem o Brasil como maior produtor mundial. O material obtido da planta do semiárido, segundo a pesquisa, é indicado para a fabricação de telhas, divisórias, suportes de ar-condicionado, caixas-d’água e demais estruturas que utilizam outros tipos de fibras. Assim, um dos desafios da equipe de Savastano é reduzir a degradação que o sisal sofre em um produto de construção à base de cimento.

Como toda fibra natural, ela sofre os efeitos da alcalinidade do cimento, decompondo-se com o passar do tempo. Por isso, as peças de fibrocimento desenvolvidas até o momento contêm porcentual de fibras sintéticas – PVA (polivinil álcool) e PP (polipropileno). “Queremos agora aumentar o teor da fibra natural e reduzir o de materiais sintéticos”.

Impacto econômico

Além do sisal, o grupo da USP começou a pesquisar a fibra de bambu como componente de fibrocimento. A engenheira agrícola Viviane da Costa Correa, orientanda de Savastano, desenvolve em seu mestrado o processo organossolve aplicado ao bambu. “Estamos estabelecendo a temperatura e o tempo ideais para a obtenção da fibra de bambu”, afirma Viviane.

Os ajustes sobre a polpação do bambu estão sendo feitos com o apoio do grupo do professor Antonio Aprigio Curvelo, do Instituto de Química da USP de São Carlos. Além de fornecer fibras para reforço de cimento, o bambu também poderá servir de matéria-prima para celulose e papel. “O bambu é uma gramínea gigante, que está presente em vastas extensões do Brasil. Por isso, esses processos poderão gerar grande impacto no desenvolvimento econômico do País”, destacou Savastano.

Da Agência Imprensa Oficial e da Agência Fapesp