Parque Estadual da Cantareira tem lazer integrado à educação ambiental

Programação especial de férias no Núcleo Engordador, um dos quatro da unidade de conservação, é direcionada a crianças do entorno

qua, 30/07/2008 - 13h54 | Do Portal do Governo

Mayra Gabriely Borges, de 11 anos, recebeu noções de educação ambiental na escola, mas diz que prendeu muito mais brincando nas férias. “Agora sei reciclar o lixo, não jogá-lo no chão e a cuidar dos animais”, conta. As novas descobertas ocorreram no programa Férias no Parque Estadual da Cantareira, realizado no Núcleo Engordador – um dos quatro espaços destinados à visitação – e promovido pela Secretaria do Meio Ambiente.

Durante quatro dias, de 22 a 25 de julho, crianças residentes no entorno do parque foram recebidas para desfrutar do ambiente em atividades especialmente preparadas para elas. Foi o quarto ano da iniciativa, que tem como proposta principal a integração dos moradores com os objetivos do trabalho desenvolvido na reserva ambiental.

“Com esse projeto, pretendemos plantar no coração desses jovens uma semente de amor e respeito à natureza’, afirma o responsável pelo Núcleo Engordador, Pedro Braga Filho. Ele as considera agentes multiplicadores de boas práticas ambientais. “Temos um problema sério com lixo no entorno. Por isso a programação tem esse tema”, ressalta.

Destino inteligente

No belo cenário da Mata Atlântica, uma gincana relacionada à coleta de lixo para reciclagem nas dependências do núcleo causa enorme empolgação. As cerca de 170 crianças presentes no penúltimo dia do programa estão divididas em quatro equipes, identificadas por cores diferentes. Elas quebram o silêncio característico do local com seus gritos de guerra.

“Essa noite, elas quase nem dormiram”, conta Andreia Dib, dona de um restaurante localizado nas redondezas, referindo-se às filhas de quatro e nove anos, participantes da gincana. A mãe está presente porque também foi convidada a participar da iniciativa. “Chamamos o pessoal da Serra para nos ajudar e estamos contando com o apoio de alguns comerciantes. Uns dão os pãezinhos do lanche, outros, mantimentos para o almoço e há os que são voluntários. Assim, conseguimos realizar a programação”, informa Pedro.

Andréia, de máquina fotográfica em punho, apóia com gosto. “As crianças sentem falta de atividades nas férias e, aqui, elas se divertem bastante em competições de turma e esportes radicais. É muito bom”, avalia a comerciante. Ela carregou para a diversão, também, dois sobrinhos, de 10 e três anos, e costuma levar grupos ao núcleo para incentivar a visitação a um “lugar tão lindo e pouco divulgado”. A menina Mayra Gabriely conta que se não tivesse participando das brincadeiras, provavelmente estaria assistindo à televisão ou procurando algo para fazer. “É superbom vim aqui”, afirma.

Um grande espetáculo

O nome Núcleo Engordador originou-se do fato de ter existido no local, no final do século 17, uma fazenda de engorda de gado. Ela e outras, além de chácaras, que havia ali, foram desapropriadas no ano de 1890 para a proteção dos mananciais existentes e a instalação de uma bomba, para o abastecimento de água.

Hoje, a visita ao local é também oportunidade para conhecer a Casa da Bomba, construída a partir de 1894. Ela fez parte do primeiro sistema de abastecimento de água de São Paulo, abrigando a caldeira alemã e a Bomba Robey a vapor, inauguradas em 1903 pela então empresa responsável pelo serviço, Repartição de Águas e Esgotos (RAE). Segundo Pedro Braga, o equipamento bombeava água para a Avenida Paulista, para abastecer os barões do café. “A caldeira aquecia uma parte da água para movimentar a bomba, que transportava água de três reservatórios para o alto da Serra. Dali, descia por gravidade para a Paulista”, conta Pedro.

Seu funcionamento se estendeu até 1949, quando houve a explosão da caldeira por sobrecarga. Ainda hoje pode observar no equipamento os sinais do acidente: rachaduras são visíveis nos fornos de ferro. Porém, continua de pé, assim como a Casa, tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), para apreciação. Do lado de fora, a natureza é o grande espetáculo. 

Fauna e flora

O Engordador foi o segundo núcleo do parque aberto à visitação pública e às atividades de educação ambiental, o que ocorreu em duas etapas. Primeiro, funcionou de 1992 a 1995. Dois anos mais tarde, foi reaberto graças a parceria entre o Instituto Florestal e a empresa Furnas Centrais Elétricas. Oferece portaria, sanitários, área para piquenique, um centro de visitantes com recursos audiovisuais e trilhas (dotadas de rica fauna e flora da Mata Atlântica), para um contato mais próximo com a natureza. É comum o aparecimento de macacos bugios, tucanos-de-bico-verde, lagarto-teiú, quatis e preguiças em meio às frondosas árvores centenárias, samambaias e cipós, entre outras espécies.

A trilha da cachoeira, de aproximadamente 6,5 quilômetros, passa por três quedas d’água e cruza o Rio Engordador diversas vezes. Na parte mais alta encontra-se o antigo tanque de captação de água da Sabesp. Um percurso mais leve, de 800 metros, compõe a trilha do Macuco, que passa por entre os canos que faziam parte do antigo sistema de abastecimento de água e é ladeada por um riacho. Há ainda uma trilha para mountain bike, de 1,4 mil metros, cujo terreno varia em trechos mais e menos íngremes.

Viver e defender a natureza

As atividades do programa Férias no Parque da Cantareira, da Secretaria do Meio Ambiente, diferem um pouco das oferecidas durante todo o ano pelo Núcleo Engordador, nos dias de semana, às escolas. Segundo a educadora ambiental Sandra Bianchini, todo começo de semestre há agendamento para a visitação escolar no período. São marcadas duas escolas por dia, uma para cada período (manhã e tarde), no qual, durante três horas e meia, grupos de no máximo 50 crianças, acompanhadas de monitores, assistem a vídeos e recebem orientações sobre a natureza local no centro de visitantes, percorrem a trilha do Macuco, conhecem a represa e o viveiro de mudas.

Além da gincana do lixo reciclável, o especial de férias abrange outras competições e atividades de aventura. Com o apoio da Guarda Ambiental do Município, foram instaladas uma tirolesa e uma ponte de cordas para brincadeiras com as crianças. Há ainda jogos com máscaras de animais além de almoço e lanche durante o dia.

O coordenador da educação ambiental do programa de férias, Mateus Uglar, explica que o conteúdo didático preparado para essa iniciativa é inserido de mais brincadeiras do que o desenvolvido para as escolas. E ressalta a importância de, esse ano, ter tido como ponto de partida o problema do lixo. “A quantidade que encontramos pelas redondezas é enorme, uma situação muito triste”, diz ele, que mora nos arredores do parque desde pequeno e aos oito anos já o freqüentava. “Mas como invasor”, avisa. Com o tempo e a abertura à visitação, tornou-se voluntário e depois foi contratado. “Gosto da mata, hoje estou aqui ajudando a proteger o local”, orgulha-se. 

Para lá de sustentável

Suas orientações foram observadas por Pietro Ferretti Rocco, de 11 anos. “Fiquei sabendo aqui que a gente precisa reciclar o lixo para proteger o meio ambiente”, explica o garoto. Como seu pai é voluntário no núcleo, já conhecia o parque. “A gente devia reciclar muito mais”, emenda ele, ao lado dos amigos que levou para o passeio. Para Andrews Amaro de Andrade Silva, 12 anos, que adora plantar, ficar no parque “é muito bom, porque tem bastante natureza”. Ele e o irmão Paulo Roberto, de seis, moram com os pais numa chácara próxima, onde o menino ajuda no cultivo de uma mini-horta, com coentro, alface, entre outras hortaliças.

As lições que teve nas atividades do Férias no Parque vai levar para todos de casa. “Aprendi como se separa o lixo para não destruir a natureza”. A brincadeira que mais gostou foi a Caça-çaçador, na qual os monitores vestem máscaras de animais da fauna local e, durante a corrida parecida com pega-pega, passam informações sobre as espécies. “A gente vai ganhar esse ano”, prevê Andrews, sobre a competição entre grupos. Ele faz parte da equipe preta que, no dia, tomou a dianteira após a contagem dos pontos obtidos na gincana do lixo reciclável.

Ellen Sabrina de Castro Veloso, 10 anos, aguarda ansiosa na fila sua vez de atravessar a ponte de corda. Como ela era uma das mais animadas a instigar o monitor da Polícia Ambiental a balançá-la durante a travessia de outros colegas, ao chegar a sua vez, ele brinca: “É agora que vou sacudir”. Ela vai assim mesmo. Já conhecia o Parque, mas desfrutá-lo dessa forma julga bem mais interessante. Aprendi mais brincadeiras e sei como cuidar melhor do meio ambiente”, afirma.

Remanescente de Mata Atlântica 

Localizado na zona norte de São Paulo, o Parque Estadual da Cantareira possui uma das maiores áreas de mata tropical nativa do mundo dentro de uma região metropolitana. Seus 7,9 mil hectares são formados por remanescentes da Mata Atlântica, o que equivale a aproximadamente 8 mil campos de futebol em tamanho. Trata-se de um fragmento com cerca de 5% da mata original da Serra, que abrange os municípios de São Paulo, Caieiras, Mairiporã e Guarulhos.

A Unidade de Conservação de Proteção integral foi criada por decreto em 1963, para garantir a preservação do patrimônio ecológico pertencente ao Cinturão Verde do Estado. É gerenciada pelo Instituto Florestal, vinculado à Secretaria do Meio Ambiente.

Além da mata, o parque protege mananciais como as Represas do Engordador, Barrocada e Cabuçu, e diversas espécies animais ameaçadas de extinção, entre elas o bugio, o gato-do-mato, a jaguatirica, o macuco, o gavião-pomba, o jacuguaçu e o bacurau-tesoura-grande. Resguarda ainda espécies vegetais nessa condição, como a imbuia, a canela-preta e a canela-sassafrás.

Dispõe de 90,5 quilômetros de perímetro e diversos tipos de uso do solo em seu entorno, como sítios, chácaras de recreio, condomínios de alto padrão, pedreiras, áreas densamente urbanizadas e terrenos com mata nativa. Entre os quatro núcleos de visitação, dois estão localizados na capital: um em Guarulhos e outro em Mairiporã. Todos oferecem infra-estrutura de portaria, sanitários, áreas para piquenique, audiovisual e trilhas, entre outros. São abertos ao público em geral aos sábados, domingos e feriados, das 8 às 17 horas. É cobrado ingresso de R$ 2,00. Crianças até dez anos e pessoas com 60 anos ou mais não pagam.

SERVIÇO

Como chegar:

Núcleo Engordador

Avenida Coronel Sezefredo Fagundes, 19.100

Próximo à Pedreira Itacema. Seguir pela Rodovia Fernão Dias até o quilômetro 79, sentido SP-BH. Entrar na alça de acesso para a Avenida Coronel Sezefredo Fagundes, sentido Mairiporã

Telefone 2295-3254

Núcleo Pedra Grande

Rua do Horto, 1.799

Seguir pela Marginal Tietê até a Avenida Eng. Caetano Álvares. Depois, pela Avenida Santa Inês. No cruzamento com a Avenida Luís Carlos Gentille de Laet, entrar à esquerda na Rua do Horto

Núcleo Águas Claras

Avenida José Ermírio de Moraes, 96

Divisa São Paulo/Mairiporã

O acesso é feito pela Marginal Tietê até a Ponte do Limão, seguindo pela Avenida Eng. Caetano Álvares. Depois, pela Avenida Água Fria, Avenida Nova Cantareira e Avenida José Ermírio de Moraes

Telefone 4485-3975

Núcleo Cabuçu

Estrada do Cabuçu, 2.691 – Guarulhos

Acesso pela Rodovia Fernão Dias até a Casa de David (quilômetro 80 sentido SP-BH). Seguir pela Estrada da Barrocada até a Estrada do Cabuçu, 2.691

Telefone 6401-6217

 

Simone de Marco

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)