Oficinas Culturais do Estado ampliam alcance na Capital e Interior

Mais de 26 mil pessoas já se inscreveram neste primeiro semestre

seg, 24/04/2000 - 14h04 | Do Portal do Governo


Kita é uma senhora que hoje frequenta a Oficina Cultural Amácio Mazzaropi, no Brás. Um dia, ao sair de casa, encontrou uma amiga e lhe perguntou para onde estava indo. Ela respondeu: “Vou ao Mazzaropi. Lá eu estudo, faço curso de teatro, mas também tem circo, canto, pintura, fotografia, várias oficinas. Quer saber mais? Não pago nada. É do Estado.” Kita seguiu a sugestão, mudou sua vida e, segundo ela, foi a melhor coisa que lhe aconteceu, pois teve excelentes professores e conquistou muitos amigos.
Enquanto a aquisição contínua de conhecimentos enriquece a formação cultural, o simples fato de conviver com o outro pode trazer resultados surpreendentes. Nas Oficinas Culturais do Estado não importa ser leigo ou profissional: o projeto, criado em 1996, não assume um compromisso direto com a educação formal. O que vale é aceitar o convite à reflexão, aguçar as emoções e entregar-se à percepção das próprias potencialidades.
A primeira oficina a surgir foi a ‘Três Rios’, no bairro do Bom Retiro. Hoje, chama-se ‘Oficina Cultural Oswald de Andrade’. As pesquisas revelaram que o público de baixa renda dificilmente se integrava em suas programações, sendo criado o projeto ‘Oficinas de Bairro’. As atividades se estenderam a Itaquera, São Miguel Paulista, Brás, Tatuapé e Lapa. Também é destaque do projeto a criação da Oficina da Palavra, voltada para a área de literatura, na Barra Funda.

Como funcionam as Oficinas Culturais

Os cursos, sempre gratuitos, e coordenados pela Secretaria de Estado da Cultura, abrem um leque de opções: acervos culturais, administração cultural, artes plásticas, cinema, circo, cultural geral, dança, design, folclore, fotografia, história em quadrinhos, literatura, meio ambiente, multimídia, música, ópera, rádio, teatro e vídeo.
Existem oficinas de curta, média e longa duração. Há também workshops, seminários, encontros e ciclos de palestras. O término de um curso sempre culmina em produtos finais, tais como espetáculos e mostras, que podem até ser itinerantes. Isso proporciona um intercâmbio entre as oficinas e uma maior inserção no meio social.
Os interessados em frequentar uma Oficina Cultural devem ficar de olho na abertura das inscrições, no endereço mais conveniente e nas suas aptidões. A direção da oficina exige uma carta de interesse redigida pelo candidato. Com ela começa o processo seletivo, seguido de uma entrevista. Sem o caráter profissionalizante, os cursos permitem adquirir uma declaração de conclusão, se comprovada a frequência mínima de 75% às aulas.
A Oficina Amácio Mazzaropi, no Brás, é referência na Grande São Paulo. Foi criada em 1990, nas antigas instalações de uma fábrica de óleo, o Olifício Autorino, e batizada com o nome do ator e cineasta. Lá existem quase 1.500 vagas, para programas que duram entre três e quatro meses. São duas aulas semanais, com quase duas horas de duração cada. Nessa oficina circulam, diariamente, cerca de 200 pessoas das comunidades do Brás, Belém, Moóca e Pari.
Eneida Palermo, coordenadora da unidade, conta que o bom aproveitamento dos trabalhos se faz em razão dos espaços versáteis. “Temos salas de aula, de leitura, praça de eventos e até um teatro com 300 lugares. Para alguns, é a chance de lazer, de simples convivência. Para outros, é uma reciclagem de conhecimentos, nos caminhos da profissionalização”, conta Eneida. Uma sala, que de manhã abrigou uma oficina de música, transforma-se, à tarde, em espaço para aulas de interpretação dramática.
Ao traduzir o perfil dos frequentadores, Eneida fala de atividades infantis, vibra ao descrever aulas com os jovens e se emociona ao relatar o reencontro dos idosos com os prazeres da vida. Tudo por meio da arte e de suas manifestações. “Tiramos a passividade de alguns, alavancamos o talento de outros, mexemos com a auto-estima, discutimos conflitos, exercitamos a solidariedade”, resume.
Com o Programa ‘Criar não tem idade’, as oficinas culturais passaram a atender os idosos, em parceria com a Estação Especial da Lapa, do Fundo Social de Solidariedade do Governo. Segundo Eneida, a cultura é uma forma de libertação às gerações reprimidas, que massageiam a auto-estima, além de adquirirem novos conhecimentos. “Entram tímidas e saem falantes, radiantes ”, explica.
Para a atriz e diretora de teatro Elvira Gentil, o trabalho de arte educação feito pelo Estado é gratificante. “Estamos realizando um projeto inédito, intitulado ‘Ópera Estúdio’, que ensina 120 cantores amadores a desenvolver personagens, por meio da interpretação dramática”, explica Elvira. E acrescenta: “eles vêm de longe, motivados, acima de tudo, pela qualidade dos trabalhos”.
Sob a batuta das professoras Lenice Prioli e Adélia Issa, passam vários cantores líricos na oficina do Brás. Das 10 às 17 horas, elas recebem, a cada meia hora, duos ou trios, acompanhados pelas pianistas Terão Chebl e Maria Aparecida Razzoti. Eles aquecem as cordas vocais, aprendem mais um pouco, e seguem ao palco para o aprendizado de interpretação.
Se cursar canto lírico pode despertar o interesse em teatro, este, por sua vez, estimula à dança. Quando o aluno percebe, está respirando cultura o tempo todo. Isso pode se traduzir em um simples passatempo ou acabar gerando novas alternativas em profissões o que, para a alegria de muitos, significa a complementação de renda.
Os irmãos Selma e Marcos Pavanelli são um exemplo. Há sete anos começaram a frequentar atividades circenses e transformaram o malabares e a perna-de-pau em profissão. “Ganhamos R$ 100,00 por duas horas de apresentação em festas, feiras, em vários eventos”, diz Selma. Ela deixou de ser secretária e, ele, bancário. Para os dois, a qualidade dos treinamentos equivale às escolas pagas, que cobram R$ 100,00 por duas aulas semanais. “Os cursos do Estado não deixam nada a desejar”, arremata.

Interior

Ao interior do Estado reservou-se o programa ‘Oficinas Culturais Regionais’ que, além do município-sede, passou a atender a população de cidades que pertencem à região administrativa. Foram, assim, criadas as oficinas de Bauru, Ribeirão Preto, São Carlos, Presidente Prudente, Santos, Sorocaba e Limeira. Mais de 50% da vagas oferecidas estão no interior paulista. Enquanto na Capital a unidade de São Miguel Paulista absorve mais de 1.400 alunos, Presidente Prudente recebe quase 4 mil inscritos.
Entre 1995 até o primeiro semestre de 2000 foram oferecidas 195 mil vagas, aproximadamente 47% do total de vagas disponibilizadas desde o início do projeto. Esse número aumentou mais de 11% em comparação com os quatro anos anteriores, alcançando a marca de 168 mil. Em 1999, os 1.300 cursos existentes receberam mais de 45 mil alunos em todo o Estado. Somente no primeiro semestre deste ano, foram abertas mais de 26 mil vagas, um número que deverá se repetir no segundo semestre de 2000.
Para mais detalhes, visite a página da Secretaria de Estado da Cultura: www.cultura.sp.gov.br. Conheça também os endereços e horários de atendimento das Oficinas Culturais da Capital e do interior por intermédio do endereço eletrônico www.oficinasculturais.sp.gov.br. Informações podem ser obtidas no Departamento de Formação Cultural, à Rua Mauá, 51, sala 316 – 3o andar – CEP 01028-900, tels. (0 XX 11 3351-8087 e 3351 8088).