Jovens Acolhedores fazem diferença em hospitais do Estado

Mais de 2 mil universitários passaram pelo programa. Este mês, nova turam entra em campo, composta por 686 jovens

sex, 03/08/2007 - 10h51 | Do Portal do Governo

De hospital, eles gostam tanto quanto qualquer paciente na fila do pronto socorro. De atendimento médico, conhecem tanto quanto um calouro de medicina. Parece loucura, mas é exatamente esse o perfil dos universitários selecionados para uma das ações mais bem sucedidas da Secretaria Estadual da Saúde, o programa Jovens Acolhedores. Desde 2003, já passaram pelo programa cerca de 2 mil estudantes. Na quarta-feira, 1º, uma nova turma de 500 jovens entrou em ação nos hospitais estaduais. E outros 186 universitários estão se preparando para iniciar o trabalho em setembro.

São rapazes e moças que não dispõem de recursos para pagar as mensalidades da faculdade, ficam sabendo do programa e se inscrevem. Quando sai o resultado do sorteio, eles mal acreditam: vão trabalhar no auxílio de pacientes hospitalares a R$ 350 por mês – muito dinheiro para uma bolsa de estudos, em se tratando de jovens com recursos escassos. Atuam por um ano e depois são substituídos por uma nova leva de universitários.

Há quem preencha o cadastro sem a menor idéia do que vêm pela frente, mas outros têm muita clareza do que estão fazendo. Foi o caso do estudante Gustavo Misson, de 19 anos. Quarta-feira, 1º, foi seu primeiro dia como “jovem acolhedor” no Complexo Hospitalar do Juquery – Franco da Rocha. Ele não chegou lá por acaso: quem deu a dica do programa foi uma amiga, ex-bolsista do Jovens Acolhedores.

“Ela me contou sobre o programa e fiquei interessado. Além de pagar a faculdade, também é uma ótima oportunidade para ajudar as pessoas”, contou o rapaz. Seu expediente no hospital vai das 8 da manhã ao meio-dia. Durante a tarde faz cursos e à noite freqüenta as aulas do quarto semestre de administração.

Na quarta, Misson assistiu algumas palestras, recebeu as primeiras recomendações e já foi trabalhar. Quinta-feira foi o dia de receber os pacientes no ambulatório da unidade. “Ainda estou um pouco perdido, mas logo vou conhecer tudo aqui dentro do hospital”, disse entusiasmado.

A presença do estudante é muito bem-vinda pela administração do hospital. Para se ter uma idéia, em um ano de atividade, o número de queixas relativas ao atendimento diminuiu 40%. “Os Jovens Acolhedores fazem toda a diferença”, diz a diretora do hospital, Maria Teresa Gianerine Freire.

No começo do programa, em 2003, os funcionários ficaram desconfiados. Eles não sabiam ao certo qual era o papel dos bolsistas na instituição. Com o tempo, a interação só aumentou. “O relacionamento é tão bom que, às vezes, os próprios funcionários tiram dúvidas com os jovens”, conta a diretora.

Experiência rica

Para os jovens, a missão, que parece das mais difíceis, logo se mostra uma experiência enriquecedora. Quem garante é o estudante do quarto ano de arquitetura Celso Roberto Lourenço, de 29 anos. Morador da zona leste da Capital, ele nem mesmo achava que a unidade da região era de qualidade. Quando entrou no Hospital Geral de São Mateus, tinha dúvidas se o que estava fazendo era a melhor forma de garantir seu futuro.

Doze horas de capacitação e muitas mesas-redondas depois, ele foi a campo. “Meu trabalho é auxiliar os pacientes. Mostrar-lhes onde fica a sala com o aparelho de raios-X, a fila para serem atendidos no ambulatório, onde podem fazer exames de rotina”. São coisas simples, mas que fazem toda a diferença no atendimento dos enfermos.

A presença dos 11 integrantes do Jovens Acolhedores no São Mateus mudou o clima do hospital. O termo que define essa guinada chama-se “humanização”, explica o diretor Jairo Autair Georgetti. O conceito vai desde um “bom dia” dito pelos profissionais aos pacientes, passa por abolir burocráticos guichês de atendimento e vai, claro, até programas como aquele no qual  Lourenço atua.

“Observamos uma mudança na imagem que o hospital tinha perante a sociedade. Com o programa, verificamos que as pessoas passaram a achar este ambiente mais acolhedor”, argumenta Georgetti. Vale dizer que outra medida de humanização criada pelo hospital é o Conte Comigo, onde profissionais ficam à disposição para o esclarecimento de dúvidas.

Tira-dúvidas

A primeira turma do São Mateus começou seu trabalho no dia 1º de setembro de 2005 e contou com a presença de 13 jovens. A segunda leva teve início no dia 1º de agosto do ano seguinte e ainda seguirá no batente por mais dois meses. Sob o comando de uma psicóloga do RH do hospital, a cada quinze dias são feitas reuniões que se estendem por mais de quatro horas. É o momento de trocar experiências, apontar soluções e lançar novos desafios.

No dia-a-dia, eles ficam espalhados pelo ambulatório, pronto socorro e centro obstétrico do hospital. Neste último, o clima é dos melhores: apesar da ansiedade, futuros papais e mamães geralmente estão de muito bom humor. Bem ao contrário do pronto socorro, onde, pela gravidade dos casos, a tensão está no ar, mas sempre rende histórias – boas ou não.

No ambulatório toma corpo um fenômeno inusitado na rotina dos Jovens Acolhedores. É uma espécie de “síndrome dos idosos solitários”. Sem companhia para compartilharem as experiências acumuladas ao longo da vida e com uma agenda cheia de consultas médicas, os integrantes da terceira idade recorrem aos “amigos” do programa. “Como eles têm marcada consulta para retorno, puxam papo, conversam bastante e logo ficam amigos”, conta Lourenço.

De acordo com o diretor do hospital, os Jovens Acolhedores têm algum tipo de contato com os pacientes em 80% dos mais de cinco mil atendimentos realizados no ambulatório. Em função da velocidade, o número cai um pouco no pronto socorro, que funciona 24 horas por dia e realiza 16 mil atendimentos por mês. Metade dos pacientes que passam por ali recebe orientações dos Jovens.

Há assuntos que ficam de fora desses diálogos. Os Jovens Acolhedores não podem dar palpites sobre o preço de medicamentos, qual médico mais indicado para determinado problema ou qual o laboratório que entrega os exames com mais rapidez. É possível argumentar que nem poderiam: os integrantes do programa devem ser estudantes da área de humanas e da saúde, o quê já fez com que a relação de Jovens contasse com alunos de letras, psicologia, radiologia e, como no caso de Lourenço, arquitetura. Estudantes de medicina não participam do programa por um simples motivo: o curso exige dedicação em período integral.

Portal

A Secretaria Estadual da Saúde criou um portal na internet voltado aos interessados em participar do programa. O endereço é http://www.jovensacolhedores.saude.sp.gov.br .  Lá estão informações sobre os institutos educacionais e unidades de saúde que fazem parte do programa, além da lista dos selecionados para mais uma edição do programa, que teve início este mês.

Manoel Schlindwein