IPT auxilia Prefeitura de SP na concessão de selo de acessibilidade para sites

Equipe inclusiva do Instituto de Pesquisas Tecnológicas promove ações em parceria com a administração municipal da capital

ter, 12/11/2019 - 17h33 | Do Portal do Governo

Integrantes do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, realiza testes com uma equipe inclusiva para auxiliar a Prefeitura de São Paulo no processo de concessão de selo de acessibilidade.

Desde 2018, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência da capital concede o chamado Selo de Acessibilidade Digital. O Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade, do IPT, tem a responsabilidade de avaliar, em uma das etapas do processo de concessão do selo pela prefeitura, se os sites e os portais atendem realmente os parâmetros de acessibilidade para os usuários.

Por vezes, os usuários enfrentam dificuldades ao acessar um site na internet ou quando são solicitados a digitar uma sequência de letras e/ou dígitos distorcidos. Os captcha funcionam como uma ferramenta para evitar spams ou mensagens disparadas por computadores ou robôs e, até mesmo para quem tem visão normal, incomodam.

Além disso, o deficiente pode apresentar dificuldades para decifrar esse verdadeiro “enigma” criado para diferenciar humanos de máquinas. Vale destacar que os captcha podem impedir os usuários cegos de navegar quando não está disponível a versão em áudio – e eles trazem problemas também a pessoas com dificuldades de interpretação de textos, como os disléxicos, por exemplo.

Os daltônicos podem não conseguir visualizar conteúdos expressados por diferenciação de cores, como o vermelho e o verde. É por isso que portais e sites devem ser desenvolvidos com a premissa de acessibilidade disponível a todos os públicos.

Selo

No IPT, um dos responsáveis pela avaliação é Jonathan Alves Nogueira, graduado em gestão de Tecnologia da Informação. Deficiente visual, ele entrou no instituto em junho de 2018, pouco após a assinatura da parceria com a Prefeitura, para ser um dos responsáveis pela análise das webpages que solicitam o selo.

“Em 2017, ingressei na Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo, a Prodam, como estagiário na Gerência de Projetos de Ágeis. Entrei em uma equipe de desenvolvimento e trabalhei em testes de acessibilidade, não como programador, mas para a avaliação de apps como o SP Taxi e o aplicativo oficial do Carnaval de Rua de São Paulo”, explica.

“Um colaborador da Secretaria da Pessoa com Deficiência me indicou para essa vaga no IPT, por conta do lançamento do selo, e estou aqui há um ano nos trabalhos de acessibilidade digital”, acrescenta.

O trabalho do profissional é basicamente feito na residência dele e as atividades são executadas em parceria com o técnico Diogo Honorato Montagner. As empresas solicitam à Prefeitura uma avaliação para a obtenção do selo de acessibilidade e a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) comunica ao IPT os pedidos para avaliação dos sites e portais.

Ações integradas

A CPA é um órgão composto por representantes de diversas secretarias, órgãos municipais e sociedade civil, que tem papel consultivo e deliberativo nos assuntos que incluem acessibilidade em edificações, logradouros, mobiliário urbano, transporte e comunicação, realizando vistorias e análise de projetos e também coordenando ações integradas nas diversas secretarias da administração municipal para a eliminação de barreiras arquitetônicas e de comunicação na cidade.

Para realizar o trabalho, Jonathan Alves Nogueira utiliza um software de leitura de tela que transforma as informações visuais dos computadores em áudio. “Preenchemos durante a avaliação um check list na qual estão relacionados os itens principais do portal, como formulários, gráficos, recursos de audiodescrição, tabelas e links”, diz Jonathan Alves Nogueira, lembrando que cerca de 50 itens são analisados.

“No caso dos formulários, por exemplo, alguns sites incluem como canal de comunicação o ‘Entre em Contato Conosco’ e solicita-se ao usuário preencher nome, e-mail e outros dados. Os itens que são obrigatórios devem ser marcados para a captura pelo leitor usado pelo deficiente, mas é preciso que eles tenham uma marcação. Indicamos, então, se a página atende ou não aos requisitos de acessibilidade”, salienta.

Os usuários com deficiência visual ou motora utilizam o teclado para navegar pelas páginas web com seus browsers e, para facilitar o acesso, são utilizadas teclas combinadas, também chamadas de botões de atalho ou de navegação (em outras palavras, é uma tecla isolada ou um conjunto delas, que substituem a manipulação do mouse para a execução de tarefas).

“Precisamos de páginas que facilitem avançar para um determinado conteúdo sem precisar passar por todos os links, pois o leitor de telas faz isso. Ele ‘lê’ tudo o que está disponível na tela. Com as teclas de atalhos, o usuário consegue avançar diretamente para um bloco de conteúdo, o que é muito bem avaliado por nós”, diz Jonathan Alves Nogueira.

Imagens

Antes de uma empresa ou instituição, pública ou privada solicitar a avaliação ao IPT, é necessário que o site tenha alcançado, no mínimo, um índice de 95% de acessibilidade no teste realizado por meio de uma ferramenta disponibilizada pelo Governo Federal. O Avaliador e Simulador de Acessibilidade em Sítios (ASES) é o instrumento que permite avaliar, simular e corrigir a acessibilidade de páginas, sítios e portais.

O ASES consiste em um sistema computacional que extrai o código HTML (url, arquivo ou código fonte) de uma página web e faz a análise do seu conteúdo, fundamentado em um conjunto de diretrizes de acessibilidade, que são as recomendações do Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG). É inserido o link do site nesse avaliador automático e o resultado aparece em porcentagem, em poucos minutos.

Quando o IPT recebe um pedido para fazer a avaliação em algum site ou portal, as tarefas são divididas entre a dupla de profissionais do centro. Como um deles é deficiente visual, consegue verificar os problemas com mais propriedade do que uma pessoa que enxerga, segundo Diogo Honorato Montagner.

“Fazemos a análise nos mesmos portais, mas eu me concentro em avaliar os elementos visuais. Por exemplo, no caso de um usuário dar o zoom em uma tela, é verificado se as imagens não irão se sobressair em cima dos textos ou se a página deixará de ser responsiva. O ideal é que ocorra um realinhamento para manter as condições da tela. Somente uma avaliação manual como a que executada por nós permite descobrir os pontos fracos dos portais que não foram detectados durante a investigação pelo ASES”, afirma.

Um dos principais itens avaliados para a concessão do selo diz respeito às definições das imagens empregadas nas webpages: todas devem conter descrições claras ao usuário que acessa um site ou um portal com um leitor de telas. “As definições são inseridas pelos desenvolvedores de websites, e devem ser uma narrativa para o usuário ter uma ideia do conteúdo das imagens. Ela é usada também para gráficos, que muitas vezes são complexos”, acrescenta Diogo Honorato Montagner.

Segundo ele, esse representa um dos principais itens em que são encontrados problemas, por conta de duas questões: é difícil encontrar imagens com descrições compreensíveis e, no pior dos casos, elas nem mesmo foram incluídas.

Navegação

Os resultados do segundo estudo de acessibilidade em sites do Movimento Web para Todos, feito em conjunto pelo Ceweb.br, que é o Centro de Estudos sobre Tecnologias Web do NIC.br, com o apoio do W3C Brasil, apontou o seguinte problema em 2018: os 15 sites de e-commerce mais acessados no Brasil, segundo o Ranking de Acessos do Alexa, passaram por uma análise de especialistas em acessibilidade e usabilidade e 76% dos usuários que navegaram com o leitor de tela declararam que não foi possível entender as imagens de acordo com a sua descrição.

A análise no IPT não é feita somente para os deficientes visuais: a ideia é englobar todos os tipos de deficiência. “Em relação aos autistas, a análise presta atenção ao contraste das cores, a uma página que lança mão de tons como rosa choque e verde fluorescente, assim como aquelas que exibem uma grande quantidade de comerciais ‘saltando’ na tela. Isso incomoda o usuário. Existem algumas paletas de cores mais suaves”, lembra Diogo Honorato Montagner.

“Para os disléxicos, há algumas dicas de formatação de texto que ajudam o internauta a não se embaralhar na leitura do texto, como espaçamento e letras maiores. Além disso, os textos justificados tendem a incomodar os disléxicos, e soluções simples como o alinhamento à esquerda podem ajudar”, ressalta.

Inclusão

Quase 24% da população brasileira são compostos por pessoas com alguma deficiência, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa cerca de 45 milhões de pessoas.

Segundo o artigo 63 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 6 de julho de 2015, é obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País, ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.

Hoje, no entanto, levantamentos não oficiais apontam que o total de páginas acessíveis no Brasil está na faixa de 2% a 3%. “Os deficientes estudam, trabalham e são consumidores: queremos acessibilidade. Estamos ajudando o dia a dia das pessoas dando feedback aos programadores que desenvolvem sites. Eles precisam pensar em acessibilidade, seja nas páginas de bancos, serviços públicos ou de agências de viagens. As informações devem estar disponíveis a todos os públicos. A empresa que deixa seu site acessível tem um público muito maior”, afirma Jonathan Alves Nogueira.

“Hoje em dia, existem boas ferramentas para criar portais responsivos e de qualidade, mas ainda assim falta conhecimento. Cada vez mais se discute a questão da inclusão e os responsáveis pelo desenvolvimento dos sites precisam ter essa cultura. Isso, inclusive, deveria ser discutido nas próprias faculdades e universidades”, finaliza Diogo Honorato Montagner.