Instituto do Câncer e HC tratam câncer de rim com técnica pioneira e menos agressiva

Tecnologia americana aplicada no atendimento de câncer renal é avanço no serviço público

qui, 11/02/2010 - 20h00 | Do Portal do Governo

O refluxo estomacal motivou o senhor Amandio Heleno, de 70 anos, a procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, no Alto da Mooca, zona leste da capital paulista. A médica solicitou ultrassonografia abdominal e descobriu, por acaso, o diagnóstico de câncer no rim direito. Então, ele foi encaminhado ao Ambulatório de Uro-oncologia do Hospital das Clínicas (HC) e Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) para tratamento da doença.

Por sorte, o tumor ainda era pequeno (cerca de três centímetros). Amandio chegou ao Icesp no final de junho do ano passado. Dois meses depois, fez uma cirurgia chamada crioterapia, processo de congelamento do tumor, numa temperatura entre menos 20ºC e menos 40ºC, para a morte das células cancerígenas. O procedimento, pioneiro na instituição pública do Estado de São Paulo, é realizado no Icesp há quase um ano.

“O pessoal do hospital está de parabéns! A operação, pós-cirúrgico, médicos, enfermeiros, é tudo de primeiro mundo!”, avalia o senhor Amandio, um português que vive no Brasil desde os 14 anos de idade. Sua esperança é que o tumor não retorne no futuro.

Menos dor 

Nos casos de tumor de rim com até três centímetros, considerado pequeno, o instituto também emprega a radiofrequência, técnica que aquece a região afetada a 80ºC. Crioterapia e radiofrequência têm a mesma função: atingir todas as células cancerígenas do rim e destruí-las. Nos dois procedimentos, a tecnologia importada dos Estados Unidos utiliza aparelho instalado numa espécie de agulha que transmite corrente extremamente gelada ou quente direto na lesão, puncionando-a. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) oferece recursos para a aquisição das agulhas descartáveis.

O oncologista Marcos Dall’Oglio, chefe do setor de uro-oncologia do Icesp, explica que na cirurgia convencional a incisão começa na região lombar para atingir o rim e retirar o tumor. Em média, o procedimento exige cinco dias de internação e o retorno às atividades sociais só ocorre após três ou quatro semanas. Ele estima 99% de precisão.

“Já as duas novas operações geram menos agressão física, pois o corte não é grande, apenas punção. Assim, o doente sente menos dor e menos traumas”, informa o doutor Marcos, que também é oncologista e professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Após 24 ou 48 horas do procedimento, o paciente recebe alta médica e pode retornar ao trabalho em uma semana. A eficiência na destruição das células varia de 90% a 95%.

Doença silenciosa 

Desde março de 2009, o Icesp realizou 30 operações com a nova técnica. “Somente um paciente passou por outra cirurgia. Os demais tiveram recuperação total”, informa o chefe de uro-oncologia. E acrescenta: oferecer essa tecnologia é um avanço para o serviço público no atendimento de câncer renal.

A assistência é realizada pela parceria do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com o Icesp. O Ambulatório de Uro-oncologia do HC e do Icesp atende câncer dos rins, próstata, bexiga, pênis e outros órgãos do aparelho geniturinário. Todo mês, são registrados mil atendimentos e 150 cirurgias.

O câncer renal responde por 30 cirurgias mensais. Dez por cento delas são casos de tumor pequeno (até 3 centímetros) dos rins encaminhados à crioterapia e à radiofrequência. “Estamos aptos a oferecer 30 cirurgias por mês com essas novas técnicas, porém, a maioria dos casos que chega o tumor já está grande”, frisa o doutor Marcos. Devido à baixa demanda pelos novos procedimentos, a assistência é imediata. Não há fila de espera.

Entre os pacientes atendidos, somente 10% apresentam tumor de até três centímetros. Noventa por cento dos doentes procuram o hospital com o tumor com mais de 4 centímetros, que exigem intervenção mais agressiva. “Esse porcentual indica falta de prevenção”, alerta. Até 3 centímetros, as células cancerígenas se desenvolvem silenciosamente, pois o doente não se queixa de dores físicas.

Causa 

O oncologista Marcos recomenda que pessoas acima de 40 anos, mesmo sem sintomas físicos, procurem o clínico geral ou o urologista em média a cada dois anos e solicitem ultrassonografia abdominal ou tomografia computadorizada do abdome. “O ultrassom é barato e disponível em diversos centros de saúde públicos. Essa é a melhor estratégia de prevenção”, afirma.

Como o tumor do rim cresce lentamente (entre dois e três milímetros por ano), ele informa que realizar ultrassom a cada dois anos “vigia o órgão com segurança”. No Brasil, a doença atinge principalmente pessoas acima de 50 anos, na proporção de três homens para uma mulher. No mundo, a relação é a mesma entre o sexo feminino e o masculino.

O câncer de rim é o terceiro tipo de câncer urológico mais incidente no Brasil. Entre os sintomas, o mais frequente é a presença de sangue na urina. Hipertensão, fumo, consumo excessivo de medicamento diurético e histórico de câncer na família influenciam o desenvolvimento da doença. Fatores ambientais desconhecidos também contribuem, informa o médico.

Serviço
Para ser atendido no Ambulatório de Uro-oncologia do HC e do Icesp, o paciente com diagnóstico de câncer deve ser encaminhado pelas unidades de saúde. O atendimento inicial ocorre toda quarta-feira, das 8 às 12 horas, no HC da FMUSP.

Da Agência Imprensa Oficial