Fundação Procon-SP divulga balanço anual da variação da cesta básica

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qui, 30/12/1999 - 17h40 | Do Portal do Governo

A Fundação Procon-SP, órgão da Secretaria da Justiça do Governo do Estado de São Paulo, constatou que em 1999 a cesta básica Procon/Dieese apresentou alta de 14%. O preço médio que em 30/12/98 era R$ 121,93, passou para R$ 139,00 em 30/12/99. Por grupos foram constatadas as seguintes variações: Alimentação 12,43%, Limpeza 19,33% e Hig. Pessoal 21,95%. Trata-se de pesquisa feita diariamente desde 1990 abrangendo 68 itens pesquisados em 70 supermercados da cidade de São Paulo.

No início do ano a cesta apresentou uma tendência de alta, decorrente da desvalorização do real praticada em janeiro, com pico em 16/3/99, quando seu valor foi de R$ 132,29. Após esta fase, iniciou-se uma trajetória decrescente, culminando com um período de estabilidade relativamente longo, pois durante os meses de junho, julho e agosto, a cesta variou entre os valores de R$ 119,82 (menor valor do ano verificado em 23/8/99) a R$ 123,78 em 15/6/99. Tanto o período de quedas freqüentes como o de estabilidade, teve como fator determinante, o bom desempenho do setor agropecuário, já que fomos premiados com boas safras, que elevaram os níveis de oferta em geral. Presenciamos ainda, no primeiro semestre um forte recuo na demanda mundial, a qual colaborou com a queda nos preços, pois países asiáticos e Rússia, consumidores em larga escala de commodities de nossa pauta de exportação, atravessavam crises econômicas. Contribuíram ainda para a estabilidade, a queda da massa salarial e o temor do desemprego, pois muitos consumidores substituíram marcas e até mesmo deixaram de consumir produtos básicos, diante de qualquer majoração, mais expressiva. Esta atitude, levou as grandes redes de supermercados a negociar preços baixos, junto a seus fornecedores, para manter as vendas, já que além de grande concentração, existe forte concorrência neste setor. Nessa fase, a cesta se mostrou insensível até mesmo ao aumento das tarifas públicas, dos combustíveis e da greve dos caminhoneiros, ocorridos em julho.

Em setembro tivemos um recuo na oferta de vários produtos da cesta em decorrência da entressafra, mais intensa e prolongada e, também, devido ao incremento nas exportações aliado a um recuo nas importações propiciados pela desvalorização cambial. Preços internacionais foram pressionados também, com o aumento na demanda mundial ocorrida no segundo semestre do ano. Em dezembro, presenciamos uma alta generalizada de vários produtos da cesta, mais em função do aumento de renda ocorrido nesta época do ano, do que de qualquer outro fator altista, determinante de preço.

O feijão carioquinha (variação de – 30,90% no ano, com preço de R$ 1,78 em 30/12/98 e R$ 1,23 em 30/12/99 ), apresentou, no primeiro semestre, uma escala decrescente de preços, com pico de queda em julho chegando a R$ 0,75, devido ao aumento na oferta, já que a alta de 125,32% verificada em 1998 animou intensamente os produtores. Nesta época, juntamente com o arroz, o feijão foi uma das âncoras da cesta. Porém, em agosto, época de entressafra do grão, verificamos o início da reversão desta tendência, pois a queda de preço levou a uma redução na área plantada que somada a geadas no Sul e chuvas no Nordeste, provocaram grande queda na oferta. Ocorreu também especulação por parte dos produtores. Em novembro, os preços recuaram, pois os produtores ofertaram a mercadoria antes retida, além do que, neste mês havia expectativa da entrada da safra, em dezembro, proveniente do Sul. Os preços deveriam cair ainda mais em dezembro, por ser também mês de férias escolares, portanto de baixo consumo do grão, porém os estragos provocados pela estiagem, e demais adversidades climáticas, decorrentes do fenômeno La Niña, levaram a uma redução na área plantada, que não permitiu novas quedas.
No primeiro semestre, o açúcar (variação de 40,29% no ano, com preço de R$ 2,06 em 30/12/98 e R$ 2,89 em 30/12/99) apresentou as cotações mundiais mais baixas dos últimos 14 anos, pois a safra 98/99 foi a quarta em que a oferta mundial superou a demanda, que estava bastante retraída devido as crises econômicas da Rússia e países asiáticos. Mesmo assim os produtores se animaram para aumentar suas plantações. O pico de queda foi em junho com o preço em R$ 1,71. No segundo semestre os preços aumentaram devido ao crescimento da demanda mundial e, conseqüente elevação nas exportações, somado à seca ocorrida no Brasil, maior produtor e exportador mundial de açúcar. Outra causa desse aumento foi o estímulo promovido pelo governo para o uso do carro a álcool. No segundo semestre, o açúcar acumula alta de 69,01%.
No rol das altas importantes da cesta, não podemos deixar de mencionar o milho que, embora não faça parte da pesquisa diretamente, juntamente com a soja é o insumo básico das carnes de frango e suína. A safra 98/99, foi a quinta em que a oferta foi menor que a demanda, a qual foi pressionada pelo aumento nas exportações de aves e suínos. Ocorreu ainda atraso no plantio da safra de verão, pressionando mais ainda os preços do grão, e conseqüentemente do frango, dos ovos, da salsicha e da lingüiça. Somado a esses fatores fomos onerados com os custos mais elevados das importações advindos da desvalorização cambial. Assim, os avicultores que trabalharam no primeiro semestre, com preços abaixo do custo, não suportaram a mesma situação no segundo semestre e na sombra do aumento da carne bovina, elevaram seus preços a níveis recordes desde o início do plano real. Contribuíram também para a alta, o aumento do volume exportado da ave. E assim, o frango que em 30/12/98 custava R$ 1,32, em maio R$ 1,13 (apresentando, neste mês, uma variação acumulada no Plano Real de -3,42%), fechou o ano em R$ 1,76 preço de 30/12/99, levando a uma variação no semestre de 54,39%, no ano de 33,33% e no Plano Real de 50,43%.

Para a elevação da cesta no segundo semestre, o aumento da carne (com variação no ano de 23,13% carne de 1ª e 27,68% carne de 2ª) foi relevante, não tanto pelo patamar atingido, mas sim devido ao seu peso na composição total da cesta, sem esquecer que o preço deste produto tem forte influência na composição do preço do frango. Neste ano a pecuária foi castigada com a pior estiagem dos últimos 10 anos, o que levou a arroba a apresentar uma alta de 40%, na entressafra, sendo que o aumento médio da arroba, verificado nos anos de 95 a 98 foi de 8%. Contribuiu para a elevação, a pressão exercida pelos frigoríficos exportadores, que enxugaram mais ainda uma oferta interna, já bastante retraída. Assim, os preços da carne tiveram um comportamento estável ao longo do ano, com o preço mínimo de R$ 4,47 em agosto (carne de primeira) e R$ 2,92 em janeiro (carne de segunda). A estiagem prejudicou de tal forma os pastos que a próxima safra não será suficiente para normalizar a oferta, sendo que o incremento dados pelo setor pecuário às exportações dificilmente permitirá que a carne bovina volte aos preços baixos de antes.

O café (variação de 45,13% no ano, preço de R$ 1,95 em 30/12/98 e R$ 2,83 em 30/12/99, teve no primeiro semestre os preços estáveis, pois as geadas previstas não se concretizaram, sem contar que a safra 98/99 foi recorde nos últimos 11 anos. No segundo semestre a estiagem prejudicou intensamente as lavouras sendo projetada quebra na ordem de 40% na safra 2000/2001, cuja colheita se inicia em maio. O governo aumentou o volume leiloado, na tentativa de segurar os preços que foram majorados em 23,58% para o consumidor final no último trimestre, como reflexo desta adversidade climática.

Para a elevação de preço do Grupo Higiene foi decisiva a alta verificada nos preços internacionais do papel e da celulose, que somada à desvalorização cambial, levou os fabricantes deste segmento a destinar grande parte de sua produção ao mercado externo, pressionando os preços do Papel Higiênico (com variação de 50,55 % no ano, preço R$ 0,91 em 30/12/98 e R$ 1,37 em 30/12/99) que após apresentar o preço mínimo de R$ 0,88 em fevereiro, com um comportamento estável de janeiro a julho, apresentou a alta mais expressiva, em termos absolutos, da cesta.

Em 1999 o abastecimento continuou normal e o supermercado mais barato foi o Futurama da Rua Gal. Jardim, 400. V. Buarque da região Centro.

A variação acumulada da cesta básica Procon/Dieese desde o início da Plano Real foi 30,64%.