Fapesp apoia pesquisa sobre processos de cura de feridas crônicas

Alternativas para cicatrização são investigadas por cientista colombiana, com auxílio de pesquisador do Instituto Butantan

qui, 12/07/2018 - 14h49 | Do Portal do Governo

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financia um estudo sobre a cura de feridas crônicas e que tem participação de pesquisador do Instituto Butantan. Vale destacar que, segundo especialistas, o processo de cicatrização envolve as etapas de inflamação, proliferação e regeneração.

Feridas crônicas são aquelas que permanecem no estado inflamatório e, passados mais de seis meses, ainda não cicatrizaram, como no caso das úlceras originadas por leishmaniose ou de feridas de pé diabético, o que, por vezes, resulta em amputação.

Assim, a “larvoterapia”, uma forma antiga de tratamento descartada após o uso dos antibióticos, está sendo reabilitada agora em hospitais dos Estados Unidos, Europa e América Latina. Em território brasileiro, a técnica é aplicada no Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal, no Rio Grande do Norte.

O procedimento usa larvas de mosca para remover o tecido necrosado, romper o biofilme bacteriano, eliminar as bactérias e promover o crescimento de tecido sadio. Ainda de acordo com especialistas, o tratamento mostra eficiência na cura das feridas.

Pioneirismo

O assunto é objeto de análise de Andrea Diaz Roa, doutoranda no Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICS), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fapesp.

Nascida na Colômbia e pós-graduanda em Ciências Biomédicas na Universidad del Rosário, de Bogotá, a cientista é orientada no CeTICS pelo pesquisador científico do Instituto Butantan Pedro Ismael da Silva Jr.

“Ela fez um trabalho pioneiro, realmente inovador, sobre o peptídeo antibacteriano sarconesina, produzido pela larva da mosca Sarconesiopsis magellanica”, destaca Pedro Ismael da Silva Jr. O trabalho foi apresentado na 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, promovido em Joinville, em Santa Catarina, no mês de maio.

Andrea Diaz Roa foi a primeira a identificar, sequenciar e descrever a estrutura do peptídeo, atribuindo o nome sarconesina, em referência à mosca Sarconesiopsis. A ideia é usar a substância como princípio ativo de um medicamento.

Vertentes

A pesquisadora Andrea Diaz Roa aborda o assunto em duas vertentes: por um lado, transforma a sarconesina em remédio, sem terapia larval; a segunda opção foi implementar a prática da larvoterapia no Brasil.

Recentemente, a cientista visitou, nos Estados Unidos, o laboratório de Ronald Sherman, considerado o “pai” da larvoterapia moderna. A pesquisadora tem o objetivo de aplicar o procedimento médico no território brasileiro.

“As moscas são criadas em laboratório e colocam os ovos sobre material orgânico. As larvas estéreis são colocadas no interior das feridas, onde permanecem por 24 a 48 horas. Utilizam-se, em média, 20 larvas por centímetro quadrado”, ressalta Andrea Diaz Roa. “A ferida é coberta durante o procedimento e lavada depois da retirada das larvas. Dependendo do caso, uma única aplicação é suficiente. Elas se alimentam apenas da parte necrosada da ferida”, acrescenta.

É importante lembrar que o procedimento, em si, não é mais incômodo do que a própria ferida, que geralmente coça ou gera dor. No caso da úlcera de pé diabético, a dessensibilização provocada pela própria doença impede que o paciente sinta qualquer desconforto. Segundo especialistas, a terapia larval pode promover a reversão total do quadro.

Em relação à leishmaniose cutânea, a ação é apenas coadjuvante. O tratamento principal consiste em matar o parasita por meio de medicamentos bastante tóxicos, controlados pelas agências de saúde. Nesse caso, o papel da larvoterapia será promover a cicatrização da ferida.