A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sediou, nesta segunda (21) e terça-feira (22), o II Congresso de Projetos de Apoio à Permanência de Estudantes de Graduação, que debateu os desafios para a permanência dos estudantes nas instituições de ensino e as chances de sucesso acadêmico.
“O evento é pensado a partir do princípio de conceber a permanência como princípio de equidade e democratização da universidade”, explica a coordenadora do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp, Helena Altmann.
Além do debate sobre a permanência, o congresso engloba um espaço de formação para os alunos bolsistas, o que, segundo a coordenadora, permite o retorno à sociedade em relação ao que é produzido por meio do investimento público em bolsas. Na apresentação de pôsteres, foram 268 trabalhos inscritos, com 965 autores distribuídos entre projetos de diversas áreas do conhecimento.
O evento teve participação da coordenadora-geral da Unicamp e reitora em exercício, Teresa Atvars, que destacou a importância de visibilizar o importante trabalho realizado pelo SAE. Após, ocorreu a mesa “Trajetórias de Formação: Contribuições dos Programas de Permanência Estudantil”, conduzida pela pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral.
Investimentos
Em 2019, o investimento destinado pela Unicamp às políticas de permanência alcançou R$ 84,7 milhões, representando aumento de 22% em relação a 2017. Os recursos são distribuídos entre 6.884 bolsas (auxílio social, auxílio transporte, entre outras), subsídio alimentação, moradia estudantil, atendimentos médicos e odontológicos.
Para a coordenadora do SAE, o aumento dos recursos acompanha uma mudança no perfil dos ingressantes na universidade, com uma comunidade acadêmica que vem se tornando mais representativa ao perfil da sociedade brasileira.
“A Unicamp é uma instituição pública e também se propõe a ser um espaço democrático e organizado enquanto tal. As políticas de permanência na Unicamp seguem em consonância com as políticas de ingresso, que vêm já há bastante tempo favorecendo a entrada de pessoas de menor renda na universidade”, explica Helena Altmann.
A pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, destacou a relação entre as políticas de permanência e a diversificação das possibilidades de ingresso, que contemplam modalidades para estudantes oriundos de escolas públicas, cotas étnico-raciais e vestibular indígena, além de ingresso de refugiados e de medalhistas.
“O processo de diversificação acompanha uma mudança do padrão socioeconômico dos nossos alunos: 50% vêm de escolas públicas e 36% da turma que entrou em 2019 são de pretos e pardos. Isso tornou a universidade bem mais diversa e, ao mesmo tempo, a necessidade do apoio fica ainda mais evidente. Temos trabalhado para aumentar o número de possibilidades de bolsas”, enfatiza.
A pró-reitora também pontua que a preocupação com a permanência na Unicamp não é nova: o SAE, por exemplo, possui 43 anos. A moradia estudantil, que possui 911 vagas, foi inaugurada em 1990.
Memória associativa
Um dos trabalhos inscritos foi o projeto “As cores da cidadania: higienização, catalogação, digitalização e processamento documental dos clubes negros do interior de São Paulo (1897-1952)”. Além de estudantes, a ação integra docentes e técnicos do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp e possibilita um resgate da memória associativa da comunidade negra, no período pós-abolição.
“O projeto busca resgatar o associativismo e dar memória aos grupos. Percebe que eles tinham muita força quando associados e não ficavam apenas nas associações. Existem muitas cartas das associações se comunicando e criando vínculos muito fortes, discutindo não só o preconceito, mas questões de formação e de trabalho”, avalia o estudante Diego Malta.
Além da relevância social, o projeto também possibilita que os alunos tenham contato com todas as etapas relacionadas à recuperação de acervos, como a higienização, a restauração e a digitalização.
Uma das docentes orientadoras, a historiadora Silvia Lara, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFICH), explica que o projeto possui dimensões múltiplas. “Existe uma função social para dentro da universidade, na permanência dos estudantes, e para fora, na preservação de acervos de interesse acadêmico e social, pois são clubes e associações ligados ao combate ao racismo no Brasil”, diz.
A historiadora também pontua que a permanência possui um sentido mais amplo no projeto, já que integra estudantes que têm um interesse na cultura negra e afro-brasileira, área para a qual a Unicamp se abriu para acolher.