Evento em SP sobre memória destaca importância da culinária étnica

Em cinco conferências, cientistas abordarão papel da área na manutenção da identidade de imigrantes estabelecidos no Brasil

ter, 21/08/2018 - 11h34 | Do Portal do Governo

Organizado pelo Arquivo Virtual Histórias Migrantes, parte do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) da Universidade de São Paulo (USP), o ciclo de palestras “O Sabor das Tradições: Cozinha, Memória e Identidade” será realizado na próxima quarta-feira (22), na Unibes Cultural, na capital paulista.

Vale destacar que, em cinco conferências, pesquisadores abordarão o papel da culinária étnica na manutenção da identidade de grupos imigrantes estabelecidos no Brasil. As palestras reúnem cientistas vinculados ao laboratório, vindos da USP e de outras instituições.

“O Leer tem se dedicado a resgatar o legado dos imigrantes, tentando mostrar que eles podem contribuir para a formação dos grupos étnicos locais, o fortalecimento da identidade brasileira e das próprias identidades”, ressalta a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, coordenadora do laboratório.

“O evento é resultado das ações intervencionistas do Leer, em uma realidade muito tumultuada por discursos de ódio”, acrescenta. Segundo a docente, que fará a abertura, os participantes têm o objetivo de destacar as identidades étnicas de vários grupos por meio das tradições, como a gastronomia.

“A cultura que esse imigrante traz passa por um processo de construção na sua comunidade de origem, depois, por uma desconstrução diante do impacto da imigração e, finalmente, por uma reconstrução”, reforça a professora Maria Luiza Tucci Carneiro.

Tradições

Durante as apresentações, serão mostradas as tradições culinárias de imigrantes açorianos, espanhóis, indianos, italianos e judeus, a partir de histórias, experiências e testemunhos orais, com destaque para o papel que as mulheres representaram nas transformações. É importante frisar, ainda, que uma degustação de pratos típicos será realizada no fim do encontro.

A jornalista e professora da Universidade Metodista de São Paulo Alexandra Gonsalez, coautora do livro “Cozinha de Afeto – Histórias e Receitas de Doze Mulheres Imigrantes no Brasil”, ressalta a história e cozinha da chef indiana radicada no Brasil Deepali Bavaskar.

A culinária italiana e a popularização na gastronomia paulistana são assunto da jornalista Silvana Azevedo, mestre pela USP e autora da dissertação “O Léxico da Cozinha Italiana em São Paulo: Autenticidade e Adaptação nos Restaurantes Paulistanos”. Esse é o território familiar das cantinas, pizzarias e “ristorantes”, das massas e molhos, dos nomes italianos ou criativamente abrasileirados.

A multiplicidade gastronômica da Espanha, com suas especificidades regionais e permanências na cidade de São Paulo, será abordada por Dolores Martin Rodríguez Corner, autora do livro Sabores, Memórias e Imigração: Galegos e Andaluzes. É um passeio pelas sopas, pucheros e empanadas das regiões mais frias da Galícia e pelos gazpachos e salmorejos do clima mais quente da Andaluzia.

Mescla

A professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Elis Regina Barbosa Angelo, autora do livro “Trajetórias dos Imigrantes Açorianos em São Paulo”, abordará a cultura alimentar dos membros do grupo estabelecidos na Vila Carrão, na zona leste de São Paulo. Bolinho de bacalhau, morcela, alheira e malassada são alguns dos nomes mais ou menos familiares que representam a culinária vinda dos Açores e ganharam as festas de rua da comunidade.

Já a cozinha judaica encerra o ciclo com a fala do chef de cozinha e empresário Gabriel Zitune, que escreveu “Beirute, Mooca, Panelas e Amor”, publicação que mescla receitas de ovos cozidos em molho de tomate, quibes e sopas à trajetória da família, judeus emigrados do Líbano para o Brasil na década de 1920.

“Ao acolher as diversas imigrações e migrações, São Paulo se tornou depositária de múltiplas culturas que se mesclaram em contato com a cultura local”, avalia a pesquisadora Dolores Rodríguez Corner.

“A gastronomia, entendida aqui como cozinha étnica, é o último dos hábitos a ser abandonado pelos imigrantes, uma vez que o gosto se forma no lar de infância, segundo os sabores introduzidos na alimentação, que permanecerão por toda a vida. Assim os sabores e os perfumes, como de um bolo saído do forno há pouco tempo, evocarão momentos vividos, pois estarão impregnados na memória de uma cozinha efetiva.”

Com entrada grátis, o ciclo de palestras começará às 19h, na Rua Oscar Freire, 2.500, no Sumaré, em São Paulo. Os ingressos devem ser retirados pela internet.