Estudantes e docentes da USP participam de projeto em cidade do Acre

Moradores de Cruzeiro do Sul participam de atividades da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

seg, 20/08/2018 - 10h09 | Do Portal do Governo

Desde 2015, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) realizam o Estudo MINA-Brasil – Saúde e Nutrição Materno-Infantil na cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre.

O acompanhamento está baseado na ideia de que os primeiros mil dias de vida de uma criança representam uma “janela de oportunidades” para uma série de intervenções importantes que podem melhorar o perfil de saúde do indivíduo na adolescência e na fase adulta.

Vale destacar que esse período compreende o intervalo desde a concepção até os 24 meses do bebê. O monitoramento de longo prazo (coorte) de gestantes e filhos busca avaliar aspectos da saúde e da nutrição. Atualmente, a iniciativa tem a participação de cerca de 900 crianças e mães.

Avaliação

Em abril de 2018, um grupo de pesquisadoras coordenado pela professora Marly Augusto Cardoso, do Departamento de Nutrição da FSP, foi até Cruzeiro do Sul e se reuniu com a equipe local para seguir com uma nova etapa do projeto: uma avaliação das mães e das crianças, agora na faixa dos 24 meses de idade.

É importante frisar que a iniciativa integra o Projeto Temático Estudo MINA – materno-infantil no Acre: coorte de nascimentos da Amazônia Ocidental Brasileira, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Análises das curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde confirmam a importância dos dois primeiros anos de vida como uma ‘janela de oportunidades’ para promoção da saúde e do capital humano de uma população”, enfatiza a coordenadora do projeto MINA, a docente Marly Augusto Cardoso.

Há indícios de que exposições adversas tanto na vida intra-uterina como após o nascimento possam afetar a saúde tanto da mãe como do bebê ao longo do ciclo da vida e nas gerações futuras. Isso ocorre por meio das chamadas alterações epigenéticas (variações hereditárias que afetam a expressão gênica sem alterar a sequência dos pares de base do DNA).

“A ida a Cruzeiro permitiu a experiência de coleta de dados em campo, necessária para um pesquisador. A interação com as crianças e os pais permitiu uma troca de informações que vai além dos questionários. Pude conhecer sua cultura, seus costumes e anseios, sendo capaz de compreender melhor a realidade local”, revela Waleska Regina Machado Araujo, integrante do doutorado da Faculdade de Medicina da USP.

Reorientação

A promoção da nutrição adequada e do crescimento saudável no intervalo crucial desses mil dias parece resultar em efeitos benéficos sobre a saúde das pessoas no decorrer da vida. O projeto poderá auxiliar na reorientação de políticas públicas voltadas para a saúde materno-infantil, a partir da identificação das vulnerabilidades e necessidades da população.

“Estar em Cruzeiro do Sul me proporcionou um crescimento acadêmico, profissional e pessoal. Realizando uma pesquisa etnográfica, as mulheres permitiram que eu conhecesse um pouco mais de suas vidas”, afirma Mayara Sanay da Silva Oliveira, do doutorado da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Nesse contexto, pude perceber as batalhas diárias travadas por cada uma dessas mulheres em seus contextos e me questionar em relação as políticas públicas da própria cidade e do país para diminuição as iniquidades de gênero”, acrescenta.

Os pesquisadores estão na expectativa de conseguir um financiamento em parceria com o National Institutes of Health (NIH) – os Institutos Nacionais de Saúde, dos Estados Unidos – e pesquisadores norte-americanos, para fazer o acompanhamento dos bebês aos quatro e cinco anos de idade.

O objetivo é analisar os riscos para doenças cardiovasculares nessa fase da vida e o aumento excessivo de peso, e comparar esse padrão de desenvolvimento com outras coortes internacionais.

“A experiência em Cruzeiro do Sul é incrível. Um encontro muito informativo nos permitiu ter um panorama da situação. Assim, esperamos que nossos estudos possam contribuir para formulações de políticas públicas. Experiência culinária muito agradável, o clima é realmente um desafio, mas conseguimos contornar. Fomos muito bem recebidas”, conclui Emanuella Pinheiro da Silva Oliveira, do doutorado da Faculdade de Odontologia da USP.