Estudantes da USP realizam homenagem ao geógrafo Milton Santos

Professor emérito foi docente titular do Departamento de Geografia da universidade, onde lecionou entre 1983 e 1997

ter, 14/08/2018 - 8h34 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), promoveu, em 6 de agosto, uma homenagem ao geógrafo Milton Santos (1926-2001), que foi docente titular do Departamento de Geografia da FFLCH, onde lecionou Geografia Humana de 1983 a 1997, e da qual recebeu o título de professor emérito.

A solenidade contou com a participação dos alunos do curso de Geografia, realizada durante o início da “I Semana de Geografia da África: A diáspora em discussão”. O evento foi idealizado após o trabalho de campo feito na disciplina optativa Geografia Regional I – África, ministrada pelo professor Eduardo Donizeti Girotto, no primeiro semestre deste ano, no qual visitaram comunidades de matriz africana na Costa do Dendê, na Bahia.

Com apoio do docente, após essa atividade, os estudantes organizaram uma exposição, mesas de debates e mapas de localização dos territórios visitados, de modo a demonstrar as vivências, aprendizados e reflexões.

Cerimônia

A proposta da disciplina é de analisar o processo de formação do território africano, abordando também o movimento negro organizado e a luta contra o racismo e a discriminação. Com isso, os alunos aproveitaram o momento para fazer uma cerimônia oficial de nomeação do auditório.

Para o acontecimento, os graduandos fizeram um abaixo-assinado indicando o professor para nomear o espaço e levaram a proposta até a direção da faculdade. A diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, cumprimentou os estudantes e o Departamento de Geografia pela iniciativa de tornar o auditório um espaço dedicado à memória do geógrafo Milton Santos.

Para a diretora, a nomeação foi até tardia, uma vez que o docente já recebeu outras homenagens externas. “Uma figura como o professor Milton Santos, que só engrandece e engrandeceu a instituição, era uma pessoa que, de fato, merecia uma homenagem da faculdade”, avalia.

“O professor é o maior geógrafo de todos os tempos”, ressalta o chefe do Departamento de Geografia, Antonio Carlos Colângelo. Depois dos representantes da FFLCH, foi a vez de os convidados da mesa de debate abordarem as contribuições e importância do professor.

Debates

A geógrafa Taís Telles destacou o que é ser negro no Brasil e citou frases de estudiosos e importantes nomes da causa negra, como o professor aposentado da FFLCH Kabengele Munanga; Abdias do Nascimento (1914-2011); Lélia Gonzalez (1935-1994) e o próprio Milton Santos (1926-2001).

“Ser negro é também produzir intelectualidade”, declara a geógrafa, que questionou o fato de a obra de Milton Santos ainda ser pouco lida na universidade, mesmo na USP, na qual ele lecionou. Segundo Taís Telles, o professor teve a audácia de olhar o País de dentro.

“Dar o nome também pode ser entendido como uma forma de destacar uma memória”, afirma a professora da rede municipal de ensino Amanda Lima. O título do Trabalho de Graduação Integrado da docente foi “Memórias da população negra da cidade de São Paulo: Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1725- 1904)”, apresentado em 2017 na FFLCH e que abordou a demolição da igreja.

No trabalho, ela avaliou que o contexto da demolição é relacionado com o branqueamento que era visto como meta nas cidades na época. “É preciso agradecer pela luta para nomear este espaço como Milton Santos”, reforça o pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Antonio Carlos Malachias, que colocou o professor entre os grandes geógrafos do Brasil, junto com Aziz Ab’Saber (1924-2012), e Manuel Correia (1922-2007).

Abordagens

Outras mesas de debate ocorreram nos dias 7 e 8 de agosto, com temas como “Resistências Pretas em São Paulo”, com a participação de Erica Malunguinho, do Aparelho Luzia; Pai Babalorixá Celso de Oxaguian, da Casa Ile Àse Igbin de Ouro; e Salloma Salomão, músico, historiador e professor na Fundação Santo André.

No último dia de discussões, a temática foi “Mulheres Negras na diáspora”, com a presença de Charô Nunes, do Blogueiras Negras; Jaqueline Conceição, do Coletivo Di Jejê; e Regimeire Oliveira Maciel, da Universidade Federal do ABC.