Estudante da Unesp investiga os efeitos de inseticidas em abelhas

Unidade do campus de Dracena, no interior de SP, analisa aplicação de cafeína para amenizar uso de defensivos agrícolas

sex, 31/08/2018 - 20h33 | Do Portal do Governo

Um estudo conduzido pela Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas (FCAT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Dracena, indica que o uso de cafeína como suplemento alimentar na dieta de abelhas pode diminuir alguns efeitos subletais ocasionados pelo inseticida “imidacloprido” sobre os insetos.

Vale destacar que o inseticida em questão é usado amplamente no combate às pragas em lavouras do Brasil e do mundo. A dissertação de mestrado foi apresentada pela aluna Kamila Vilas Boas Balieira, integrante do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Animal, sob orientação dos professores Fábio Erminio Mingatto e Daniel Nicodemo.

A pesquisa foi publicada no periódico Apidologie, da editora Springer, especializado na biologia dos insetos pertencentes à superfamília Apoidea. As abelhas podem ser prejudicadas quando entram em contato com agrotóxicos no campo, com destaque especial para a classe dos “neonicotinoides”, da qual o inseticida “imidacloprido” faz parte.

Aplicação

Já que o apicultor não tem controle sobre a aplicação desses produtos nas lavouras, a atenção em relação à saúde das abelhas deve ser redobrada. Em março deste ano, a Comissão Europeia decidiu banir o uso do inseticida em campos abertos da União Europeia, com base na análise de mais de 1,5 mil artigos científicos sobre os efeitos dos itens sobre as populações de abelhas.

“Sabe-se que o inseticida ocasiona um colapso do sistema nervoso dos insetos, inclusive das abelhas. Utilizado para controlar pragas da lavoura, ele muitas vezes atinge as abelhas com dose subletal, ou seja, que não necessariamente mata, mas pode causar outros danos ao inseto”, explica o professor Daniel Nicodemo, um dos orientadores do trabalho, responsável pelo Núcleo de Operações Sustentáveis da Unesp de Dracena.

É importante frisar que a pesquisa tem base na avaliação das ações do produto sobre o sistema antioxidante das abelhas, responsável pelo combate aos radicais livres, que são espécies químicas que atacam moléculas importantes do organismo do inseto, e que, se não combatidas, podem levar a uma condição conhecida como “estresse oxidativo”.

Responsável pelo Laboratório de Bioquímica Metabólica e Toxicológica, o professor Fábio Mingatto ressalta que, em doses subletais, o imidacloprido mostrou ser um agente tóxico para as abelhas, pois afetou o sistema antioxidante e induziu a oxidação de proteínas e lipídios de membrana dos insetos. “Esse efeito é prejudicial, pois leva à perda de funções importantes desempenhadas por essas biomoléculas”, revela. Entre as funções dessas biomoléculas está, por exemplo, o “forrageamento”, que é a busca e a exploração de recursos alimentares pelos insetos.

Contudo, quando a cafeína foi adicionada à dieta, os efeitos oxidativos provocados pelo imidacloprido diminuíram, indicando que a substância pode ser usada como uma alternativa interessante na prevenção da toxicidade provocada pelo inseticida nas abelhas, protegendo-as de condições que possam levar à diminuição do forrageamento.