Especialistas aprovam projeto de tratamento de esgoto na Baixada Santista

A proposta foi lançada pelo governador José Serra na sexta-feira, 25

qui, 31/05/2007 - 15h04 | Do Portal do Governo

A iniciativa do governo de São Paulo de elevar o percentual do tratamento e coleta de esgoto em nove cidades da Baixada Santista foi comemorada por especialistas no assunto. A proposta, lançada pelo governador José Serra na sexta-feira, 25, é mudar os índices dos atuais 53% para 95% no período de quatro anos, num investimento superior a R$ 1,2 bilhão. Cerca de R$ 800 milhões serão aplicados no projeto pela Sabesp. O restante será financiado pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC).

A avaliação é que o projeto de melhorar os indicativos de tratamento do esgoto nos municípios de Bertioga, Cubatão, Santos, Mongaguá, Praia Grande, Itanhaém, Guarujá, São Vicente e Peruíbe vai contribuir para o desenvolvimento sustentável da região, que abriga o maior complexo portuário da América Latina e responsável direto por concentrar o maior pólo petroquímico do País.

Mas para a professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Ana Júlia de Oliveira, especialista em microbiologia, qualidade de águas marinhas e ecologia de microorganismos, a maior virtude da ação do governo paulista está no aspecto saúde pública. A justificativa para isso é conhecida: grande parte de doenças de ordem gastrointestinal está relacionada ao consumo e contato com água contaminada. Entre os exemplos estão a cólera, diarréia e hepatite A, que atingem, sobretudo, crianças e idosos com sistema imunológico mais sensível. “Quando se investe em saneamento é comprovado que há diminuição no número de atendimentos na rede pública de saúde”, frisa. 

Já a professora Fernanda Brito, da Universidade Católica de Santos, mestre em Gestão de Negócios, aponta os benefícios econômicos que o empreendimento pode trazer para a região. “Antes de se instalar em uma área, as empresas buscam informações sobre os níveis de tratamento de esgoto”, observa ela. O motivo, explica Fernanda, é simples: menos investimentos no início das atividades permite ao empresário maior capacidade na hora de competir.

“É um programa que caminha em direção a sustentabilidade, viabilizando o desenvolvimento da região”, elogia. A professora lembra que o turismo da região também será contemplado. “A melhoria da balneabilidade das praias é outro ponto positivo: praias mais limpas logicamente atrairão mais turistas”, reforça Fernanda Brito.

Meio ambiente

Além do aspecto econômico, há ganhos ambientais. “Hoje o esgoto é lançado em fossas que acabam contaminando canais, igarapés e os próprios rios”, comenta, Lauro Macedo, superintendente do projeto Onda Limpa. 

A professora Ana Júlia da Unesp acredita que após a conclusão do projeto Onda Limpa, os impactos causados pelo lançamento do esgoto no mar serão atenuados. 

Segundo ela, a matéria orgânica despejada diretamente no mar deixa a água mais turva. O esgoto in-natura dificulta a entrada de luz e prejudica o processo de fotossíntese, provocando, desta forma, efeitos na cadeia alimentar, que inclui moluscos, crustáceos e peixes, matéria prima essencial na economia de muitos municípios da região. “A proposta é abrangente e vai contribuir para proteção da própria flora e fauna da região”, reitera a especialista.

Megaoperação

Os números do Onda Limpa expressam a sua dimensão: serão mais de 120 mil ligações domiciliares, 101 estações elevatórias, sete estações de tratamento de esgoto e mais de 2,3 milhões de pessoas beneficiadas.

O volume do Onda Limpa, gerenciado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), impressiona também quem tem familiaridade com o tema. É o caso da professora da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Emília Arasaki, mestre em oceanografia e autora de uma pesquisa que visa estudar a melhor maneira de liberar o esgoto na baía de Santos, sem causar danos ambientais às praias.  

O estudo, ainda em fase inicial, revela que um dos caminhos é aumentar a extensão em um quilômetro do emissário submarino de quatro quilômetros que lança o esgoto na baía de Santos. Essa medida daria uma margem de segurança maior de que os efluentes não retornariam em direção às praias em condições meteorológicas adversas.

Emília diz que o Onda Limpa pode ser comparado a uma ferramenta auxiliar nesse processo. “Trata-se de um projeto arrojado que faz jus a importância da região”, analisa Emília.

Cleber Mata