Entrevista coletiva do governador Mário Covas após nomeação de 42 mil professores

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qua, 29/12/1999 - 19h12 | Do Portal do Governo

CONTAS DO GOVERNO

Pergunta – Como que fecharam as contas do Governo esse ano?

Covas – Você quer saber se o que os deputados estão falando é verdade? Você sabe que nós temos uma empresa que se chama Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), aliás é uma fundação de altíssimo gabarito, ela talvez seja responsável em grande parte pela liderança que o Estado tem em ciência e tecnologia. Foi a partir de financiamentos da Fapesp que se desenvolveu o genoma do amarelinho, um resultado muito significativo para a citricultura. E ela recebe 1% do ICMS por mês por lei e ainda não conseguiu velocidade para gastar isso. Ela deve ter uma boa quantia, talvez um R$ 800 milhões, mas que não são do Estado, são dela, eu não tenho ingerência sobre a Fundação, o dinheiro é deles e fica lá com eles. E isso aparece como sendo resultado de balanço. A rigor é porque esse dinheiro entrou só que esse dinheiro teve um destino e como esse destino ainda não se efetivou, isto é, a Fapesp ainda não emprestou, ele aparece como resultado. Coisas como essa você têm várias, então de repente alguém fala que a gente teve R$ 3,4 bilhões de superávit porque conta essas coisas sem ter o conhecimento exato do que significam essas contas.

Pergunta – Mas quais são as outras operações?

Covas – Têm várias operações dessa natureza. Além da Fapesp você tem mais uma ou duas…a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) recebe 1% do ICMS, o que ela passa no fim do ano, ela passa com o dinheiro no banco se não gastou todo o dinheiro e esse dinheiro entrou mas não foi gasto e aparece ainda como superávit, enfim queira a Deus que a gente tenha R$ 3,4 bilhões mas se quem fez essa análise quisesse pagar metade eu deixava até por R$ 1,5 bilhão.

Pergunta – Mas como que ficou então o resultado?

Covas – Eu ainda não tenho o resultado, o balanço deve sair a partir do dia 31.

Pergunta – Mas não há déficit?

Covas – Não há hipótese da gente fazer déficit, eu não deixo fazer déficit.

REUNIÃO DOS MILITARES

Pergunta – O senhor poderia dar sua opinião sobre a festa dos brigadeiros, ontem?

Covas – Ah, estava demorando. Eu não sei, porque eu ouvi o presidente da República, o Governo Federal achar que não devia dar opinião, como eu sou parceiro do Governo Federal fico tentado a fazer a mesma coisa.

Pergunta – Eles chamaram o Governo de subversivo.

Covas – Tudo bem, mas se o Governo não achou isso importante. Eu li hoje num dos jornais de que o Governo achou melhor não responder o assunto, desconhecer o assunto.

Pergunta – Mas não é irônico os militares chamando agora quem era antigamente da esquerda subversivo?

Covas – Eu sabia que no fim, de mim vocês não iam deixar sem opinião. É muito engraçado isso. Eu acho uma pena isso estar acontecendo. Não me parece que seja de consequências imprevisíveis mas é um sinal que eu não gostaria de ver acontecer de novo nesse País.

Pergunta – Sinal de golpe, governador?

Covas – Não chega a esse, é o que eu estou dizendo, eu não vejo nenhum perigo imediato disso mas acho que é um sinal. Quando você vê um deputado que é militar, ir na reunião dizendo que deviam matar o presidente. Essa histeria não é coletiva, essa histeria graças a Deus é de duas ou três pessoas que no final tem histeria com crise, sem crise, com discurso, sem discurso. Quem já ouviu os discursos desse cidadão sabe que é assim. Ou os outros entrarem na tese de que, até quem foi candidato a presidente da República, dizer que o Governo devia se afastar e sofrer impeachment. Que brincadeira é essa?

Pergunta – O Governo deveria reagir a esse tipo de declarações?

Covas – O Governo faz a sua própria política, eu não comando a política do Governo, eu dou a minha opinião como governador de São Paulo porque acho. Como vocês estão dizendo, que é muito difícil para mim não dar opinião. Eu já tenho uma história dentro dessa área que me obriga a reiterar isso. Eu vejo sempre isso como um sinal melhor se não tivesse existido. Acho muito ruim que tenha acontecido. Certas coisas você sabe como começam mas não sabe como terminam. Não vejo hoje nenhum sinal de que isso possa significar qualquer tipo de…até porque o jornal que eu li dizia que só tinha seis entre 600 que estavam vestidos de militares, o resto era gente da reserva e gente da reserva tem o direito que o pessoal do PT ganha de dizer fora Fernando Henrique, por que que eles não podem dizer?

Pergunta – O senhor acha que depois dessa crise na Aeronáutica o ministro Élcio Álvares continua com sustentação política?

Covas – Isso é decisão lá do presidente, quem ele põe de ministro eu não dou palpite.

Pergunta – Mas o senhor deu em relação ao ministro Renan Calheiros.

Covas – Mas aí para sair, e não era pelas mesmas razões que este. Eu opinava em relação ao Renan Calheiros porque achei que ele contradisse, teve o displante de dizer que o presidente da República não tinha o direito de nomear um delegado da Polícia Federal.

Pergunta – O senhor acha que isso é sinal de que o Planalto está perdendo o controle?

Covas – Não acho. Eu comecei afirmando que para mim era ruim que isso acontecesse mas que eu não via nisso nenhum perigo que coisas piores que eventualmente se aproximassem do que já aconteceu nesse País antes pudessem acontecer. E isso não me permite deixar de reconhecer que eu vi algumas coisas inaceitáveis ditas lá. Mas tem que dar a dimensão do episódio que ele tem. Acho até que o Governo devia se pronunciar a respeito disso mas espero que isso não passe de um ato em que um pessoal da reserva se reuniu para fazer um desagravo a um comandante que caiu. Eu também uma vez cai secretário da Prefeitura de Santos e teve lá um baita almoço de desagravo. É verdade que ninguém estava fardado, mas se fez um baita almoço de desagravo.