Entrevista coletiva do governador Mário Covas após nomeação de 42 mil professores

Parte I

qua, 29/12/1999 - 17h25 | Do Portal do Governo

EDUCAÇÃO

Pergunta – Toda revolução precisa de uma manutenção, então quais seriam os próximos passos para se manter essa revolução na Educação?

Covas – Eu acho que o que tinha de ser feito da 1ª a 4ª séries é um problema meramente de manutenção. Da 5ª a 8ª séries está exigindo ainda operações e no segundo grau com muito mais razão. A ênfase nesse período do segundo Governo está exatamente no segundo grau. Se nós conseguirmos nesse segundo Governo o mesmo sucesso que tivemos na 1ª a 4ª séries no primeiro Governo acho que nós teremos completados com muito sucesso essa revolução educacional.

Pergunta – Esses professores começam a atuar quando nas escolas?

Covas – Fevereiro. Em janeiro eles são chamados. Estamos fazendo isso no final do ano para poderem começar a trabalhar em fevereiro quando se iniciam as aulas. Se fizéssemos em janeiro eles não poderiam começar em fevereiro.

Pergunta – O senhor acha que essa nomeação vai dar novo estímulo aos professores?

Covas – Eu acho que é muito bom para a rede, é muito bom para os professores, dá tranquilidade para todo mundo. Grande parte dos professores nomeados hoje já trabalhavam na rede na situação de contratados temporariamente, portanto é sempre uma situação transitória. De forma que foi feito o concurso, 80% dos aprovados vinham dessa situação e mais alguns foram aprovados entre todos aqueles 145 mil, o que mostra que não é tão ruim, além da vocação, salarialmente não é tão ruim a situação da Educação em São Paulo já que quando se abre concurso aparece muita gente interessada, talvez só apareça mais gente interessada na Polícia Militar.

Pergunta – Dá para saber qual o salário médio deles então?

Covas – Dá até para falar categoria por categoria. Em janeiro de 95, quando eu assumi, a jornada do professor P1, de 1ª a 4ª séries em início de carreira, era de 40 horas semanais e recebia R4 281,98. Esse mesmo professor trabalha hoje 30 horas e recebe R$ 650,00. Esses nomeados hoje são P3, que quando eu assumi recebiam, por 40 horas, R$ 337,38. Hoje, por 30 horas, ou seja, por 75% do horário de antes, se começa com R$ 802,50. Os aumentos por força disso, acumulados, são de 130% no primeiro caso e de 137% no seguinte. Os diretores começavam com R$ 404,00, por 40 horas. Continuam trabalhando 40 horas mas começam com R$ 1.230,00. Os supervisores recebiam R$ 443,00 e hoje R$ 1.348,00, por 40 horas.

Pergunta – O professor que estava representando os demais professores disse que o concurso resolve de certa forma o problema mas que ainda é necessário outro concurso para que seja solucionado o problema. Há planos para um novo concurso?

Covas – Serão chamados mais dez mil para completar esse concurso, que totaliza assim 52 mil professores. As outras dez mil se contrata ao longo do ano que vem.

Pergunta – Qual o peso para o Estado em ter 42 mil novos funcionários na folha de pagamento?

Covas – Praticamente 80% deles já recebiam como temporários e a verdade é que à medida que você vai fazendo seu grupo de gente que foi qualificada através de concurso você vai desnecessitando de gente que é contratada temporariamente.

Pergunta – O senhor poderia explicar sobre o empréstimo de US$ 100 milhões do MEC para a Educação?

Covas – Há dois empréstimos. Um de US$ 100 milhões que o Governo Federal fez lá fora e que vai reemprestar aos estados na base de ele dar 50% e o estado entrar com os outros 50%. A Rose (Neubauer) e ele (Hubert Alqueres) que são rápidos no gatilho já foram lá e arrancaram a parte deles e depois a mim cabe arrumar a contrapartida aqui, mas até que o dinheiro venha e que eles tenham certeza eles não falam no assunto. Segunda coisa, uma das pretensões da Secretaria era conseguir empréstimo para o segundo grau, esse um empréstimo direto. Essa é uma operação mais difícil, você tem visto quanto que dificuldade nós temos enfrentado para aprovar essas coisas lá em Brasília.

DETRAN

Pergunta – Governador, e a crise no Detran. Um dos homens de confiança do secretário Petrelluzzi se afastou depois de irregularidades que ele supostamente foi nomeado para acabar. Como o senhor se posiciona diante disso?

Covas – Era um corregedor nomeado pelo próprio secretário. Quando o caso se tornou público, o que ele afirma para o secretário é aquilo era um carro do irmão. Mas ainda que fosse, na verdade, no instante em que foi nomeado para uma posição dessa o mínimo que ele poderia ter feito era ir lá e ter consertado essa situação, mesmo que se tratasse de um irmão.

Pergunta – O que vai ser feito sobre isso?

Covas – Ele já foi embora.

Pergunta – E quem vai entrar no lugar dele?

Covas – Não sei te dizer. Essas coisas ficam nas mãos do secretário, eu não posso estar escolhendo gente…eu só indico o primeiro time.

Pergunta – O senhor acha que o secretário errou ao nomear essa pessoa?

Covas – Não, não havia indicação de que essa pessoa tivesse qualquer coisa que pudesse contrariá-la, nem há ainda averiguação do tipo de colocação que ele faz. Vai se ver isso aí e verificar que consequência isso pode trazer. Ele se demitiu imediatamente, deve ser substituído hoje ou amanhã, mas isso não é o destino final do Detran. O destino final do Detran é uma mudança grande, integral, até do ponto de vista de que tipo de estrutura administrativa ele terá.

Pergunta – Quando?

Covas – Quando é uma resposta difícil de dar. Quando o estudo que está sendo feito estiver pronto.

Pergunta – Quem está coordenando esse estudo?

Covas – Várias pessoas, mas em particular uma pessoa que quando volta e meia a gente precisa de uma boa cabeça a gente o convoca. Ele já trabalhou comigo no Estado e na Prefeitura mas ele não gosta de ficar sentado lá dentro, portanto é um dos maiores Qis que eu conheço e na chamada de escola ele era dois depois de mim, é o Mário Eduardo Garcia.

Pergunta – E ele trabalhou fazendo o quê?

Covas – Várias coisas. Ajudou a fazer Programa de Governo, no começo do Governo trabalhou no Grupo de Planejamento, no Planejamento Estratégico, ele era responsável pela Agenda 21, mas ele não é um funcionário do Estado.

Pergunta – Quer dizer, o Detran vai mudar então?

Covas – O Detran vai mudar de cabo a rabo.

Pergunta – Qual o trabalho exato dessa pessoa que vai trabalhar no Detran?

Covas – Ela não vai trabalhar no Detran. Ele está fazendo o projeto da nova estrutura do Detran e essa nova estrutura quando estiver pronta eu te digo. Nós não sabemos se vamos fazer daquilo uma autarquia, uma fundação, onde vai ficar situada dentro da administração, mas acho muito difícil que ele continue vinculado à Secretária de Segurança. Aquilo é um órgão muito mais de cobrança do que de outra coisa.

Pergunta – Então a idéia é de seja vinculado à Secretaria da Fazenda?

Covas – A idéia ainda não é, quando estiver pronta eu te digo.

SEGURANÇA PÚBLICA

Pergunta – Governador, o senhor poderia fazer um balanço da Segurança Pública nesse ano?

Covas – Este ano acompanhou a tônica que vem desde o primeiro ano de Governo. Nós praticamente renovamos toda a frota das polícias Civil e Militar, foram sete mil carros comprados. Você quer resultados efetivos? Eu vou te dar e são incontestáveis. Primeira coisa, a violência aumentou, todo mundo sabe disso, mesmo assim quando eu assumi a gente tinha 51 mil pessoas presas, hoje nós temos 86 mil. Nós estamos acrescentando presos na base de mil por mês e a violência aumentou.

Pergunta – E o número de chacinas também né, governador?

Covas – Não, o número de chacinas vocês estão forçando a barra, torcendo para chegar no dia 31 e conseguir passar o do ano passado e se ferraram porque até agora não passou. Estão torcendo e seu jornal vai ficar sem matéria para o dia 1º. Eu leio no jornal que foi o ano de maior chacina e não é verdade. A violência aumentou? Aumentou. Vou lhe dar mais alguns dados: o efetivo da nossa polícia é de 82 mil homens na Militar e 40 mil na Civil, são 120 mil pessoas, se você dividir isso por 32 milhões de habitantes você tem um policial para cada 300 habitantes. Sabe que é exatamente o que tem em Londres?