Disciplina da Unesp tem aulas ministradas no Estado do Acre

Universidade Estadual Paulista oferece conteúdo para estudantes de graduação e pós-graduação sobre a etnobotânica

seg, 13/08/2018 - 13h27 | Do Portal do Governo

O Departamento de Horticultura da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, oferece para os estudantes de graduação e pós-graduação a disciplina “Etnobotânica”, há mais de 20 anos sob responsabilidade do professor Lin Chau Ming.

Em julho deste ano, a disciplina de pós-graduação aconteceu novamente e, dessa vez, foi ministrada na Universidade Federal do Acre (UFAC), durante o período das aulas teóricas, e pela Reserva Extrativista “Chico Mendes”, ao longo das atividades práticas.

Além do docente, a matéria contou com a participação dos professores Natalia Hanazaki, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Valdely Kinupp, do Instituto Federal da Amazônia (Ifam). Os alunos participantes eram de diversas instituições de ensino e regiões do Brasil, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Unesp, UFAC, Instituto Federal do Acre (Ifac) e UFSC.

Atividades

É importante frisar que o curso teve duração de 21 dias. Na parte teórica, os estudantes debateram as perspectivas que envolvem o estudo etnobotânico, além de realizar atividades metodológicas que auxiliariam no período prático da disciplina.

O professor Valdely Kinupp, autor do livro “PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais)”, auxiliou a turma durante a disciplina, tanto na parte teórica quanto prática, deixando o conhecimento das espécies locais para o conhecimento dos alunos. O professor Lin Chau Ming, por sua vez, orientou toda a parte prática da disciplina, com a vasta experiência em etnobotânica.

O grupo teve a oportunidade de visitar e assistir palestras na Embrapa-Acre e na Comissão Pró-índio, além de uma palestra da ONG WWF Brasil. Vale lembrar que as instituições realizam pesquisas na região ligadas ao resgate de conhecimentos étnicos, ao levantamento da flora local e à diversidade de espécies alimentícias.

Palestras

Também foram realizadas palestras sobre a diversidade biológica do Estado, a história do ciclo da borracha e do movimento dos seringueiros, que resultou na formação das reservas extrativistas. Aproveitando o espaço de memória aos 30 anos da morte de Chico Mendes, a UFAC realizou diversas palestras contando com a presença de Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, e representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), UFAC, Ifac, Secretaria da Justiça do Acre, Emater-Acre, Embrapa-Acre e WWF.

Terminado o período teórico da disciplina, os alunos foram a um sítio arqueológico observar um geoglifo, estrutura geométrica provavelmente desenhada e construída por sociedades tribais e presente em grande quantidade no Estado do Acre.

“A estadia no seringal de quase duas semanas traz uma vivência única, uma mudança na forma de pensar e viver. O afastamento dos meios de comunicação e tecnologia nos mostra como já somos dependentes e viciados. A alimentação com menos produtos industrializados modifica nosso paladar, que há muito vem sendo dominado pelo açúcar e sabores artificiais. A socialização com as pessoas, tanto do seringal como das diferentes regiões do País, é diariamente enriquecedora, resgata a partilha, o respeito, comunicação e paciência, coisas básicas em que a sociedade urbana cada vez mais vem perdendo”, diz a aluna Mirella Santos Moreira, que participou da disciplina.

Manutenção

Para o desenvolvimento dos trabalhos requeridos pela disciplina, foram escolhidos temas pelos grupos de estudantes, que, além da coleta de informações pessoais, socioeconômicas e relacionadas ao cultivo efetuado pelas famílias, coletaram dados etnobotânicos, abrigando espécies medicinais, de reza, alimentícias e utilizadas na construção civil.

“Foi incrível conhecer a enorme gama de plantas que podem ser retiradas da mata para manutenção da saúde e alimentação das famílias, como copaíba, breu, jatobá, açaí, castanha, ingá de metro, guaribinha, patoá, bacaba, ouricuri, entre tantas outras. Dessa forma, pudemos entender o quanto é importante para as famílias a manutenção da floresta viva”, destaca Valeria Tebinka, aluna de mestrado em Horticultura.

A compilação dos dados levantados em campo resultará em um novo livro, com a proposta de novas abordagens dentro da temática etnobotânica e etnoecológica, bem como em uma exposição itinerante de fotos que os alunos realizarão nas universidades, divulgando os resultados da pesquisa e expressando a cultura e de quem vive no seringal.