Diretora toma posse em unidade da USP de São Carlos

Professora Maria Cristina Ferreira de Oliveira é pioneira no comando do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação

ter, 21/08/2018 - 17h06 | Do Portal do Governo

Na última sexta-feira (17), a professora Maria Cristina Ferreira de Oliveira se transformou na primeira mulher a assumir a direção do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), umas das cinco unidades de ensino e pesquisa do campus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos.

“Tenho muito orgulho de cursar escola pública e estar aqui. Eu gostaria de ver mais gente com essa história entrando na USP”, diz a docente. Em uma das mesas no espaço do instituto, a professora relatou os valores que a motivam. “O que muda a vida de uma pessoa é conseguir estudar, fazer um curso de graduação e se sair bem. Assim, ela tem uma opção de vida. É uma oportunidade única. Sou muito agradecida porque eu e minhas quatro irmãs tivemos a oportunidade de estudar”, ressalta.

Cristina e suas quatro irmãs são doutoras e docentes em universidades públicas brasileiras. Nascidas em São Carlos, as cinco irmãs estudaram em escolas da rede pública durante todo o ensino básico e superior. Taxista, o pai transportava pessoas e mercadorias para cidades vizinhas, por meio da perua Kombi. Para reforçar a renda da família, a mãe, dona de casa, também costurava.

“O bom de ter uma irmã gêmea é que você tem, desde pequenininha, uma pessoa que sempre vai dividir, mais ou menos, as mesmas coisas com você. Quando começa a ir à escola, você não começa sozinha. Quando vai prestar vestibular, tem alguém na mesma direção”, diz Maria do Carmo, professora no Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e irmã gêmea de Cristina.

Gêneros

Ao ingressar em uma das primeiras turmas de Computação do ICMC, curso oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação em 1981, a nova diretora encontrou uma sala de aula bastante equilibrada, uma vez que cerca de 50% dos estudantes eram homens e 50%, mulheres. Vale destacar que, entre as décadas de 1970 e 1980, houve uma grande inversão nos gêneros da área de tecnologia no mundo todo, mesma época em que surgiu o computador pessoal.

Nos últimos cinco anos, por exemplo, apenas 9% dos alunos formados no curso de Ciências de Computação do ICMC eram mulheres; no Bacharelado em Sistemas de Informação, o índice chegou a 10% e em Engenharia de Computação, 6%.

“A USP como um todo, em média, está bem equilibrada na questão de gênero. Mas algumas áreas ainda têm problemas muito sérios, especialmente devido a aspectos culturais. Aqui em São Carlos, em que há o predomínio das Ciências Exatas e Tecnológicas, temos um problema localizado. Mas, felizmente, pouco a pouco isso está sendo modificado”, avalia o reitor da USP, professor Vahan Agopyan.

“A posse da primeira diretora no ICMC já é um bom sinal. É um marco importante e isso vai ajudar, certamente, o campus de São Carlos a ter uma alteração, uma renovação”, reforça.

Trajetória

Apesar de destacar que nunca teve dificuldades na carreira por ser mulher, uma situação inusitada ocorreu quando Cristina foi indicada para fazer o primeiro estágio, antes mesmo de se formar. O professor Fernão Stella de Rodrigues Germano, docente do ICMC que já faleceu e dá nome ao maior auditório do instituto, recebeu o telefonema de uma empresa de São Carlos em busca da indicação de estagiário.

Assim, o docente falou logo sobre a situação de Cristina. Do outro da linha, o representante da empresa disse que queria a indicação de um homem. “Ela é o melhor homem que eu tenho aqui”, destacou o professor Fernão Stella de Rodrigues Germano. Como resultado, Cristina conseguiu o posto0 e trabalhou na empresa durante os últimos seis meses do curso, em 1985.

Na avaliação da diretora, o instituto precisa formar cientistas, bacharéis, engenheiros e licenciados com habilidades para desempenhar suas missões não apenas com competência, mas com sabedoria e ética. “À busca por formar recursos humanos de alto nível, gerar e transferir conhecimento para a sociedade, precisamos agregar nossa batalha por uma educação de qualidade também nos níveis de ensino fundamental e médio para todo o Brasil”, enfatiza.