Direito da USP festeja 180 anos com muita história e tradição para contar

De olho no futuro, instituição inova em seu projeto pedagógico a partir de 2008

sex, 10/08/2007 - 10h41 | Do Portal do Governo

O badalar do velho sino ecoa pelas Arcadas e alerta professores, alunos e funcionários para a rotina das aulas. Exatamente como ocorria há 180 anos, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, então recém-fundada. Retratar a história dessa instituição é descrever o País, política, intelectual e estruturalmente. O dia 11 de agosto de 1827 marca a instalação dos cursos jurídicos no Brasil. Por determinação de D. Pedro I, as províncias de São Paulo e Olinda receberam as primeiras faculdades e os jovens brasileiros não mais precisaram ir a Coimbra, em Portugal, para obter o seu diploma.

Poetas, escritores, juristas, magistrados, congressistas, presidentes, governadores sentaram-se em seus bancos, aprenderam em suas cátedras, estudaram em seus livros, clamaram em suas tribunas, organizaram-se em seus pátios. O prédio histórico foi inaugurado em 1934, ano em que o presidente Getúlio Vargas assinou decreto incorporando a Faculdade de Direito à Universidade de São Paulo. Em 1973, com a criação dos cursos de pós-graduação e a conseqüente diminuição do espaço destinado aos estudantes, cogitou-se a mudança para o câmpus da Cidade Universitária, na zona oeste da cidade.

A grande maioria dos estudantes e professores foi contrária à transferência. Quando foi colocada a pedra fundamental do novo edifício a ser construído no câmpus da USP, ela foi retirada pelos estudantes, trazida para o Largo São Francisco e instalada no pavimento da calçada em frente à escola. Com um aviso gravado: “Quantas pedras forem colocadas, tantas arrancaremos”.

Protagonista

A criação da Faculdade de Direito em 1827 preparou a cidade, que na época tinha 22 mil habitantes, para a chegada dos imigrantes. Durante muitos anos, nossa instituição foi uma escola de humanismo para o Brasil e não somente para São Paulo. Daqui saíram muitos juristas e escritores, como Monteiro Lobato, Lygia Fagundes Telles, Álvares de Azevedo e Castro Alves”, explicou o diretor João Grandino Rodas.

Senso político

“Revolução Constitucionalista de 1932, movimento das Diretas Já e o impeachment do presidente Collor são alguns fatos históricos recentes do País que germinaram nas salas de aulas desta velha faculdade”, informou Carlos Bianca Bittar, professor e coordenador do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito. “As imagens do professor Goffredo da Silva Telles lendo a ‘Carta aos Brasileiros’, corajoso manifesto contra a ditadura militar, então vigente no País (1978), no prédio da Faculdade, demonstra a preocupação com a democracia que ali sempre imperou,” afirmou Rodas.

Rumo ao futuro

A velha escola agora se prepara para enfrentar novos desafios. “Para continuarmos como referência, precisamos continuar com nosso aperfeiçoamento interno, com a nova grade curricular, na qual os alunos poderão escolher 40% das matérias para a composição do seu bacharelado. Dessa maneira, o novo programa pedagógico será mais atraente para os alunos que poderão cursar outras disciplinas em outras faculdades da USP e por elas receberem créditos,” ressaltou Rodas. Para isso, haverá mais salas de aula e mais professores. Pelo menos 50 serão contratados nos próximos cinco anos.

Quando foi criada em 1825, a biblioteca pertencia ao mosteiro franciscano. Tinha cerca de 5 mil livros e como bibliotecário José Antônio dos Reis, que integrara a primeira turma de estudantes, da qual foi considerado melhor aluno e, por isso, mereceu medalha de ouro. Quando passou para a faculdade, dois anos depois, tornou-se a primeira biblioteca pública da cidade. “Hoje,  abriga 360 mil itens bibliográficos (livros, CDs, folhetos, teses, etc.) e atende em média 900 usuários por dia”, explicou Maria Lúcia Beffa, diretora do Serviço de Biblioteca e Documentação.

Com apoio da Lei Rouanet, a biblioteca recebeu R$ 300 mil para compra de 2 mil novos títulos, principalmente estrangeiros. As editoras Atlas e Memória Jurídica doaram à biblioteca mil volumes. “A Editora Revista dos Tribunais também sempre doa livros novos para aumentar nosso acervo. Desta maneira, nossos alunos e os usuários do espaço têm literatura farta e mais atualizada”, explicou Maria Lúcia.

Folclore acadêmico

A Faculdade de Direito cultiva algumas tradições muito particulares. Uma delas é a Peruada, festa que ocorre em outubro com a discussão de fatos políticos de maneira sarcástica. Os alunos saem pelas ruas do velho centro da cidade e chamam a população para participar da festa. A primeira Peruada ocorreu em 1948, quando um grupo de veteranos saltou os muros do Parque de Exposições do Parque da Água Branca e furtou alguns perus premiados do concurso promovido pela Secretaria da Agricultura. Os animais foram assados e distribuídos num jantar no Centro Acadêmico 11 de Agosto. A partir de então, a festa tornou-se anual.

O Pindura é outro fato pitoresco que começou no Largo São Francisco. Na semana que antecede o 11 de agosto, alunos entram em restaurantes e comem à vontade. Na hora de pagar, sobem nas cadeiras e dizem ao dono do estabelecimento: “Pindura a conta!!!”. “Hoje, existe um pindura mais cordial, já estabelecido com o dono do restaurante para evitar constrangimentos e idas à delegacia”, esclareceu o professor Bittar.

Festa no largo

O show 180 x Onze – Homenagem à Faculdade Mais Famosa do Brasil reunirá grandes nomes da música popular brasileira: Alceu Valença, Toquinho, Tom Zé, Luciana Mello e a banda Mamelo Sound System. Será realizado no Largo São Francisco em frente à Faculdade de Direito, a partir das 17 horas, no dia 11 de agosto (sábado).

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Maria Lúcia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial