Detentos produzem mais de 300 conjuntos de calça e jaleco por dia

E recebem salários mensais de R$ 415 a R$ 539 pagos pela Funap

sáb, 18/10/2008 - 12h08 | Do Portal do Governo

Sessenta presos da Penitenciária Tremembé I (Dr. Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra), no Vale do Paraíba, começaram a trabalhar na oficina interna de roupas, inaugurada este ano com investimentos de R$ 200 mil da Fundação Professor Manoel Pedro Pimentel (Funap), vinculada à Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. Os detentos recebem salários mensais de R$ 415 a R$ 539, pagos pela Funap, e produzem mais de 300 conjuntos de calça e jaleco por dia, os quais compõem o uniforme dos presidiários no Estado.

Além de enviar dinheiro todo mês à família, o preso que trabalha na oficina participa do programa de remissão de pena, em que três dias de trabalho representam um a menos na condenação. O diretor-geral da unidade, Antônio José de Almeida, elogia a iniciativa da Funap. “É louvável”.

Ele observa que numa penitenciária de regime fechado e segurança máxima, como Tremembé I, o sentenciado fica o dia todo no seu raio – área em frente às celas, onde toma banho de sol. O trabalho é uma das únicas formas de ele deixar o local para experimentar novos ambientes e amizades, importantes para a sua ressocialização.

Poucos analfabetos – Almeida ressalta que o trabalho em oficina contribui para criar um ambiente mais calmo na penitenciária, o que possibilita benefícios para detentos, funcionários e visitas. “No meu entender, a fábrica de roupas tornará a unidade melhor e mais digna”.

Além dos 60 trabalhadores na confecção, há centenas que montam pregadores de roupa (4 mil caixas por mês com 50 dúzias cada), para um fabricante, e ganham por produtividade. Existem ainda aqueles que atuam em serviços internos, como limpeza, restaurante, manutenção, jardim, etc., e recebem R$ 50 por mês pelo sistema de rateio (pequeno desconto no salário dos que trabalham na oficina de costura). “Como temos de distribuir o rateio, é importante arrumar cada vez mais trabalho para os presos”, diz Almeida. Ao todo, são 300 homens que trocam o raio pelo ofício na Tremembé I.

O diretor de trabalho e educação, Cláudio Alexandre de Oliveira, informa que a área educacional na unidade fez grandes progressos nos últimos anos. “Atualmente, temos apenas 18 analfabetos nas celas”, contabiliza. Quem quiser, faz curso de alfabetização e depois o supletivo nível fundamental e médio. Participam até do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

Ensinando a costurar – Para ensinar a arte da agulha aos detentos de Tremembé, a Funap escalou a mestra em costura Letícia Medeiros. Ela acredita que assim que os presos, chamados de aprendizes, estiverem mais afiados no trabalho, a produção poderá aumentar e novas peças serão feitas. “Estou surpresa com a força de vontade deles e como aprendem rapidamente as várias etapas da confecção de roupas”.

Letícia conta que a oficina foi montada como a linha de produção de uma fábrica. As peças chegam cortadas. São distribuídas, costuradas uma parte, numa máquina, depois em outra e assim sucessivamente até chegar ao final, onde são passadas com ferro a vapor, verificadas as costuras no controle de qualidade e só então embaladas em caixas. Os aprendizes participam e se revezam em todas as fases da produção. Como em Tremembé I as penas são altas, a rotatividade de presos não é tão grande, o que reflete no aprendizado e na produção na oficina de confecção e nas demais atividades internas profissionais, culturais ou de entretenimento. Esse fato, positivo em Tremembé, não ocorre em muitas outras penitenciárias do Estado, onde programas de profissionalização são comprometidos pelo entra-e-sai de detentos libertados ou transferidos.

Máquina, agulha, costura…

José Antônio de Oliveira (48) cumpre pena de 26 anos por assalto e homicídio. Foi selecionado para trabalhar na oficina de costura por sua ficha de serviços prestados na faxina, no jardim e na administração. Ele separa os kits de peças de tecido cortadas. Estudou internamente o ensino médio e conquistou a maior nota (7,5) entre os detentos no último Exame Nacional do Ensino Médio. “Passo bons momentos no trabalho”, afirma.

Alex Barbosa Noronha (32) já cumpriu 10 anos de sua pena de 12, por assalto e agora trabalha na distribuição das peças aos costureiros. Antes, prestava serviço na padaria da unidade. O que ganha envia à família, em Jacareí, para ajudar no aluguel da casa e na educação dos três filhos. “Aqui, na oficina, sinto-me um trabalhador de verdade, como os lá de fora, e mantenho minha mente sempre em atividade”, garante.

Condenado a 24 anos por homicídio, Jamir Ari de Paiva passou 16 anos detido, sendo 12 em Tremembé I. Já trabalhou na montagem de prendedor de roupa e hoje costura na máquina o elástico no cós das calças. “Espero sair este ano ou no próximo. Cumpri quase todos os requisitos necessários para a liberdade: trabalhei, tenho bom comportamento, recebo cartas e visitas constantemente”, se alegra Paiva, de 41 anos.

Tocando em Frente ameniza ambiente hostil

Claudio Alexandre de Oliveira, o diretor de trabalho e educação da Penitenciária Tremembé I, é músico formado, embora exercite pouco o violão, sua especialidade. Mas foi o suficiente para criar em abril o projeto Tocando em Frente, nome extraído da música de Almir Sater e Renato Teixeira. Ele selecionou grupo de 12 detentos que freqüentavam a escola, porém nada sabiam de violão. Ousado, Oliveira agora quer levar a idéia a outros presídios no Estado. “A música livra o encarcerado do ambiente hostil da penitenciária e o resgata da criminalidade”.

O professor, também selecionado entre os detentos, é Messias Caruso, de 52 anos. Antes de vir à penitenciária cumprir 23 anos de condenação por latrocínio, ele trabalhava em cartório, tocava violão e teclado em bares e ainda dava aulas. Caruso conta que os rapazes mudaram de atitude após o início do curso. Até as suas esposas já perceberam o aumento da auto-estima. “Gosto do que faço! Transmito sensibilidade a estas pessoas eclusas”.

José Luiz Serrano (37 anos) e Gideão Santos Vieira (24) estão felizes da vida com seus violões. O primeiro nada sabia da arte de dedilhar, enquanto Vieira já tocava algumas músicas no raio. “No início, tive trabalho para entender o instrumento. Hoje me sinto melhor”, avalia Serrano. “Antes eu sabia apenas quatro músicas evangélicas, agora ampliei meu repertório”, frisa Vieira.

Otávio Nunes – Da Agência Imprensa Oficial