Descobertas genéticas podem prevenir doenças

Análise do DNA prevê o período de agravamento de uma doença

seg, 21/05/2007 - 12h20 | Do Portal do Governo

O diagnóstico clínico aponta para o tipo mais leve da doença, mas a análise do DNA é capaz de “prever” que, daqui a alguns anos, o quadro se agravará. Essa foi uma das descobertas revelada pela análise molecular dos 500 portadores da doença de Gaucher no Brasil feita pelo biólogo Roberto Rozenberg em seu doutorado, pelo Instituto de Biociências (IB) da USP.

O objetivo foi descobrir novas informações desta doença rara. A anomalia é  causada por uma mutação genética que interfere na produção da enzima glicocerebrosidase, responsável por metabolizar uma “gordura” presente principalmente em células sangüíneas. Com isso, há um acúmulo de substrato gorduroso em células de defesa do corpo, causando um grande inchaço em regiões como fígado e baço. Em crianças, atraso no desenvolvimento motor e no crescimento são sintomas de Gaucher. Para adultos, fraqueza, hematomas pelo corpo e fragilidade óssea constituem os principais sinais da doença.

Em seis casos de crianças portadoras do tipo 1, mais leve, a análise indica que os sintomas neurológicos, característicos das versões mais graves da doença, podem aparecer no futuro. “Os testes de DNA podem predizer se a doença evoluirá ou não com o tempo e, assim, indicar a necessidade de tratamento preventivo”, aponta o biólogo. “Existem evidências de que o tratamento prévio, feito com maior quantidade de medicamento, retarda o aparecimento e a gravidade desses sintomas”.

A doença de Gaucher tem uma grande importância econômica. Segundo o pesquisador, o tratamento por reposição enzimática, feito com medicamento importado dos EUA, é financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e consome até 60% da verba destinada a medicamentos especiais em alguns Estados. “Cada paciente pode custar até um milhão de reais por ano”, diz.

Mutações

A análise feita por Rozenberg resultou também na descoberta de 12 novas mutações relacionadas à doença e conseguiu descrever a relação genótipo-fenótipo de seis delas, ou seja, os seus efeitos no organismo. Segundo o pesquisador, essa relação confere valor preditivo para a detecção de mutações. “Essas descobertas são importantes, pois fornecem dicas para a otimização do tratamento”, diz.

Outro achado da pesquisa mostra que uma mutação antes vista como relacionada à versão mais leve da doença de Gaucher pode estar ligada tambem à variante mais grave. Isso significa que “a descoberta muda a relação genótipo-fenótipo conhecida até então, gerando um novo diagnóstico”. O teste de DNA pode, portanto, levar a alterações no tratamento, permitindo um aconselhamento genético mais específico e preciso.

A associação entre doença de Gaucher e parkinsonismo, já conhecida pela comunidade científica, é reforçada com os resultados da análise feita na pesquisa: de 65 pacientes com Parkinson, dois apresentaram mutações ligadas à doença de Gaucher em seu material genético. “Para uma doença rara como essa, é uma quantidade muito significativa”, afirma o pesquisador. O grupo controle, formado por aproximadamente 300 pessoas não-parkinsonianas, não apresentou nenhuma das mutações.

Tay-Sachs A análise molecular ganha ainda mais importância em diagnósticos quando se fala na doença de Tay-Sachs, também pesquisada por Rozenberg. Apesar de incurável, a doença pode ser prevenida com aconselhamento genético para detectar casais portadores das mutações a fim de determinar quais são as possibilidades de conceber um filho doente. Em sua versão mais grave e recorrente, a Tay-Sachs leva crianças a óbito com dois ou três anos de idade.

Segundo o pesquisador, existem 19 casos da doença no País. “Verifiquei uma concentração de pacientes de famílias oriundas do sul da Bahia”, conta o biólogo. “Essa prevalência ainda precisa ser confirmada, mas ela pode indicar uma necessidade de prevenção nesse local”. Em seu projeto de pós-doutorado, Rozenberg pretende investigar mais a fundo as causas dessa concentração.

As aulas, como tem sido em alguns departamentos, podem e devem ser espaço para discussão dos decretos, principalmente quando praticamente a unidade de professores e estudantes está contra eles, sendo ou não a favor da greve.

Da USP Online