Cultura: Uma tela no centro da paisagem urbana muda vida de artista

Artista da primeira edição do Atelier revela as mudanças em sua vida depois da experiência

seg, 19/06/2006 - 21h30 | Do Portal do Governo

A vida do artista plástico Chico Coelho, da cidade de Piracicaba, teve literalmente uma reviravolta desde maio do ano passado. Durante oito meses, até dezembro, ele se mudou para São Paulo e passou a viver artes plásticas 24 horas por dia, sete dias por semana. Foi o único profissional do interior entre os doze selecionados a participar do Programa Residência Atelier Amarelo, da Secretaria de Estado da Cultura. Como não tinha residência na capital, passou a morar na sede do projeto, centro da cidade. Com os colegas, participou de workshops, oficinas e cursos. E praticou muito. Muito mesmo.

Pela janela do sobrado, deparava-se diariamente com outra realidade, bem diferente do ambiente de árvores e passarinhos do interior. Viu como funcionava a vida noturna de uma área degrada, que passa por um processo de recuperação. Tomou café da manhã com boêmios e toda a fauna da noite da região. Assim,teve in loco uma aula de sociologia. Ao voltar para Piracicaba, deixou a vida de artista recluso e fez de sua casa um ponto de encontro dos colegas e de exposição de arte. Ao mesmo tempo, tornou-se agitador cultural. “A experiência foi um carimbo oficial, uma vez que não tenho formação acadêmica em artes plásticas”, avalia.

        Coelho participou da primeira turma do Atelier Amarelo, um projeto inovador, ousado e desafiador, comandado pela artista plástica Maria Bonomi. A iniciativa nasceu de experiências pessoais que desenvolveu em Paris. A idéia deu tão certo que as três mil horas de cursos poderão render o reconhecido acadêmico de especialização – já existe uma mobilização nesse sentido. Há também planos para transformar as 20 horas de workshops filmadas num documentário e até abrir casas semelhantes em casas no interior – a idéia  está em estudo.

      Para a segunda edição, serão escolhidos oito projetos. A novidade é que aumentou a participação do interior – serão quatro, mesma quantidade da capital. O objetivo de ter mais cidades é que a experiência do atelier coletivo de artistas, interagindo entre si e com o entorno, possa ser transmitida e frutificar em outras regiões do Estado e mesmo do país, em edições futuras. As inscrições para a edição 2006 estão abertas e podem ser feitas até 14 de julho. O programa terá como núcleo propositivo “A Cidade Adentro”, título simbólico do estímulo à inserção dos artistas a serem selecionados na região do Centro de São Paulo.

   No caso da primeira edição, todos artistas participantes direta e indiretamente foram absorvidos “com apreço” na vida profissional artística da cidade, segundo os organizadores: por galerias de arte, em exposições e salões estaduais e federais, além de se tornarem destaques qualificados em concursos e bolsas de estudos. “Eles saíram de lá transformados, uma vez que os trabalhos desenvolvidos foram contaminados pelo entorno urbano e humano e pelo convívio artístico no espaço coletivo”, afirma Maria Bonomi. Um dos participantes, Júlio Meiron observou: “No meu projeto Centros Comunicantes, o material coletado e produzido nos arredores da Estação da Luz informou uma obra que, mais que releitura, é a recriação do lugar”.

  Maria Bonomi acredita que a primeira experiência serviu de mão dupla tanto para os organizadores quanto para os artistas. Assim, permitirá que as próximas edições sejam aprimoradas e corrigidas algumas rotas. Nesse sentido, ela lamenta que parte dos participantes tenha optado por fazer do ateliê apenas uma passarela para o mercado, ao invés de focar mais no processo de reflexão, dos conteúdos. A coordenadora diz que vai tentar mostrar para os novos alunos que eles precisam aproveitar de outras formas essa  “oportunidade única de aprendizado”.

Como ocorreu em 2005, na nova versão, a curadoria permanente deverá, além de selecionar os concorrentes, acompanhar tanto o desenvolvimento das propostas quanto coordenar a estruturação das atividades decorrentes, em comum acordo com os participantes.

        Os artistas serão selecionados por avaliação rigorosa dos projetos-percursos-produtos até então realizados e das fontes bibliográficas que venham a relacionar. Os residentes deverão estar aptos, também, “a construir correspondências visuais sensíveis com o entorno e sua população e a propor a reinvenção plástica dessa área em processo de rápida mutação”. É a arte em sua essência: de transformar o mundo à sua volta.

Da Secretaria da Cultura