Cultura: Teatro Coliseu de Santos volta a integrar memória cultural do País

Inaugurado em 1924, e fechado para obras há 10 anos, foi reaberto em janeiro totalmente restaurado.

seg, 20/03/2006 - 18h17 | Do Portal do Governo

A casa de espetáculos, reaberta em janeiro após longo período de degradação, recebeu no passado grandes personalidades, como Heitor Villa-Lobos e Carmen Miranda

O ator Serafim Gonzalez, de 71 anos, passou a tarde do último dia 9, uma quinta-feira, ensaiando com o quarteto musical Uirapuru para uma apresentação de composições de Villa-Lobos, à noite, em Santos. Convidado a narrar pensamentos do maestro entre as execuções dos músicos, ele ficou muito animado. A ocasião, além de ser uma oportunidade para prestar homenagem a um talento que admira, marcou o seu retorno ao palco em que estreou como ator, 57 anos antes: o do Teatro Coliseu.

Após um longo período de degradação e abandono, a casa de espetáculos da cidade litorânea voltou a ostentar a beleza e a elegância com que recebeu, até meados do século passado, grandes nomes do mundo cultural. O prédio histórico, inaugurado em 1924 e fechado para obras há 10 anos, foi reaberto no dia 25 de janeiro, véspera do aniversário de 460 anos de Santos, totalmente restaurado.

A reforma, iniciada em 1996, recebeu R$17 milhões em investimentos do governo do Estado, por intermédio do departamento de Apoio ao Desenvolvimento de Estâncias (R$14 milhões), e da Prefeitura Municipal de Santos. Envolveu um longo processo para a recuperação do monumento, que chegou a ser ameaçado de demolição e transformado em salão de bailes, cinema de filmes pornográficos e farmácia, além de ter a parte interna quase inteiramente destruída, antes do tombamento, em 1983, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico – Condephaat.

Agora, o teatro dispõe de sistema de ar condicionado, dez novos camarins, assentos e sanitário para portadores de necessidades especiais, rampas e elevadores. Também foi atualizada a estrutura cenotécnica, com sistema eletrônico dos bastidores para movimentação de cortinas e infra-estrutura para iluminação e som.

Ainda este mês, o Coliseu receberá a Orquestra Sinfônica do Estado de são Paulo – Osesp (dia 22), o show de Gal Costal (dia 23) e a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos (dia 31) para o concerto de abertura da temporada.

A administração do teatro, temporariamente a cargo da Secretaria, será repassada durante o ano para uma organização social, a ser escolhida. Membros do poder público e da sociedade civil comporão um conselho para fiscalizar suas ações.

Apresentações memoráveis – A história do teatro é marcada por três etapas distintas. No local onde se encontra, foi construído, em 1896, um ginásio de esportes com arquibancada e velódromo (pista de ciclismo), que ficou ativo até 1903. O prédio abandonado chamou a atenção de um empresário carioca, Francisco Serrador, que, impressionado com o crescimento da cidade, resolveu levantar no local o primeiro teatro, inaugurado em 1909.

Em 1924 surgiu o Coliseu, reinaugurado com o recital de gala A Bela Adormecida. A partir de então, se tornou um dos principais teatros do Brasil. Recebeu as mais importantes revistas musicais e companhias teatrais da época, além de óperas, operetas e outros tipos de espetáculos, quase sempre cheio.

Em seu palco apresentaram-se artistas nacionais e internacionais de renome. Da área teatral: Cacilda Becker, Procópio e Bibi Ferreira, Dercy Gonçalves, Tônia Carrero, Paulo Autran, Eva Todor, Cleide Yáconis, Lélia Abramo, Rodolfo Mayer, entre outros. A música também experimentou momentos de glória, com os pianistas Rubinstein, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Magda Tagliaferro e Antonieta Rudge, apresentações de orquestra com os maestros Villa-Lobos, Eleazar de Carvalho, Souza Lima, Moacyr Serra e Leon Kaniewsky, e as cantoras Carmen Miranda e Bidu Sayão.

A dança esteve representada pela Companhia de Décio Stuart, além de apresentações das bailarinas Gláucia Wagner e Lúcia Millás. A partir dos anos 70, porém, o Coliseu entrou em processo de decadência, cedendo espaço para exibição de filmes pornográficos e shows eróticos. Tombado pelo Condephaat em 1983, foi desapropriado em 2003, passando pertencer ao município.

Das luzes da ribalta ao século 21

A obra de reforma do Coliseu representou um salto tecnológico da época de sua construção (em que os teatros utilizavam as luzes da ribalta, por dentro do palco) para a de hoje. Mas sua aparência original foi resgatada, num trabalho que exigiu minuciosa pesquisa.

Muita coisa precisou ser refeita, já que o prédio teve sua parte interna quase toda derrubada. Os materiais que não puderam ser reproduzidos foram substituídos por novos, semelhantes aos da época. Todas as intervenções realizaram-se a partir de fotos e documentos antigos, muitos deles oriundos da Fundação Arquivo e Memória de Santos.

Para que se possa comparar o resultado final com o original, algumas peças foram preservadas sem restauro, como testemunhas da história. É o caso dos balaústres, da escada do saguão principal, ou foyer, que conserva o revestimento em escaiola, antiga técnica espanhola empregada para imitar mármore.

Porém, alguns detalhes não puderam ser recuperados com exatidão, por falta de registros precisos. As luminárias do saguão, por exemplo, foram modernizadas, e o guarda-corpo da sua escadaria, refeito em madeira. No entanto, tomou-se o cuidado de manter a harmonia do conjunto.

O prédio do teatro tem 4 pavimentos, mais de 70 janelas, e uma arquitetura que reúne vários estilos, típica das casas de espetáculo de luxo da época. Possui 1,2 mil lugares, incluindo platéia, três lances de camarotes, a frisa e a torrinha, hoje popularmente conhecida como arquibancada. Cerca de 5% da lotação é reservada a obesos e portadores de necessidades especiais.

Logo à entrada, no saguão principal, treze colunas compõem o espaço em estilo art-noveau, mobiliado com peças contemporâneas para abrigar cafeteria, chapelaria, balcão de informações, bilheteria informatizada, escadaria e elevadores. No teto, pintura de delicados enfeites com molduras quadrangulares, arrematados por faixa com guirlandas.

No primeiro andar, o saguão superior ou “galeria” reprisa as colunas e o teto do térreo, com um atrativo a mais: dá acesso a um dos amplos terraços da fachada principal (são dois) e a uma bela vista. O local abriga também uma exposição de de cartazes antigos e fotos da reforma.As três fileiras dos 31 camarotes têm guarda-corpos ornamentados, um deles com faixas de guirlandas douradas. Localizada no segundo lance de camarotes, a frisa, com sua grade de ferro fundido, é original. Cadeiras e poltronas são semelhantes à da Sala São Paulo, na capital, garantindo comodidade e ergonomia moderna. O veludo vermelho dá o tom luxuoso, nos assentos e encostos.

Em sintonia com a atualidade, o palco, arrematado externamente por molduras douradas envelhecidas e com relevo no centro do arco, inseriu o teatro no século 21, em razão dos avanços tecnológicos. Agora, várias funções de bastidores têm comando eletrônico. As condições de segurança e comodidade também acompanharam as imposições atuais. O prédio dispõe de equipamento de combate e prevenção de incêndios, portas para rotas de fuga, dez camarins, dois elevadores de serviço (monta-cargas), um de orquestra e dois sociais, adaptados para portadores de necessidades especiais, mesma finalidade das rampas e de um dos 14 sanitários.Serviço:

Teatro Coliseu

Rua Amador Bueno, 237 – Centro/Santos

Da Agência Imprensa Oficial