Motoristas de carros, jipes, motocicletas e bicicletas circulam numa via movimentada, mas não xingam transeunte distraído nem param na faixa de pedestre e jamais avançam o vermelho. Esse cenário de uma avenida com semáforo, faixas, pistas e carrinhos elétricos foi montado na sede do Detran, na cidade de São Paulo, para mostrar às crianças de seis a onze anos que elas podem fazer a diferença e até alertar os pais para que respeitem as leis de trânsito. Pelo menos esse é o objetivo do projeto Cidade Mirim, criado na Divisão de Educação de Trânsito do departamento.
A atividade começou cedo para os 26 alunos de cinco e seis anos da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) João de Deus Bueno dos Reis, do Jardim Consórcio, zona sul. Logo que a turma chegou, foi apresentada ao instrutor João Carlos Rodrigues da Silva, cabo da PM chamado pela garotada de tio João Carlos. O grupo foi ao auditório assistir ao desenho animado que transmite lições a quem anda a pé e de carro.
“Vocês já viram o que acontece lá fora de verdade? Pessoas se machucam e morrem no trânsito quando cada um não respeita o espaço do outro”, frisa tio João Carlos. O bate-papo informal e o didatismo do policial despertaram tanta atenção nas crianças que nem piscavam. “Tem gente que atravessa a rua e depois olha. Aí vem um carro e bum”, alerta. Com músicas e brincadeiras, ele aborda as condutas corretas no trânsito quando a pessoa está a pé, de automóvel, ônibus, moto e bicicleta. Ensina também sobre as funções das cores do semáforo. Alguns, mais desinibidos, levantam a mãozinha para relatar que já presenciaram acidentes acontecidos pela falta de educação no trânsito.
Habilitação mirim – Tio João Carlos dá algumas dicas que nem as professoras da turma conheciam. Diz que quando for atravessar a rua com criança, o correto é segurar no pulso, que é mais firme e não escapa, ao contrário da mão: “Vocês vão ensinar o que aprenderam aos pais, vizinhos e amigos, combinado?” Em uníssono, respondem: “Sim!” É obrigatório o uso de capacete durante o passeio de motocicleta. Até aí nenhuma novidade. O policial alerta o que poucos sabem: os acessórios de segurança são vendidos em diversos tamanhos, inclusive para crianças acima de sete anos, idade mínima permitida para andar na garupa.
No encontro houve espaço para educação ambiental. “Quem joga lata, papel e outros objetos pela janela de um automóvel suja a cidade. É falta de educação e pode provocar acidentes”, sinaliza o instrutor. Terminada a aula teórica, os olhos da garotada brilhavam e a euforia era geral. Era hora de testar os conhecimentos na cidade mirim, com ruas sinalizadas, faixas e carrinhos elétricos. A todo o momento, tio João Carlos acompanha a circulação das crianças na via, agora como motoristas. Ao final da atividade, a criançada ganha carteirinha de habilitação e talãozinho de multa mirins para advertir aqueles que desrespeitam as leis do trânsito.
Há seis anos o soldado João Carlos é instrutor de palestras sobre educação de trânsito: “As crianças aprendem também a respeitar os policiais, pois estamos aqui para ajudar e não para prender”. Diz mais: “O projeto Cidade Mirim pode oferecer a primeira oportunidade de entretenimento a estudantes carentes, que nunca brincaram com carrinhos elétricos”. Feliz com o resultado do trabalho, o soldado conta que muitos participantes da iniciativa agora são professores e trazem seus alunos para aprenderem as mesmas lições.
Surpresa – Uma das educadoras que acompanhava a turma, Roseli Reginato, avalia que a forma de aprendizagem é muito interessante: “Até para nós foi uma surpresa”, diz, referindo-se à maneira correta de segurar uma criança ao atravessar a rua. “Sempre penso que a reeducação de um adulto começa com as cobranças de uma criança”, opina a coordenadora pedagógica Geny Rodrigues da Silva.
“Comecei o curso pelos mais velhos (cinco e seis anos de idade), diz, ao informar que outras turmas estão agendadas para que todos os alunos da Emei João de Deus Bueno dos Reis participem da atividade. Geny planeja uma série de ações na escola a partir do que os pequenos aprenderam no Detran, entre elas a produção de desenhos.
Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial
