Corpo de Bombeiros de São Paulo consolida-se como instituição

Programas de responsabilidade social, novas tecnologias, investimento em profissionais fazem parte do dia-a-dia da corporação

sex, 09/03/2007 - 22h00 | Do Portal do Governo

A noite de 16 de fevereiro de 1880 seguia tranqüila na pequena cidade de São Paulo. Em meio à madrugada, um incêndio tomou proporções assustadoras e atingiu em cheio a biblioteca e o arquivo da Faculdade de Direito, que funcionava no Convento de São Francisco. A população correu para tentar salvar o prédio e os documentos, mas não havia homens treinados para enfrentar a situação. Isso fez com que, em 10 de março daquele mesmo ano, uma lei estabelecesse a criação de uma Seção de Bombeiros na então Província de São Paulo.

Dos baldes de couro e machadinhas, das badaladas de sinos noticiando o incêndio, das carroças puxadas por cavalos e dos 20 homens que começaram a história dessa instituição, passados 127 anos, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo tornou-se referência. Pesquisa do Ibope, em parceria com a revista Seleções, revelou que pelo quinto ano consecutivo a marca Corpo de Bombeiros de São Paulo lidera o ranking do levantamento de confiabilidade. Para 93% dos entrevistados, o bombeiro é o profissional mais confiável.

Hoje, a instituição emprega aproximadamente 10 mil profissionais (entre os quais 228 mulheres) e dispõe de 1.161 viaturas no Estado.Reciclagem – “A imagem romântica do homem corajoso envolto em chamas, salvando uma vítima, está fixada na mente das pessoas. Hoje, nossos profissionais estão mais capacitados e se utilizam de novas tecnologias e equipamentos mais modernos para salvar vidas”, explica o coronel Manoel Antonio da Silva Araújo, subcomandante do Corpo de Bombeiros.

A reciclagem faz parte do cotidiano dos bombeiros. Eles realizam vários cursos de especialização: mergulho, salvamento terrestre, salvamento em altura e incêndio. Um dos treinamentos mais recentes ocorreu nas estruturas do Expresso Tiradentes. “Nossos profissionais devem estar preparados para todas as eventualidades. Fazemos treinamento para resgate em locais altos e com fios de alta tensão”, diz o coronel Araújo. Alguns oficiais da instituição viajam para exterior para aprimorar os seus conhecimentos e aprender novas técnicas.Área de atuação – O Corpo de Bombeiros atua em todo o Estado, mantendo postos e bases de operação posicionados para que todos os municípios sejam atendidos. Das 645 cidades paulistas, 126 têm a presença de bombeiros.

A instituição recebe aproximadamente 36 mil ligações diárias, no telefone de emergência (193). Somente na capital paulista, o número de chamadas chega à casa dos 8 mil. Do total de chamadas, 4% transformam-se em ocorrências; 26% são destinados para outras instituições, como o Centro de Zoonose, 192 (ambulância) e subprefeitura. Os pedidos de informações equivalem a 30%. O restante é trote. De acordo com o capitão Maxmena, responsável pela Central de Operações do Bombeiro (Cobom), 40% dos trotes são de crianças durante a saída da escola ou de pessoas que querem simplesmente conversar com o profissional.

“Temos um caso histórico de trote aqui na Cobom. Ocorreu na Rua Fortuna de Minas, zona leste da capital. Um jovem com problemas psiquiátricos (o que foi detectado assim que a viatura chegou ao local) passou 14 trotes seguidos. Depois de muita conversa com os familiares, as chamadas terminaram”, disse o capitão Maxmena.

O atendimento no 193 é realizado por uma equipe de 104 profissionais que trabalham em sistema de plantão (12 por 48 horas), divididos em cinco turmas. Cada equipe é formada por 20 pessoas, sendo que uma delas tem 21 componentes. O capitão Maxmena explica que, para trabalhar no 193, o profissional deve ter três anos de atendimento operacional de rua e curso de primeiros socorros. Em cada turno, a seção tem ainda um médico, da Secretaria Estadual da Saúde, que ajuda a equipe que está de plantão nos primeiros procedimentos do atendimento, principalmente nos casos de orientação de problemas cardiovasculares.Centro de manutenção – O Corpo de Bombeiros tem um centro de manutenção na capital. O espaço foi inaugurado em agosto de 2001. “A cada 1.500 quilômetros rodados, as viaturas param para manutenção”, diz o capitão Lago. Os 172 homens que trabalham nesse tipo de atendimento são formados nas áreas de mecânica, hidráulica e elétrica. Os profissionais são especializados em vazamentos e em partes eletroeletrônicas.

No Centro de Manutenção ficam as viaturas históricas que saem somente para eventos. “Alguns carros participaram da minissérie Um só Coração, como é o caso da Magirus – Auto Escada de 1928. Uma multinacional queria comprar o carro, porque é o único exemplar de carro a gasolina”, explica o soldado Pires, que cuida com carinho de cada relíquia da unidade.

Entre as raridades, encontra-se um carro alemão Magirus Deutz, de 1911, que possui pneu maciço. Ao todo são 27 viaturas, que antes estavam espalhadas em quartéis pelo Estado.

Responsabilidade social – O Corpo de Bombeiros abraçou também a idéia da responsabilidade social. Entre os projetos, destacam-se: Bombeiros no Resgate da Cidadania, programa destinado a crianças e jovens entre 10 e 16 anos, que oferece opções de esporte, cultura e educação. As atividades são realizadas nos postos da corporação, fora do horário escolar, sob a supervisão de instrutores da instituição. O segundo é o Recicle, que transforma materiais recicláveis em recursos financeiros, os quais são destinados a crianças carentes ou com câncer. O terceiro é o Bombeiro Sangue Bom. O programa visa a incentivar a população e até mesmo os próprios bombeiros a doar sangue no mês de julho. Em 2006, foram realizadas 9.653 doações, 275% a mais do que no ano anterior (2.576).

Pioneiras do fogo – O primeiro registro de mulheres engajadas no Corpo de Bombeiros ocorreu durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Elas foram empregadas para suprir a falta do efetivo que estava sendo empregado nas frentes de luta. Passaram-se décadas e em 1991 formou-se a primeira turma de 40 bombeiras, com cinco oficiais, como é o caso da capitão-feminino Ana Rita. Essas mulheres foram denominadas Pioneiras do Fogo.

“Iniciei minha trajetória profissional nos bombeiros em 1992, após ter-me formado na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Fiquei quatro meses no policiamento e em janeiro de 1993 iniciei o curso de bombeiros, formando-me em dezembro daquele mesmo ano”, afirma a capitão-feminino. Casada e mãe de dois filhos, de 6 e 4 anos, Ana Rita considera-se uma profissional realizada e acredita que fez a escolha certa, apesar de episódios tristes, como a perda de companheiros no incêndio da Nestlé, em 2000: “Durante a ocorrência, perdemos um tenente e um sargento”. A oficial é instrutora da Escola de Bombeiros, localizada no município de Franco da Rocha, onde leciona Administração de Bombeiros e Produtos Perigosos.

Para a soldado-feminino Ivonilde Rigobelli, entrar para o Corpo de Bombeiros foi um grande desafio. Depois de trabalhar por três anos como policial militar, engajou-se nos bombeiros na primeira turma feminina. “Foi uma verdadeira prova de fogo para nós, mulheres, e para os homens que começaram a conviver com a presença feminina nos quartéis. Trabalhamos muito e conseguimos provar que somos boas parceiras de trabalho”, conta.

Principais atendimentos realizados

Os principais pedidos que chegam ao Corpo de Bombeiros são de resgate, salvamento terrestre, salvamento aquático, produtos perigosos e incêndio. O resgate é um serviço de atendimento pré-hospitalar, destinado à estabilização e ao socorro de vítimas de traumas e casos clínicos de emergência. É operado, exclusivamente, por intermédio do Corpo de Bombeiros e do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar, além de médicos e enfermeiros da Secretaria Estadual da Saúde. Atualmente, o serviço de resgate atua praticamente em todo o Estado, com mais de 280 viaturas em operação, entre Unidades de Resgate e Unidades de Suporte Avançado, além de helicópteros.

O salvamento terrestre é dirigido ao atendimento de ocorrências em áreas de difícil acesso. Os casos mais comuns são a retirada de pessoas em locais de risco, desabamentos (como ocorreu no caso da Linha 4 do Metrô), incêndios e resgate de animais.

Com o lema “Água no umbigo, sinal de perigo”, o Corpo de Bombeiros criou em dezembro de 1985 o 3o Grupamento de Busca e Salvamento, atual 17o Grupamento de Bombeiros. A unidade é responsável pela prevenção de afogamentos e pelo resgate, busca e salvamento marítimo no litoral do Estado. O projeto Salvamar foi criado em 1988. Hoje, está estruturado com pessoal treinado, viaturas, embarcações e equipamentos apropriados para o resgate das vítimas.

O Corpo de Bombeiros atendeu também a milhares de ocorrências envolvendo produtos perigosos. Na maioria dos casos, os acidentes aconteceram durante o transporte. Em todo o Estado, são atendidas aproximadamente 42 mil ocorrências por ano. Atualmente, além de pessoal especializado, dispõe de sofisticadas viaturas e equipamentos de tecnologia de ponta.

Centro de Memória do Corpo de Bombeiros

Localizado no número 2.329 da Rua Domingos de Moraes, na capital, o casarão vermelho esconde verdadeiras relíquias. É o Centro de Memória do Corpo de Bombeiros. O prédio foi construído em 1927 por um engenheiro italiano e pertenceu à família Caruso. Em estilo art noveau, a construção é toda revestida de mármore e possui lustres de cristal e grandes vitrais. Em seus compartimentos, pode-se ver um pouco da história da instituição. O centro foi criado em 2005.

Na entrada, um carro vermelho do Corpo de Bombeiros que utilizava tração animal chama a atenção. Destaque também para o escafandro utilizado durante as décadas de 50, 60 e 70 do século passado e um extintor de incêndio de metal.

O subtenente Baroni, um dos responsáveis pelo espaço, explica que os objetos expostos estavam espalhados pelo Estado. “Muitos bombeiros, alguns até aposentados, ajudaram na formação deste acervo”, diz.

Outro objeto que impressiona quem visita o local é o Submersível. Trata-se um minissubmarino muito utilizado no Caribe e que foi empregado pelos bombeiros de São Paulo em tanques de mergulho.

Fotos históricas que marcaram a história da capital paulista, como os incêndios dos edifícios Andraus, Joelma e Grande Avenida, podem ser vistas. Subindo as escadas, há um espaço lúdico para crianças e adultos. São réplicas de caminhões e de automóveis de todo o mundo. O visitante também pode ver quepes, capacetes e insígnias de alguns corpos de bombeiros, como o de Nova York. Para finalizar o passeio, nada melhor do que uma sessão de cinema com as imagens de bombeiros do início do século passado.

SERVIÇO

Centro de Memória do Corpo de Bombeiros

Rua Domingo de Moraes, 2.329, Vila Mariana (próximo ao Metrô Santa Cruz)

Visitação de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18 horas

Agendamento para visitas, pelo tel. (11) 5083-9339, ramal 209, com o subtenente Baroni ou o subtenente Gerson.

Maria Lúcia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial

(R.A.)