Com exposição, Unesp celebra aniversário de grupo de pesquisa sobre cerâmica

Mostra é ponto de partida de uma série de atividades na universidade voltadas para a arte produzida a partir do barro

qua, 12/09/2018 - 15h09 | Do Portal do Governo

A mostra “25 Anos de Pesquisa Cerâmica” está em exposição desde 20 de agosto na Galeria Alcindo Moreira Filho, no Instituto de Artes (IA), do campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São Paulo. A ação foi o ponto de partida de uma série de atividades, como mesas-redondas, apresentações de pesquisas, palestras e workshops, voltadas para a arte produzida a partir do barro.

O evento marca as duas décadas e meia de vida do Grupo de Pesquisa Panorama da Cerâmica Latino-Americana: Tradicional e Contemporânea, fundado e coordenado pela professora Lalada Dalglish, do IA. A mostra coloca em evidência as várias dimensões da atuação do grupo.

Coleção

As peças da exposição integram a Coleção de Cerâmica Lalada Dalglish, doada em comodato para a Unesp para a futura criação do Museu Brasileiro da Cerâmica, com obras já catalogadas e em acervo nas instalações da Universidade no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

Há, por exemplo, peças de cerâmica popular, como o casal de noivos e outros personagens criados pela artista Zezinha, do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, analisada no doutorado de Camila da Costa Lima; ou os bichos e bonecas feitos por dona Trindade, do Vale do Ribeira, em São Paulo, um dos trabalhos pesquisados no mestrado de Amanda Magrini.

Outros componentes da mostra são exemplares da cerâmica de um dos principais povos da Amazônia peruana, focalizados no mestrado por Priscilla Araujo Paiva. Ao lado desses trabalhos estão obras de expressão artística, como as da série Mulheres Recipientes, criadas durante o mestrado de Flávia Leme.

Vale destacar, ainda, os trabalhos que associam cerâmica e arte terapia, como os do projeto Ser Âmica, que oferece aulas dessa arte a jovens de 12 a 17 anos em um ateliê no bairro de Artur Alvim, na zona leste da capital paulista, sob a coordenação de Elainy Mota, que apresentou algumas das obras desses adolescentes em seu mestrado. “As pesquisas do grupo abrangem as vertentes de arte popular, arte indígena, arte contemporânea e arte terapia”, resume Lalada Dalglish.

Pioneirismo

Um dos grandes nomes da cerâmica artística brasileira, Lalada Dalglish ajudou a tornar a Unesp, onde leciona desde os anos 1990, uma referência nacional nas pesquisas do setor. A docente criou o grupo após passar 18 anos nos Estados Unidos, onde fez estudos de pós-graduação em Artes Plásticas e em Integração da América Latina. Ao voltar, ela constatou que o sistema universitário brasileiro não tinha exemplos de pesquisa, ensino ou extensão no campo da cerâmica.

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes do IA, Agnus Valente ressalta o empenho da professora na materialização de propostas, como o ateliê de cerâmica do instituto. “A produção dos alunos é queimada nos fornos que temos aqui, por exemplo. A Lalada encampa a produção poética de seus orientandos e faz um grande esforço para que as obras deles sejam colocadas em exposição”, explica.

A dedicação da docente também é destacada por Valerie Ann Albright, diretora do IA. “Eu tenho testemunhado como o projeto de Lalada ganhou corpo nas últimas três décadas. Quero parabenizá-la pela mostra no IA, que está sendo realizada em tempos de crise, com poucos recursos”, salienta.

Coordenadora da revista Arte e Cultura da América Latina, a crítica de arte Mariza Bertoli enfatiza o papel de Lalada Dalglish na esfera universitária. “Ela instituiu o ensino de cerâmica na Unesp e desenvolveu, com outros pesquisadores, vários ramos de estudo da cerâmica, desde a produção tradicional até as formas contemporâneas de expressão”, avalia.

Formação

Os alunos de graduação e pós-graduação do IA podem ter uma formação consistente no campo da cerâmica. Na graduação, além das matérias obrigatórias na grade curricular, os estudantes desenvolvem atividades de pesquisa em modelagem, torno, esmaltação, queimas e construção de fornos, utilizando os vários equipamentos do Laboratório de Cerâmica.

A partir dos anos 1990, foram orientados 44 trabalhos de conclusão de curso e monografias com enfoque na cerâmica como componente artístico, educativo e de inserção social. Já na pós-graduação, a Unesp oferece opções stricto sensu de mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Desde 2007, já foram produzidas 34 pesquisas de mestrado e doutorado, algumas já publicadas pela Editora Unesp. Na pós-graduação lato sensu são oferecidos três cursos de especialização: Arte Terapia/Terapias Expressivas (Cerâmica: a modelagem como terapia), Fundamentos da Cultura e da Arte (Cerâmica, criatividade e panorama histórico) e Ecologia, Arte e Sustentabilidade (Cerâmica, ecologia e sustentabilidade).

Na extensão, o projeto Panorama da Cerâmica Brasileira é promovido desde 1994, aberto a alunos de graduação e pós-graduação e a toda a comunidade, com viagens pelo Brasil para conhecimento e divulgação da cerâmica nacional.