Cientistas da USP e da Unicamp analisam poluição ambiental na capital

Por meio de estudos em árvores da cidade de São Paulo, pesquisadores constatam mudanças na concentração de poluentes

ter, 14/08/2018 - 11h58 | Do Portal do Governo

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pesquisadores do Instituto de Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), analisam árvores que revelam a evolução da poluição ambiental em São Paulo.

Os cientistas utilizam a tipuana, de porte avantajado e com copa ampla e densa, a mais comum na cidade, como marcadora dos níveis de metais pesados e outros elementos químicos. Originária da Bolívia, a planta começou a ser cultivada na capital paulista principalmente na primeira metade do século XX.

Os primeiros exemplares foram introduzidos em São Paulo principalmente pela companhia responsável pela criação de bairros planejados e arborizados na cidade, como o Jardim Europa, Pacaembu e Alto de Pinheiros.

Diminuição

Ao analisar a composição química dos anéis de crescimento e de cascas de exemplares no município, os pesquisadores constataram redução na poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo na zona oeste de São Paulo nos últimos 30 anos.

Com resultados publicados na revista Environmental Pollution, a pesquisa foi apoiada pela Fapesp por meio de um projeto temático, um auxílio à pesquisa e uma bolsa de pós-doutorado. Os pesquisadores da USP começaram a avaliar, nos últimos anos, a possibilidade de analisar a composição química das cascas e dos anéis de crescimento de árvores a fim de reconstituir os níveis de poluição ambiental de São Paulo no longo prazo.

Para isso, três espécies de árvores mais comuns na cidade foram selecionadas: o alfeneiro, a sibipiruna e a tipuana. “A tipuana se mostrou a melhor espécie de árvore para fazermos análises químicas, tanto de seus anéis de crescimento anual como das cascas para avaliar a poluição ambiental da cidade”, ressalta à Agência Fapesp Giuliano Maselli Locosselli, pós-doutorando na USP e primeiro autor do estudo.

Metodologia

É importante frisar que a árvore absorve, pelas raízes, elementos químicos, como metais pesados, presentes na atmosfera e carreados para o solo pela água das chuvas. Os compostos são transportados junto com a seiva, pelos vasos da planta, e ficam armazenados na madeira, nos anéis de crescimento, à medida que o exemplar cresce.

Vale destacar que cada um dos anéis representa um ano de vida da planta, sendo os maiores os mais recentes. Ao analisar a composição química, a concentração de metais pesados no solo de um determinado ambiente no ano em que o anel foi formado pode ser medida. Ao comparar as concentrações dos anéis, é possível avaliar como a presença desses elementos químicos variou em uma escala de décadas.

“Como a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é possível analisar o material de diversas árvores e cobrir uma grande área. Isso permite ver como a poluição por metais pesados e outros elementos químicos se distribui por toda a cidade”, acrescenta o pesquisador.

Os cientistas realizaram um estudo inicial em que analisaram a distribuição de cádmio, cobre, mercúrio, níquel, sódio, chumbo e zinco em anéis de duas espécimes de tipuana plantadas no jardim da Faculdade de Medicina da USP, na zona oeste. A pesquisa teve o objetivo de avaliar as mudanças temporais nos níveis de poluição por metais pesados nessa região da cidade.

Amostras

Para obter amostras dos anéis de crescimento anual das duas árvores, com 35 anos de idade, foi usada uma sonda, semelhante à broca de uma furadeira, mas com o interior oco, capaz de extrair uma amostra cilíndrica do interior da espécie, que mostra todos os anéis de crescimento anual, da casca até o centro da planta, sem prejudicá-la.

As amostras foram encaminhadas para o professor Marco Aurelio Zezzi Arruda, do Instituto de Química da Unicamp. Por meio de uma técnica chamada ablação a laser acoplada a espectrometria de massas, foi possível escanear e gerar imagens das amostras a partir de um software e analisar a distribuição dos elementos químicos nos anéis de crescimento anual.

A partir dessas imagens, os pesquisadores definiram quais eram as células de interesse e fizeram avaliações contínuas para determinar as concentrações dos elementos químicos em cada ano de vida das plantas.

As análises dos dados indicaram que houve redução da poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo nas últimas três décadas na região onde estão situadas as espécies de tipuana analisadas. A redução dos níveis de sódio e zinco foi menos significativa.

“A diminuição dos níveis de chumbo pode ser atribuída à eliminação gradual desse elemento químico na composição da gasolina, enquanto a tendência decrescente da poluição por cádmio, cobre e níquel provavelmente está relacionada ao aumento da eficiência dos veículos e à desindustrialização de São Paulo”, ressalta à Agência Fapesp Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo.