Cientistas da Unesp investigam limites geográficos da Mata Atlântica

Professores desenvolvem projeto que pretende se tornar maior banco de dados livres sobre distribuição de espécies do bioma

seg, 17/09/2018 - 19h07 | Do Portal do Governo

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro se dedicam a avaliar quais seriam os limites geográficos da Mata Atlântica, que se estende pelo litoral do Brasil até o interior do continente nas suas porções mais ao sul, onde alcança partes do Paraguai e da Argentina.

Os cientistas se motivam em reunir informações sobre o bioma, de modo a conhecer melhor sua distribuição. Atualmente, a definição dos limites de um bioma ou biorregião difere muito de acordo com a instituição que o faz, objetivo e atores que participam do processo.

A necessidade de determinar os limites da Mata Atlântica surgiu durante o desenvolvimento do projeto “Atlantic Series”. Impulsionados pela quantidade de informações disponíveis e dispersas, um grupo de centenas de pesquisadores, estudantes e consultores, liderados pelos professores Mauro Galetti e Milton Ribeiro, ambos da Unesp de Rio Claro, desenvolvem o projeto que pretende se tornar o maior banco de dados livres sobre a distribuição de espécies da Mata Atlântica.

Trabalhos

A avaliação dos limites da Mata Atlântica, publicado em julho deste ano pela pesquisadora Renata Muylaert na revista Oecologia Australis, permitirá que futuros trabalhos realizados no bioma possam usar esses limites com mais clareza, conforme objetivos de cada trabalho. Além disso, o material, composto por mapas e descrições das congruências e divergências entre limites, pode servir como base para novos trabalhos que investiguem a distribuição original e histórica da Mata Atlântica.

“É impressionante a quantidade de informações sobre aves, morcegos, mamíferos em geral e plantas que os pesquisadores compartilham”, salienta Mauro Galetti. “Estamos inserindo a Mata Atlântica na era do big data. Seguramente, o bioma será a floresta tropical com maior quantidade de informações disponível livremente”, acrescenta.

“Conhecer até onde vai a Mata Atlântica é de fundamental importância. As áreas de transição podem permitir a definição de corredores ecológicos entre biomas, essenciais para a conservação da biodiversidade em zonas de tensão ecológica”, ressalta o professor Milton Ribeiro. “O Atlantic Series impulsiona o nível da ciência brasileira para um patamar superior”, completa.

Vale ressaltar que a definição dos limites de um bioma ou biorregião difere muito de acordo com a instituição que o faz e quem participa do processo. O limite da Mata Atlântica proposto pela Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006), por exemplo, foi definido com a participação de diversos setores da sociedade e busca definir até onde políticas de conservação e planejamento territorial devem ser aplicados, em escala nacional.

Conservação

Por outro lado, o limite definido pela organização não governamental World Wildlife Fund (WWF) foi feito por cientistas que buscavam definir as ecorregiões do mundo para pensar na realização de estudos ecológicos e na conservação das espécies, em nível global.

Um limite integrador, que inclui áreas consideradas pelos diferentes limites existentes, como proposto pelo estudo, pode ser importante para estudos biogeográficos e de ecologia da paisagem, por exemplo. É importante ressaltar que, embora existam limites que nos auxiliam a delimitar um bioma ou ecorregião, existe uma quantidade significativa de espécies que podem transitar entre biomas.

“Temos observado que uma infinidade de espécies vegetais de Cerrado pode viver em áreas de domínio de Mata Atlântica”, enfatiza Renata Muylaert, doutoranda da Unesp que liderou o estudo. A pesquisadora explica que quando se fala em animais, esse compartilhamento é nítido, pois algumas espécies possuem grande mobilidade e podem se distribuir em áreas amplas ou mesmo serem típicos de um bioma, e serem vistos próximos a remanescentes costeiros de Mata Atlântica, devido a todas as mudanças na paisagem que ocorrem nos últimos anos.

A demanda por uma revisão dos limites de fato está sendo considerada em um projeto de atualização dos biomas brasileiros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual estudos de campo têm sido feitos para verificar esses limites.