Bioenergia é tema de lançamento de relatório na sede da Fapesp

Workshop promove divulgação de documento que teve contribuição de 154 cientistas de 31 países sobre geração de energia

seg, 13/08/2018 - 10h03 | Do Portal do Governo

A sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) recebeu, nesta quinta-feira (9), o workshop “Bioen-Fapesp RenovaBio: Ciência para a Sustentabilidade e Competitividade da Bioenergia”. Na ocasião, foi lançado o relatório “Bioenergia e Sustentabilidade: América Latina e África”.

De acordo com o grupo de pesquisadores e autores da publicação, a bioenergia será uma das soluções que as nações desses territórios poderão adotar para tornar as matrizes energéticas mais limpas e amenizar os impactos das mudanças climáticas globais.

Vale destacar que o relatório teve contribuição de 154 cientistas de 31 países, membros do Comitê Científico para Problemas do Ambiente, agência intergovernamental associada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Matriz

É importante frisar que o trabalho foi coordenado por integrantes dos programas Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota) e de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

“Todas as energias renováveis, como a hidrelétrica, a solar e a eólica, terão papéis fundamentais para fornecer eletricidade e substituir combustíveis fósseis na matriz energética brasileira e de outros países da América Latina e da África”, avalia Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Bioen.

Uma das vantagens da bioenergia em relação às outras matrizes renováveis é que a biomassa pode ser armazenada para produzir continuamente, o que facilita a integração em redes elétricas não confiáveis. Além disso, a bioenergia pode ser implantada em escala na América Latina e fornecer segurança energética no setor de transporte em um curto período, segundo os pesquisadores.

“Em um momento de transição energética pelo qual o mundo passa hoje, em que se tem buscado alternativas de fontes de energias renováveis e sustentáveis, que possibilitem diminuir as emissões de carbono, é preciso adotar soluções mais fáceis de serem implementadas. E a bioenergia é uma delas”, completa a docente.

Produção

No território nacional, a substituição de 36% da gasolina por etanol de cana nas últimas quatro décadas mostrou a rapidez com que a transição para as renováveis pode ser feita. Atualmente, a cana-de-açúcar contribui com 17% da matriz energética do país e 25% das necessidades de gasolina.

Especialistas analisam que a produção brasileira de etanol até 2045 poderá deslocar até 13,7% do consumo de petróleo bruto e 5,6% das emissões de dióxido de carbono (CO2) do mundo em relação a 2014. De acordo com o relatório, o panorama poderia ser alcançado sem o uso de áreas de preservação de florestas ou terras necessárias para sistemas de produção de alimentos no País.

Os autores do documento destacam que a alta densidade de energia do etanol (cerca de 70% da gasolina) também ressalta o potencial do biocombustível para ser usado no transporte e ajudar a garantir uma transição rápida para uma matriz de energia renovável, juntamente com a energia solar e a eólica, ainda sujeitas a desenvolvimento por causa da falta de eficiência.

“A bioenergia será uma parte da solução que o mundo adotará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que necessitará de uma combinação de muitas maneiras de gerar energia, adequadas a cada região”, afirma o diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz.

De acordo com os dados apresentados pelo representante da Fapesp, todos os cenários sobre o futuro da energia no mundo, elaborados por entidades como a Agência Internacional de Energia, projetam o aumento do uso de biocombustíveis, especialmente na área de transporte.

Emissões

A estimativa da entidade internacional é de que 35% dos veículos híbridos – com um motor de combustão interna e outro elétrico, por exemplo – utilizarão biocombustíveis em 2075. “Há uma visão de que os carros puramente elétricos serão a opção para reduzir as emissões de carbono. Mas não se leva em conta de que os carros puramente elétricos terão que ser carregados, e a eletricidade para abastecê-los terá que ser produzida de alguma maneira”, diz o presidente da Fapesp, José Goldemberg.

Segundo o gestor, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cerca de 90% da eletricidade são produzidos a partir de carbono. Carlos Henrique de Brito Cruz destaca que, além do Brasil, há quatros países no mundo – Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Islândia – em que mais de 40% da energia primária que utilizam é proveniente de fontes renováveis.

O Brasil hoje, especialmente o Estado de São Paulo, lidera a produção científica sobre bioenergia, particularmente relacionada à cana-de-açúcar. Os pesquisadores brasileiros, vinculados em grande parte a universidades e instituições de pesquisa no território paulista, publicam cerca de 120 artigos por ano relacionados à bioenergia, de acordo com o diretor-científico da Fapesp.

“A Fapesp financia milhares de projetos relacionados à bioenergia e já investiu R$ 150 milhões no Programa Bioen, que atualmente tem 80 projetos de pesquisa em andamento e mobiliza mais de 300 cientistas, dos quais 229 são de São Paulo, 33 de outros Estados e 52 do exterior”, enfatiza.