Venenos são fontes na busca por novos medicamentos

Os trabalhos têm como foco as doenças imunoinflamatórias, como osteoartrite e artrite reumatoide, o câncer e as doenças neurodegenerativas

qui, 14/02/2019 - 14h00 | Do Portal do Governo

Venenos de animais são o objeto de estudo de um centro de pesquisa sediado no Instituto Butantan, em São Paulo. Mas a ideia no caso não é encontrar antídotos e sim usar os próprios venenos para identificar alvos moleculares de doenças e, a partir desse conhecimento, desenvolver novos compostos que possam ser usados como medicamentos.

Os trabalhos têm como foco as doenças imunoinflamatórias, como osteoartrite e artrite reumatoide, o câncer e as doenças neurodegenerativas, explicou Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, pesquisadora do Instituto Butantan e coordenadora do Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares (Centre of Excellence in New Target Discovery, CENTD).

“Além de venenos, estudamos também toxinas isoladas de venenos e de secreções animais – da biodiversidade brasileira e de outros países – para encontrar e validar alvos terapêuticos que abram caminhos para o desenvolvimento de novos medicamentos”, disse Chudzinski-Tavassi durante a FAPESP Week London, realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro na Royal Society, na capital londrina.

“Criamos um biobank – banco de amostras biológicas, coleção de venenos, frações isoladas, proteínas recombinantes e peptídeos sintéticos –, para manutenção, controle e gestão das amostras usadas em todos os estudos realizados no CENTD”, disse Chudzinski-Tavassi. “Após a identificação de um potencial novo alvo, faz-se necessário a sua validação. Para isso, o CENTD recorre a metodologias avançadas de biologia molecular, como o sistema CRISPR/Cas9, o nocaute ou a ativação da expressão do gene em testes in vitro e in vivo. Até o momento, 23 venenos completos foram analisados para efeitos pró-inflamatórios, nos seis modelos celulares que foram estabelecidos e padronizados”, complementa.

“Tendo em vista as atividades anti-inflamatória e citoprotetora claramente evidenciadas em diferentes tipos celulares relacionados com doenças artríticas, sugerimos vários dos peptídeos que o CENTD possui em sua biblioteca de compostos como ferramentas para estudos de alvos de doenças degenerativas”, disse.

Segundo a coordenadora do Centro, estudos que estão em curso permitirão desvendar as vias pelas quais esses efeitos ocorrem.