Unicamp promove debate sobre a disseminação de notícias falsas

Evento buscou respostas com especialistas sobre as chamadas “fake news” e como elas influenciam os rumos da sociedade

ter, 18/09/2018 - 19h33 | Do Portal do Governo

Na última terça-feira (11), o Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), promoveu o Seminário Pós-Verdade, em parceria com o jornal Folha de S. Paulo. O evento formulou questionamentos e buscou respostas com especialistas sobre as chamadas “fake news” e como elas influenciam os rumos da sociedade, sobretudo na era digital.

Um estudo publicado em março pela revista Science ajuda a entender como a fraude funciona na rotina da rede mundial de computadores e quais as motivações. A pesquisa identificou 126 mil histórias inverídicas compartilhadas por três milhões de vezes pelo microblog Twitter, entre 2006 e 2017, e constatou que a probabilidade de compartilhamento de uma notícia falsa é 70% maior do que o de uma notícia verdadeira.

Impulso

O impulso para multiplicar o alcance de inverdades pode ser compreendido, pelo menos em parte, porque elas são mais atraentes ao leitor por serem mais divertidas, curiosas ou improváveis. As redes sociais, sobretudo, já criaram um modelo de negócio, uma vez que geram muito mais acesso do que as demais.

Outra questão é de que maneira a sociedade poderá se certificar da veracidade de uma notícia e quem deverá se encarregar desse ônus. Em vários países, o poder público tem participado na criação de mecanismos preventivos para apoiar a imprensa.

No Brasil, isso ocorre através do Tribunal Superior Eleitoral. Durante o evento, no entanto, os palestrantes comentaram que isso pode ser um passo pequeno para o Estado começar a censurar notícias.

Distinção

De acordo com o filósofo Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, é necessário fazer uma distinção entre erros jornalísticos e notícias maliciosamente manipuladas com a intenção de favorecer interesses políticos ou econômicos.

“Nesse fenômeno, estamos vendo a migração do boato político para a forma jornalística. A capacidade persuasiva do boato advém do testemunho, alguém que teve acesso a uma verdade, que supostamente estava escondida, e a força desse testemunho é que persuade a acreditar naquela informação”, salienta.

Sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, José de Souza Martins, alertou para a análise sobre o que ele denominou “fake news de longa duração”. “Nós deveríamos prestar atenção nas ‘fake news’ de longo prazo. Estamos há 50 anos nesse processo que envolve a transformação da religião em partido político, e nós não estamos discutindo isso.”

Impacto

As fake news viraram motivo de estudos em muitas instituições de ensino no Estado de São Paulo. Apesar do assunto ter ganhado notoriedade há pouco tempo, muitos especialistas buscaram estudar o fenômeno com o intuito de advertir a sociedade o quanto antes.

A professora de mídias digitais e e-commerce da Etec Parque da Juventude, Dayane Iglesias, é um exemplo. A docente usa suas aulas para discutir com os alunos os impactos que as notícias falsas possuem no dia a dia e, especialmente, no mundo dos negócios.

“As pessoas em geral não são mais apenas consumidoras e sim produtoras. Elas também participam do processo de criação, por isso ganham um volume muito grande e muito rápido”, afirma a Dayane.

Esse conteúdo que se mostra muito mais interessante do que as demais notícias também é objeto de estudo da professora do Instituto de Psicologia da USP, Leila Tardivo.

Segundo ela, para compreender o motivo dessa situação é necessário compreender o que leva as pessoas a compartilharem conteúdos sem checar a procedência.

“O que nós observamos é que varia do nível social e econômico, mas todo mundo está exposto. Muitas vezes as pessoas compartilham por uma questão de autoestima, para que os outros pensem que ela é mais bem informada. Ou ainda, pode ser pura questão de popularidade dentro das redes sociais”, conclui Tardivo.