Unesp é primeira parceira da Wikipedia no Brasil

Universidades do Exterior já ajudam a melhorar conteúdo da ‘enciclopédia livre'

qui, 09/02/2012 - 14h00 | Do Portal do Governo

Alunos das graduações em Biblioteconomia e Arquivologia do Câmpus de Marília escreveram ou reescreveram em 2011 a definição de onze verbetes da Wikipedia em português. O site funciona como uma enciclopédia digital multilíngue que pode ser consultada livremente e alterada pelos próprios usuários. Os termos reformulados foram indicados em conjunto com a Fundação Wikimedia e estão ligados à disciplina História da Cultura, obrigatória para os dois cursos.

O trabalho dos estudantes é parte de um projeto intitulado Wikimedia Education Program. Por meio dele, instituições de ensino superior ajudam o site a melhorar seu conteúdo, vinculando a tarefa ao currículo da graduação. Graças à equipe de Marília, a Unesp foi a primeira instituição brasileira a cooperar com o site, seguida pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), que participou com dois projetos em 2011. A USP deve aderir ao programa em 2012.

Mais de 50 universidades nos EUA participam do projeto, entre elas a Universidade da Califórnia – Berkeley, a Universidade de Colúmbia e a Universidade de Yale. No Canadá, oito instituições mantêm diferentes programas. A Índia se destaca com três universidades participantes e cerca de 30 embaixadores (líderes de um projeto específico que cuida para que o trabalho seja executado no ritmo e com o padrão de qualidade necessários).

A atividade em Marília é coordenada pela professora Maria José Vicentini Jorente, que pesquisa a Wikipedia e outras ferramentas de difusão de informações da web, como blogs e redes sociais. A função de embaixador foi assumida por Jaider Andrade Ferreira, recém-graduado em Biblioteconomia e, atualmente, aluno de mestrado em Ciências da Informação pela Faculdade de Filosofia e Ciências.

“O embaixador tem que ser alguém que reúne muitas qualidades, o que é extremamente difícil: deve entender linguagens técnicas da internet, como HTML; precisa saber coordenar uma equipe grande, que, no nosso caso, teve sessenta pessoas; e saber lidar com o aspecto humano do trabalho, mediando conflitos entre os colegas”, explica a coordenadora.

Ferreira aproveitou a experiência como ‘embaixador’ para desenvolver um estudo sobre o assunto, que resultou em seu trabalho de conclusão de curso e no projeto inscrito por ele para ingressar no mestrado na Unesp.

Um resumo do trabalho realizado pelos estudantes de Marília com a descrição das inserções da Wikipedia reformuladas por eles pode ser acessado neste link.

Nativos digitais

Inicialmente, o projeto definiu que seriam melhorados 25 verbetes relacionados à História da Cultura porque continham informações incorretas ou incompletas ou simplesmente não existiam na Wikipedia. Para concluir o trabalho, um novo embaixador deve ser preparado.

Segundo a professora, uma dificuldade para expandir a iniciativa é que a tarefa tem que ser feita de forma totalmente voluntária. “Essa questão do voluntariado não está tão bem trabalhada no país, ainda mais quando se trata de trabalhos estafantes, que exigem muito tempo e esforço intelectual”.

Outro desafio apontado por ela é a falta de noções técnicas de internet. “O modelo proposto pela Wikimedia pressupõe um conhecimento de nativos digitais, o que é adequado aos EUA e à Europa, mas ainda não é uma realidade consolidada no Brasil”, diz a professora. Ela explica que embora os jovens brasileiros sejam usuários da web, poucos entendem a linguagem de programação das diferentes plataformas digitais.

Informação livre

Em tempos de polêmicas envolvendo a livre circulação de dados, Maria José Jorente defende que o compartilhamento do conhecimento na internet é uma vocação que deverá se consolidar.

“Não estou falando de pirataria, mas de ambientes como o da Wikipedia que buscam legitimidade na utilização de softwares livres e das informações visíveis e invisíveis para o leigo”, diz. “Esse e outros ambientes do mesmo tipo dão poder aos indivíduos que fazem uso deles, alimentam as democracias, criam sociedades mais justas, culturas mais vibrantes”.

Ela diz que mesmo com os tropeços que fazem parte da modificação de culturas e da criação de novos paradigmas, a visão da informação como uma mercadoria está se modificando.

“Teremos que recriar legislações para que possamos atuar com segurança nesses ambientes. Entretanto, tais legislações devem passar longe daquelas propostas pelas SOPA [Stop Online Piracy Act, em tradução livre, Lei de Combate à Pirataria Online, que pode ser votada nos EUA] e PIPA [Protect IP Act, algo como Lei de Proteção à Propriedade Intelectual, que também tramita no senado americano]”.

A professora afirma que equipes multidisciplinares terão que fazer um esforço para administrar o que ela chama de “segundo momento da curva de auto-organização” que da web. “A sociedade ocidental precisa desenvolver mecanismos para que essa cultura do compartilhamento possa ser vivenciada de forma justa e beneficie um grande número de pessoas”.

Da Unesp