Tratamento de fibromialgia complementado por acupuntura mostra-se mais eficaz

É a conclusão da tese defendida na Faculdade de Medicina da USP

qua, 03/10/2007 - 9h18 | Do Portal do Governo

Um tratamento complementar de acupuntura a cada três meses melhora consideravelmente a saúde de doentes de fibromialgia, se comparado a pacientes que passam somente pelo tratamento convencional, com medicamentos e fisioterapia. Essa é a conclusão da tese defendida em agosto pela médica Rosa Alves Targino de Araújo, na Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP.

O estudo, que será premiado no Congresso da Sociedade para a Pesquisa em Acupuntura (SAR) em novembro, nos Estados Unidos, mostrou resultados positivos em pacientes de 21 a 71 anos, submetidos a 20 sessões de acupuntura, duas vezes por semana. Os três meses que se seguiram à ultima sessão mostraram-se benéficos. Depois disso, provavelmente seria necessário outro bloco de 20 sessões. Durante dois anos, foram acompanhadas 58 mulheres. Em 34 delas foi aplicada a acupuntura, além da terapia convencional. As 24 restantes fizeram parte do grupo controle.

“Não se encontrou, ainda, um tratamento efetivo e específico para essa síndrome complexa. O que se busca hoje é o alívio sintomático da dor, e como há necessidade de medicamentos antidepressivos, por exemplo, é importante buscar outras terapêuticas apropriadas, que cheguem à sua origem para melhora dos sintomas e da qualidade de vida”, comenta Rosa. Segundo a médica, a literatura científica fala da eficácia da acupuntura para reduzir os efeitos da síndrome. “Na tese, concluo que a associação da acupuntura ao tratamento convencional, com antidepressivos e exercícios, é benéfica para doentes com fibromialgia no período de três meses após o término do tratamento, bem como melhora a dor e a qualidade de vida”.

Resultados

Durante o pós-tratamento, 10 dos 34 pacientes que receberam acupuntura, quase 30%, saíram do critério de diagnóstico de fibromialgia adotado pelo Colégio Americano de Reumatologia. No entanto, apenas um dos 24 submetidos ao tratamento convencional teve este grau de melhora, cerca de 4%. Para fazer a avaliação, a pesquisadora usou variáveis como capacidade funcional, aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos sociais e emocionais.

Depois de três meses, o valor da dor, medido numa escala de 0 a 10, chegou a 5,35 no grupo que recebeu acupuntura, e a média nas demais pacientes foi de 7,85, diferença que é estatisticamente significante. “O Índice Miálgico (IM) também foi melhor para quem recebeu acupuntura”, garante Rosa, referindo-se ao índice que avalia o grau da dor. Quanto menor, mais dor o paciente sente. No grupo que se submeteu às agulhas, atingiu 3,53 após três meses do tratamento, contra 2,84 no grupo padrão. Um ano depois, o IM dos dois grupos se aproximou: chegou a 3,19 e 3,05, respectivamente, sem revelar diferença significativa. “Isso mostra a necessidade de um tratamento a cada três meses”, avalia a médica.

A fibromilagia

A síndrome é caracterizada por uma dor muscular e esquelética que atinge muitas partes do corpo, se apresentando de forma contínua por mais de três meses. Ainda não se sabe os motivos que a desencadeiam. Está associada à perda da qualidade do sono, ansiedade ou depressão, rigidez muscular matinal e disfunção cognitiva – dificuldade de concentração, falar, lembrar e manipular números.

“A dor crônica e a fadiga afetam de modo negativo tanto a qualidade de vida quanto o desempenho da maioria dos doentes com fibromialgia. Quando comparada a outras doenças reumatológicas, apresenta os maiores níveis de dor, incapacidade funcional e estresse psicoafetivo”, explica Rosa. A incidência no Brasil é de 2,5%, sendo que a proporção entre mulheres e homens é de 9:1, ou seja, a cada 10 pacientes, nove são mulheres. É mais comum em pessoas com idade entre 45 e 64 anos.

Laura Lopes

Da Agência USP de Notícias

(I.P.)