Temperaturas baixas podem aumentar risco de mortes por AVC

Financiado pela Fapesp, projeto descobre que fatalidades são maiores em idosos e mulheres nos períodos mais frios

seg, 25/06/2018 - 21h34 | Do Portal do Governo

O número de mortes por acidente vascular cerebral (AVC) pode ser maior com a queda de temperatura. Essa conclusão foi tirada de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Católica de Santos (Unisantos), que registraram a fatalidade principalmente entre a população com mais de 65 anos.

A iniciativa partiu da análise dos dados de estações meteorológicas combinados com os de mortalidade na cidade de São Paulo entre 2002 e 2011. O estudo teve auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

“Nos Estados Unidos, país de clima temperado onde os invernos são gelados, foi estabelecida uma relação entre o aumento na mortalidade por AVC e as máximas e mínimas de temperatura. No caso do Brasil, mesmo entre as populações das regiões Sul e Sudeste, de clima subtropical, ainda não havia sido realizado um estudo semelhante”, afirma o médico Alfésio Luís Ferreira Braga, professor da Unisantos e coautor da pesquisa.

No Brasil, doenças crônicas são responsáveis pela maior parte das mortes entre homens e mulheres, como diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. Quanto a estas últimas, o AVC é a principal causa de morte, sendo responsável por 10% de todas elas.

Metodologia

Por meio da coleta de número do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM), a geógrafa Priscila Venâncio Ikefuti revelou a ocorrência de 55.633 casos de mortalidade por AVC na capital entre o período selecionado. A pesquisa foi coordenada por Ligia Vizeu Barrozo, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

O estudo utilizou a temperatura média, em vez da mínima e máxima. Na capital, durante o período analisado, os termômetros marcaram foi de 21 ºC, variando de 15 ºC a 25 ºC, dependendo da estação do ano. A coleta diária das partículas do ar foi feita nas 14 estações de mediação de poluentes da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) espalhadas pela cidade.

A reunião de todos esses dados permitiu que Ikefuti montasse estatísticas. Os resultados concluíram que temperaturas mais baixas (abaixo de 15 ºC) foram consideradas estatisticamente mais significativas para mortalidade por AVC do que temperaturas mais altas (acima de 22 ºC).

Resultados

Para a geógrafa, durante início do estudo a equipe imaginava que a variabilidade acentuada de temperaturas (tanto para o frio quanto para o calor) apresentaria resultados semelhantes para a ocorrência de mortes por AVC. “Não foi o que ocorreu. No caso do AVC hemorrágico, o frio é um fator muito mais importante, especialmente entre as mulheres”, disse.

O acidente também é mais comum entre os idosos devido à diminuição do metabolismo na terceira idade. Em resposta a mudanças nas temperaturas, os idosos têm menor capacidade de manter a homeostase, ou seja, de regular o metabolismo de modo a manter constantes as condições fisiológicas necessárias à vida.

“Nosso estudo contribui para a compreensão do impacto da temperatura sobre a mortalidade por AVC em um país tropical, onde a temperatura não seria, supostamente, um fator de preocupação para risco de AVC. O trabalho comprovou que, pelo menos na cidade de São Paulo, este não é o caso”, finaliza Braga.