Soldado da PM já auxiliou 14 mulheres em trabalho de parto

Ele é chamado pelos colegas e moradores da Vila Albertina, na zona norte da Capital, de o “Rei do Parto” ou “Soldado Parteiro”

seg, 10/09/2007 - 21h00 | Do Portal do Governo

Em 1986, quando ingressou na Polícia Militar do Estado de São Paulo, o soldado Ailton Tadeu Lamas, 43 anos, não imaginava que a partir dali sua vida ficaria marcada também por uma longa jornada de partos. Ele é chamado pelos colegas e moradores da Vila Albertina, na zona norte da Capital, de o “Rei do Parto” ou “Soldado Parteiro”. No início de 1988, Lamas foi acionado para socorrer uma grávida com contrações e, quando chegou na casa, o bebê já estava nascendo. Foi a primeira vez que ele ajudou uma mulher em trabalho de parto. Desde então, somou 14 em seu currículo.

“Pega a bolsa, pega a luva, aqui, respira, segura do lado parceiro a cabeça da criança… pronto, saiu, está chorando”, descreve as cenas que já vivenciou. Apesar disso, ele não teve a felicidade de acompanhar o nascimento de seus dois filhos, que nasceram em dias que estava de plantão. O filho mais velho, inclusive, nasceu em outubro de 1988, mesmo ano em que ele ajudou a primeira criança a vir ao mundo.

Com o coração disparado, muita dedicação e movimentos atentos, Lamas põe em prática tudo o que aprendeu no Centro de Formação de Soldados da Policia Militar, em Pirituba, que hoje é comandado pelo coronel Paulo César Franco. Aliás, por meio da disciplina de Resgate e Pronto-Socorrismo, instruída pelo capitão Rogério Forner, 38 anos de idade e 20 de profissão, todos os soldados estão aptos a realizar o parto de emergência.

“Somente a saída do líquido da bolsa rompida não é caso de parto emergencial. O socorro especializado deve ser solicitado em caso do aparecimento da cabeça do bebê, caso a mãe esteja apresentando contrações de dois em dois minutos, com duração de 40 segundos cada”, afirma Forner.

De acordo com Lamas, o que dificulta, às vezes, é o local em que as pessoas moram. “No caso da Vila Albertina, onde eu trabalho e também resido, têm muitos morros, favelas, alvenarias, corredores. O espaço físico das casas é ruim, os cômodos são pequenos, aí você tem que subir em cima da cama. Além disso, os locais são escuros, mas, é assim mesmo que eu encaro numa boa. Devido a prática já adquirida é só respirar fundo, contar um, dois, três e vem!”.

Conhecido em toda região norte, o PM diz que muita gente elogia a equipe da 3ª Companhia do 43º BPM/M, comandada pelo capitão Ricardo de Freitas Villalva, 41, por estar sempre de prontidão em todos os aspectos. O Estado, inclusive, forneceu para ele uma bolsa de primeiros socorros, que Lamas guarda no seu armário e faz questão de conferir, todos os dias, durante cerca de 20 minutos.

“Lembro que desde criança, em todas as minhas redações da escola, eu sempre escrevia que seria policial, esse era meu sonho. Quando entrei na polícia voltei lá na escola, encostei a viatura no portão, corri na sala de aula todo fardado, para mostrar à professora o distintivo no meu braço”.

Embora jamais tenha pensado em seguir no ramo da medicina, o “Rei do Parto” tem muita história na área para contar. Dentre as experiências profissionais, o PM recorda, com muita aflição, do medo que sentiu ao chegar num parto de emergência e ver apenas um ombro do bebê do lado de fora. Graças às técnicas de conhecimento do soldado, acabou dando tudo certo.

“Em partos com complicações, não se deve transportar ou permitir o transporte da mãe, caso apareça um braço, o cordão umbilical ou a perna do bebê. É necessário que a mulher fique deitada do lado esquerdo do corpo”, explica o capitão Forner. Ele diz ainda que, caso a cabeça da criança nasça envolta do cordão umbilical, é necessário retirá-lo da face e colocá-lo na nuca. “Separe sempre toalhas ou lençóis limpos e, se possível, luvas limpas (de procedimentos). Não permita acúmulo de pessoas no local”, orienta.

“Uma vez que um homem veio até a companhia pedir uma viatura, dizendo que a cabeça da criança já estava saindo e que não tinha dinheiro para levar a mulher de táxi até o hospital. Antes do nascimento, a mãe pediu uma sugestão de nome para o bebê. Na mesma época a esposa do cabo Dorival Francisco Camargo, 41 anos, (parceiro de viatura) também estava grávida e ele disse que sua filha se chamaria Isabela. Nasceu uma menina que recebeu o mesmo nome. Para vocês terem uma idéia, naquele dia o frio estava tão violento e na casa não tinha um lençol para arrumar a criança. No dia seguinte foi levado um monte de roupa para a mãe e o bebê e, uma semana depois, quando lá voltamos, eles já tinham mudado. Há quatro meses eu estava na padaria e o pai dela me reconheceu. Hoje Isabela tem seis anos e é uma linda menina”, recorda o PM.

Em 2003, o soldado auxiliou o parto de número 14º. Hoje, com e sorriso nos lábios, ele lembra que no mesmo dia e espaço de tempo, três viaturas receberam e auxiliaram no nascimento de três bebês. Em um deles, mais uma vez, por ironia do destino, lá estavam o cabo Camargo e Lamas.

Apesar de tudo que já viveu na carreira, o “Soldado e Parteiro” tem um sonho. “Nenhuma criança chegou a nascer dentro da viatura. Essa é uma realização profissional que ainda não tive, será um prazer”, revela o soldado.

Dalila Penteado

Da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Segurança Pública

(R.A.)