Setor farmacêutico lidera número de patentes vigentes na Unicamp

Pesquisadores e docentes da Universidade Estadual de Campinas têm mais de 12% dos pedidos de proteção ligados à área

qui, 23/08/2018 - 19h04 | Do Portal do Governo

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é reconhecida no ambiente acadêmico como instituição de referência na inovação tecnológica em diversas áreas do conhecimento. No portfólio vasto de patentes, o setor farmacêutico desponta na liderança nos números da instituição.

Segundo dados do departamento de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, ao todo, são 979 tecnologias protegidas vigentes (tecnicamente conhecidas como: famílias de patentes). Elas se desdobram em 1.121 patentes vigentes no portfólio da universidade, entre depósitos no Brasil, via Tratado de Cooperação de Patentes (PCT), e no Exterior.

Vale destacar que, 122 famílias são do domínio farmacêutico (12,4%), 100 de medição (10,2%) e 88 de engenharia química (8,98%), que ocupam, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugar no ranking dos domínios tecnológicos da Unicamp.

Produtividade

De acordo com a diretora de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, Patrícia Leal Gestic, a maior produtividade nesse campo de estudo ocorre porque pesquisadores e docentes têm mais conhecimento dos trâmites de patentes, em razão da agressividade do setor e da busca permanente por inovações.

“A Unicamp apresenta uma alta produtividade em diversas áreas. O ponto é que o setor farmacêutico, tradicionalmente, recebe investimentos altíssimos em pesquisa, tem uma concorrência acirrada e a estratégia de propriedade intelectual é imprescindível tanto para se resguardar quanto para se manter à frente. Essa é uma visão difundida e clara para o mercado e a academia”, avalia.

A Sindusfarma, entidade associativa do setor industrial farmacêutico no Estado de São Paulo, enfatiza que o mercado brasileiro de medicamentos movimentou mais de R$ 54 bilhões entre agosto de 2016 e agosto de 2017. Esse valor representa crescimento de 12,58% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Faturamento

O mercado brasileiro equivale a 2,4% do mercado mundial, sendo o Brasil o 8º em faturamento no ranking das vinte principais economias. Na avaliação do professor Carlos Roque Duarte Correia, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, o destaque do setor Farmacêutico também tem relação com as oportunidades de inovação que a área oferece.

“O setor farmacêutico brasileiro ainda é pouco competitivo em termos internacionais. Há grandes demandas em quase tudo o que se refere à saúde pública. Em particular, há uma enorme necessidade de medicamentos e fármacos para nossas doenças endêmicas. Isso certamente atrai a atenção dos pesquisadores que querem estar na fronteira do conhecimento”, afirma.

“A área demanda constantemente novos desenvolvimentos, incluindo novas formulações e princípio ativos mais eficientes”, explica o docente do IQ Marcelo Ganzarolli de Oliveira, que teve uma patente concedida em 2017. “Portanto, é muito importante que o pesquisador, quando chega ao desenvolvimento de uma nova tecnologia, tome as providências para patenteá-la, para que essa invenção tenha chance de se tornar um produto que traga benefícios para a área da saúde e um retorno financeiro para a própria universidade, após o licenciamento”, afirma.

Parcerias

Algumas tecnologias carregam uma peculiaridade entre as patentes desse domínio tecnológico: a interdisciplinaridade. São vários os exemplos existentes no portfólio de patentes da Unicamp de tecnologias que foram desenvolvidas em parceria entre pesquisadores e docentes de unidades diferentes.

“Essa é uma tendência. Produtos altamente tecnológicos envolvem muitas áreas do conhecimento para que possam ser, efetivamente, robustos. Isso é resultado de grandes ideias”, lembra Patrícia Leal Gestic.

É o que reforça o professor Carlos Roque Duarte Correia, responsável por duas tecnologias da área farmacêutica concedidas no ano passado. “A grande maioria das pesquisas de impacto tem demonstrado a enorme relevância da interdisciplinaridade. Isso se deve à crescente complexidade no desenvolvimento de pesquisas de ponta, nas quais encontramos situações que exigem a experiência de profissionais em outras áreas. A criação de grupos de pesquisa interdisciplinares é uma tendência positiva nos dias de hoje”, reforça.

Nesse panorama, o professor Marcelo Lancellotti, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, desenvolveu a vacina anti-zika, com patente depositada no ano passado. Trabalhando em conjunto com a Rede Zika, criada com o objetivo de estabelecer um plano para combater o vírus, o professor desenvolveu a tecnologia que dispensa o uso da técnica de DNA recombinante e usa nanotecnologia como foco principal. A eficácia foi comprovada em testes in vivo.

“Essa rede é um grande exemplo de trabalho multidisciplinar, envolvendo pelo menos quatro institutos e 32 grupos de pesquisa da Unicamp”, destaca o docente, que lembra a contribuição da Unicamp na aplicação de conhecimento na parte tecnológica.

“Hoje, a tendência é pesquisa científica e tecnológica caminhando juntas e colaborando. Proteger a tecnologia não diz respeito apenas a resguardar seu direito sobre ela. É preciso olhar lá na frente, para o mercado. Esse é um caminho inevitável. A produção científica precisa dar ganhos também para a sociedade”, finaliza.