Serra apresenta saídas para caos aéreo | Governo do Estado de São Paulo

Atualizada às 19h50

Em reunião com o Ministro da Defesa Nelson Jobim, na tarde desta sexta-feira, 27, no Palácio dos Bandeirantes, o governador José Serra apresentou um pacote de alternativas para por fim à crise no sistema aéreo brasileiro.

A primeira iniciativa a tomar, de curto prazo, segundo o governador, é transferir os vôos de Congonhas para os aeroportos internacionais de Viracopos, em Campinas, e Cumbica, em Garulhos. “É sobre esses aeroportos que devem ser concentrados e acelerados os investimentos de expansão e adequação nos próximos anos”, afirma José Serra em documento distribuído à imprensa logo ao final da reunião.

Na visão do governador, não é aceitável o plano da Infraero de entregar um novo terminal em Guarulhos apenas em 2012. Serra diz que o principal obstáculo apontado a essa ampliação, a ocupação de áreas por moradias, “pode ser resolvido de forma rápida e eficaz”. Para sair do papel, devem colaborar tanto o Governo do Estado como a prefeitura de Guarulhos e o Governo Federal.

O aeroporto de Viracopos é, segundo o governador, o que tem maiores possibilidades de expansão de serviços a curto prazo. Ele também é o de maior potencial a longo prazo. “No limite, pode chegar a 70 milhões de passageiros por ano, mais que o dobro do que hoje movimentam Congonhas e Guarulhos somados”, avalia Serra.

Trens expressos

Um dos maiores atrativos do aeroporto de Congonhas é sua proximidade com o centro da Capital. Desviar vôos para cidades da região metropolitana de São Paulo requer, portanto, melhores acessos. Segundo Serra, o acesso a Garulhos e Viracopos pode ser consideravelmente melhorado a médio prazo.

“O Governo do Estado está disposto a avançar no projeto do trem para Guarulhos, que aproveitará linhas já existentes ou áreas a elas contíguas, num esquema de PPP (Parceria Público-Privada), que conte também com participação do governo federal”, destacou o governador.

A implantação do sistema Expresso Aeroporto e Trem de Guarulhos (Linha G e Linha F) custaria R$ 3,4 bilhões, cabendo ao Governo Federal R$ 580 milhões, ao Estado (incluindo financiamento da Linha F e Ramal G), R$ 1,5 bilhão. Caberia à iniciativa privada R$ 1,32 bilhão. “Se tudo andasse depressa, esta obra poderia ficar pronta em 2010”, destacou.

Viracopos tem como opção o Expresso Bandeirantes, obra que demandaria mais tempo, exigiria uma PPP e forte participação federal, segundo Serra. Para tanto, já há um projeto em estudo. “A médio prazo, deveria ser construída uma pista rodoviária expressa que comunique a área do aeroporto com a rodovia dos Bandeirantes”. No futuro, caso fosse necessário, o governador sugere seu prolongamento até São Paulo.

Campo de Marte e Congonhas

Serra descartou a possibilidade do emprego do aeroporto Campo de Marte como alternativa de pousos e decolagens na Capital. O motivo é simples: a área é tão urbanizada quanto a de Congonhas, na região sul da cidade. “Mas há outros aeroportos com bom potencial para vôos domésticos, como o do Guarujá, de São José dos Campos, de Sorocaba e de Jundiaí”, sugeriu o governador.

Durante a reunião com o Ministro Nelson Jobim, o governador fez questão de lembrar que o aeroporto de Congonhas está saturado e recebe um número de passageiros 50% acima de sua capacidade. Além disso, recebe aviões de grande porte, lembrou Serra, incompatíveis com as condições de segurança do seu entorno.

A solução, disse o governador, é pensar na construção de uma área de escape em Congonhas. “Não para permitir ampliar o aeroporto ou intensificar o tráfego aéreo na região, mas para aumentar a segurança dos vôos que lá permaneçam”.

Coletiva

Na entrevista coletiva que se seguiu à reunião, Serra afirmou: “Espero que o Ministro Jobim, que é um homem preparado, possa oferecer soluções para esses problemas que atingem a segurança da população brasileira e o transporte de passageiros”.

Já o Ministro da Defesa afirmou que as reivindicações do governador José Serra serão analisadas na próxima reunião do Conac, agendada para segunda-feira, 30. Jobim frisou que as medidas propostas pelo governador tirariam de Congonhas sete milhões de passageiros por ano, redistribuindo-os entre Viracopos e Guarulhos. Outra medida analisada pelo governo federal, segundo Jobim, é transformar o aeroporto de Jundiaí num centro destinado a receber exclusivamente aeronaves da aviação civil.

IML

Jobim comentou também sobre sua visita ao Instituto Médico Legal horas antes do encontro com o governador José Serra. “No IML vi uma extraordinária competência dos funcionários que atuam lá. Está se dando um tratamento humano aos corpos”, elogiou o ministro, que foi acompanhado na visita pelo Secretário Estadual da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão.

Lá, mais de 250 especialistas fazem o reconhecimento das vítimas do acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido na terça-feira, 17, em Congonhas. Até o início da noite de hoje, quando a Secretaria divulgou mais um boletim, o número de vítimas identificadas chegava a 95.

Conduzido pelo superintendente da Polícia Técnico-Científica, Celso Perioli, o ministro conheceu todos os setores do Instituto onde são realizadas as identificações. O primeiro foi o auditório onde estão os pertences das vítimas, resgatados no local do acidente pelos bombeiros.

Em seguida, Jobim e Marzagão se reuniram na sala da diretoria, onde foi apresentado um resumo do trabalho realizado e a metodologia empregada na identificação das vítimas. O Ministro desejou bom trabalho aos profissionais do Instituto.

Jobim visitou ainda o departamento de Antropologia Forense, onde são confrontadas todas as informações obtidas nas análises; o setor de fotografias, onde há imagens dos corpos; e o necrotério.

Reunião

Da reunião no Palácio dos Bandeirantes, que se estendeu de 15h30 até 18h, participaram o Secretário Estadual de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão; o Secretário Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Antônio Marrey; o Vice-Governador e Secretário Estadual do Desenvolvimento, Alberto Goldman; o Secretário Estadual do Meio Ambiente, Francisco Graziano; o Secretário Estadual de Economia e Planejamento, Francisco Luna; e o Secretário Adjunto dos Transportes Metropolitanos, João Paulo de Jesus Lopes.

Também estiveram no Bandeirantes o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito; o presidente da Fiesp, Paulo Skaf; o presidente do Sebrae, Alencar Burti; o conselheiro do IPT, Paulo Cunha; o professor da USP especialista em aviação, Nicolau Fares Gualda; e o prefeito da Capital, Gilberto Kassab.