Projeto do HC eleva expectativa de vida de 71 para 100 anos

Tabalho abrange atuação multidisciplinar nas práticas médicas com vistas à vida saudável

ter, 02/10/2007 - 11h20 | Do Portal do Governo

Josefa pára um pouco para pensar se Nícolas, de um ano e sete meses, já monta frases. “Não, acho que não. Ele fala assim: mamãe, bola”, responde à médica, que não poupa detalhes em seus questionamentos. Dos hábitos alimentares ao ambiente familiar, passando pelas atividades diárias, a médica residente Juliana Alfano anota tudo o que diz respeito à vida da criança, enquanto orienta a mãe sobre como agir.

A passagem faz parte de uma consulta do Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa, no Butantã. Embora mais longo do que os convencionais, o atendimento ao pequeno Nícolas é o padrão no local. É assim desde janeiro do ano passado, quando a equipe da unidade, que pertence à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pôs em prática um novo projeto de atendimento pediátrico, realizado em parceria com o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.

Ele visa ao aumento da qualidade de vida das crianças, por meio de uma atuação mais abrangente e multidisciplinar nas práticas médicas e, como conseqüência, ao prolongamento da expectativa de vida delas dos atuais 71 para 100 anos. Mas a ação não se resume ao monitoramento de um grupo de crianças para viver um século. Na verdade, trata-se de um novo modelo de pediatria, aplicado no Centro de Saúde em todas as consultas, para promover o bem-estar presente e, associado a medidas de prevenção, uma vida adulta de qualidade.

Até agora, cerca de mil crianças já foram atendidas. Além do próprio Butantã, na zona oeste da capital, os pacientes vêm de bairros próximos ao centro de saúde, como a favela San Remo. Uma das preocupações do projeto é identificar o modelo familiar desses pacientes. Segundo a coordenadora do trabalho, Ana Maria Escobar, ele foi desenvolvido sob o novo conceito de saúde, que tem como parâmetro o bem-estar biopsicossocial. “Até uns anos atrás, considerava-se apenas se a pessoa não estava doente para determinar que tinha saúde”, explica.

A médica informa que, pelo novo conceito, pessoas que vivem em condições de risco social, por exemplo, embora não apresentem sintomas físicos, não têm saúde. Por isso, a atuação parte do levantamento de uma ampla gama de informações. “Temos em vista o estilo de vida saudável e a estimulação dos pacientes”, afirma. “Com isso, acreditamos que possam viver 100 anos, com qualidade de vida.”

Metodologia – Por meio de questionário chamado familiograma, aplicado logo na primeira consulta, são acompanhados os mais variados aspectos da vida da criança. São cerca de 1.200 itens, que abordam desde o período da gestação, o desenvolvimento motor, antecedentes familiares de doenças e hábitos alimentares, até o cotidiano da família, ambiente escolar (quando é o caso), estilo de vida, as condições da moradia, entre outros. São dados que abrangem três gerações de vínculo com o paciente. “A investigação leva em conta os fatores de risco biológicos, psicossociais e ambientais”, resume a pediatra Filumena Gomes.

O acompanhamento segue individualizado, incluindo, muitas vezes, visitas às casas dos pacientes. A formulação dos procedimentos em cada caso envolve o estudo propriamente dito. A equipe, composta, além de médicos, por psicólogos, dentistas, geriatras e assistentes sociais, entre outros profissionais, analisa cada caso periodicamente e define em conjunto as terapias a serem adotadas para o melhor desenvolvimento infantil. Se necessário, promovem intervenções de orientação, com prévia autorização dos responsáveis, no lar, na escola ou na comunidade da criança em questão.

Doenças hereditárias, como hipertensão e diabetes, uma vez identificadas na família, são monitoradas para a prevenção de seu aparecimento na vida adulta. Nesses casos, os aspectos que cercam esses quadros clínicos, como hábitos alimentares, estilo de vida e atividade física desde a infância, passam a ser fundamentais. “Todo o nosso projeto é baseado em oferecer condições para que eles vivam o máximo possível e com qualidade de vida”, argumenta Ana Maria.

Simone de Marco

Da Agência Imprensa Oficial